São Paulo, quinta, 24 de setembro de 1998

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DISCURSO PRESIDENCIAL
Empresários e economistas ouvidos pela Folha comentam a fala de FHC sobre a crise financeira
Alta de imposto sofre crítica generalizada


da Sucursal do Rio

Empresários e economistas ouvidos pela Folha reagiram de forma diversa ao discurso de Fernando Henrique Cardoso. Há consenso de que medidas duras são necessárias e sobram críticas ao eventual aumento de imposto.
"O presidente recuperou o tom positivo e forte que tinha no início do governo, assumindo que enfrentará as corporações e o déficit público", afirmou Horácio Lafer Piva, presidente eleito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
A posição de Piva é acompanhada pelo presidente do conselho de administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, e pelo ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega.
Já o economista Paulo Yokota afirmou que o presidente foi muito mais genérico do que o momento permite. "A situação é séria. Continuamos perdendo reservas e as medidas que o governo tomou até agora não são suficientes. Ele não falou nada de novo."
"O presidente está ganhando tempo. Faltam sete dias úteis para as eleições, mas, ao mesmo tempo, ele está sinalizando que virão medidas duras", avaliou Furlan.
"O recado mais duro que o presidente já deu no sentido de que não dá mais para usar disfarces para mascarar os problemas criados pela Constituição", frisou Mailson. "Não é possível gravar mais a sociedade. A carga de impostos já passou de 25% do PIB para 31% do PIB. Já estamos sufocados", afirmou Piva.
O presidente interino da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Arthur João Donato, também criticou o eventual aumento. "É uma preocupação do empresariado, que não receberá com "fair play' (sem críticas) um aumento de impostos", disse Donato.
"O fato de o presidente anunciar que o governo pode vir a ser obrigado a discutir o aumento de impostos, não significa que os impostos vão subir. Entendo que o presidente fará o possível para defender o Brasil com o menor sacrifício possível", diz Edmundo Klotz, presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação).
Roberto Faldini, diretor do departamento de economia da Fiesp, diz que o discurso mostrou que o Brasil tem soluções para enfrentar a crise, "mas que são soluções que precisam ter o apoio da sociedade. Ninguém gosta de aumento de impostos".
Para Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, associação que reúne a indústria de brinquedos, o presidente anunciou ontem o que ele vai fazer.
"Os impostos de pessoas jurídicas e físicas vão subir e o acordo com o FMI (Fundo Monetário Nacional) vai sair. O Natal será o mais cristão dos últimos tempos. O consumidor vai passar em casa rezando para que o dia seguinte seja melhor", ironizou.
Boris Tabacof, presidente da Bracelpa (Associação Brasileira de Papel e Celulose), diz que não é hora de criticar ou não a alta de impostos, mas de apoiar uma profunda reforma tributária.
Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (federação das concessionárias de veículos), diz que FHC decidiu antecipar medidas que deverá adotar logo após as eleições para enfrentar a crise econômica.
"Ele não quer que digam depois que somente falou sobre cortar gastos e aumentar impostos após as eleições", disse Reze.
Já para o sócio-diretor da agência de classificação de risco SR Rating, Paulo Rabelo de Castro, a afirmação do presidente deixa os empresários desconfiados com relação aos aumentos de impostos.



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