São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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NO AR

O articulador

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Num dia, o presidente petista José Dirceu aparece dizendo que "quem manda" no partido é ele. Era para desautorizar especulações sobre ministério e outras.
Em outro dia, como na entrevista à Bandeirantes, ele garante que não será o "homem forte" de um eventual governo Lula, até porque em administrações democráticas, afinal, não existe tal "figura".
Enquanto o presidente do PT despista, vai se desenhando em nível federal o que se viu acontecer em São Paulo.
Na cidade, José Dirceu responde pelo nome de Rui Falcão. É o "articulador" -a expressão usada pelo presidente petista para descrever a si mesmo, na Band, qualquer que seja o cargo que venha a assumir.
Em São Paulo, enquanto Rui Falcão articula, Marta Suplicy dá as diretrizes e o espetáculo para as câmeras.
Era o que Lula fazia ontem, "emocionado", em Fortaleza. Falou em buscar o "impossível", no Jornal Nacional, disse que não tem o direito de "falhar", mas também não prometeu "milagres" para os servidores, por exemplo.
Eles terão que se acertar com o articulador.
 
Também como aconteceu em São Paulo, os tucanos querem endurecer -e polarizar- com os petistas na Câmara, no caso, dos Deputados. Foi assim que, na cidade, tiraram voto conservador do malufismo.
Até o governador eleito Aécio Neves já fala abertamente em "oposição", com estocadas leves na oposição que o próprio PT fez ao seu PSDB.
Aécio e outros tucanos tiraram a diretriz em reunião com FHC. Jutahy Magalhães saiu dizendo que vai bater chapa com o PT pela presidência da Câmara. Para tanto, quer um "blocão", na expressão usada por outro tucano da reunião, Siqueira Campos.
Em resumo, para polarizar com os petistas e não correr risco de extinção, os tucanos federais dependem, mais do que nunca, dos peemedebistas.
 
Na verdade, um e outro, PT e PSDB, ameaçam oferecer a mesma coisa ao PMDB: o poder no Congresso. Era o que fazia o líder petista João Paulo, ontem nos telejornais.
O que está pendente é o que fará o PMDB em sua conhecida divisão de governistas e oposicionistas. Os primeiros se encontraram ontem -e o presidente da legenda, Michel Temer, saiu escorregando.
Não se declarou governo nem oposição, nem no momento nem no futuro.
Está à espera das eleições nos Estados, que podem decidir a balança no partido. No dizer de Franklin Martins, o que se vê é "luta dura nos Estados".



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