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LIXO PAULISTA
Empresário mineiro do lixo diz que "sistema" impede acesso à capital paulista e que foi abordado para desistir de licitação
SP está fechado para nós, diz empreiteiro
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A RIBEIRÃO
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
As investigações do Ministério
Público de Ribeirão Preto (SP) sobre a coleta de lixo na região indicam que empresas de outros Estados que tentavam participar de licitações públicas em São Paulo
eram abordadas por executivos
da empresa Leão Leão para desistir das concorrências ou fazer
acordos com a empresa sobre
preços e propostas.
A Leão Leão é a maior empresa
do ramo na região, com faturamento anual de R$ 200 milhões.
Um de seus ex-executivos sob investigação é Rogério Tadeu Buratti, secretário de Antonio Palocci Filho (Fazenda) na sua primeira
gestão na Prefeitura de Ribeirão
Preto (93-96). Outro executivo,
Wilney Barquete, também foi secretário municipal de Palocci.
Localizado ontem pela Folha,
pelo telefone, em Belo Horizonte
(MG), um dos empresários que
teve conversas gravadas durante a
investigação, Múcio de Castro
Maia, diretor e sócio da empresa
Consita Ltda., afirmou que a Leão
Leão queria que ele desistisse de
participar de uma licitação da
Prefeitura de Sertãozinho (SP), de
R$ 22,5 milhões.
A Consita tem 3.000 funcionários e opera na coleta de lixo em
20 cidades mineiras. Maia disse
que não conseguiu participar da
licitação da Prefeitura de São Paulo, mas culpou "o sistema":
Folha - As investigações do Ministério Público de Ribeirão Preto
identificaram conversas entre o sr.
e representantes da Leão Leão.
Múcio Castro Maia - O que acontece é que ela [Leão Leão] é uma
empresa que mexe com lixo igualmente à nossa. Nós entramos naquela concorrência de Sertãozinho. Então houve algumas ligações de um diretor deles, cujo nome não estou me recordando
agora, mas posso lembrar, deixa
eu ver, acho que acho o cartão dele aqui... Marcelo Franzine.
Folha - Certo.
Maia - Então o que eu posso dizer pra você é que o único contato
que tive com aquele moço. Então
evidentemente pediu, deu aqueles
mil argumentos, de que a sede deles parece que é naquela região
etc. e pedindo pra gente não entrar [em Sertãozinho], vamos dizer assim. Então a coisa foi mais
ou menos assim. Como você chegou ao meu nome?
Folha - Pelas investigações do Ministério Público e da Polícia Civil.
Maia - Não tenho nada a esconder. Minha empresa é uma empresa de 32 anos pagando impostos e não tem nada a ver com essa
confusão aí. E eu não entro nesse
negócio de São Paulo. Mesmo
porque eles não deixam entrar.
Folha - Eles? A Leão Leão?
Maia - O sistema não deixa. Para
você ter uma idéia, tratando-se da
maior empresa de Minas, nós não
conseguimos ser habilitados a
participar da licitação do lixo da
cidade de São Paulo. Essa grande,
que está na mídia de vocês.
Folha - Na de Sertãozinho...
Maia - Nós não entramos. Porque também não tínhamos todos
os atestados. Na verdade, eles exigem, eles se cercam de exigências
tais que fica difícil para uma firma
de fora poder entrar.
Folha - As conversas de Frazine
lhe pareceram estranhas...
Maia - Não, isso não é muito estranho, não. É pedindo preferência. Que "eles estão aí", e que "têm
compromissos" etc. E aí você vê o
seguinte, a gente não pode sair
brigando pra tudo quanto é lado.
Folha - Ele...
Maia - Ele simplesmente fez um
apelo a mim, e eu me reuni com
os companheiros aqui, meus sócios, e chegamos à conclusão de
que não íamos entrar, não convinha entrar e não entramos.
Folha - Na transcrição o sr. diz:
"Nós temos aquela combinação
que eu evidentemente mantenho".
Maia - Essa combinação ele queria dizer o seguinte: na hora em
que houvesse um caso similar, em
que eu estivesse perto... Por exemplo, a licitação em Belo Horizonte,
em outras cidades, eu trabalho em
20 e poucas cidades. Então quando tivesse isso, ele também não
entraria. Bastava eu me manifestar que era interesse nosso que ele
poderia trocar esse favor. É uma
relação comercial que existe entre
empresas e dentro desse espírito.
Ele não me impediu, mesmo porque não tinha condições de me
impedir de entrar. Eu é que avaliei
com meus companheiros aqui
que não valia a pena.
Folha - No fundo, o sr. teve que
fazer o que ele pediu.
Maia - Seria dar tiro na água. Você há de convir que nossa empresa tem contas a pagar todo mês e
não pode gastar sem ter uma previsão de faturamento. Eu achei
que era uma luta difícil, que não
valia a pena. Eu nunca tive nenhum negócio com a Leão Leão.
Folha - Voltando à licitação de
São Paulo. Por que motivo o sr. não
conseguiu entrar na licitação?
Maia - Não consegui porque as
exigências eram grandes e minha
empresa não tinha... Eu posso até
te adiantar o que é. Em São Paulo
tem meia dúzia ou pouco mais
que isso de aterros autorizados.
Esse aterros, a maioria, são particulares. Um dos documentos exigidos para a pré-qualificação é
que você tivesse uma declaração
do proprietário do acordo que receberia o seu resíduo. E isso aí, se
você raciocinar, que é por volta de
meia dúzia, e todos eles com interesse na Prefeitura de São Paulo,
fica difícil você conseguir uma
coisa dessas, uma firma, contrariando a vontade da maioria.
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