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FOLCLORE POLÍTICO
Fato e versão
RONALDO COSTA COUTO
Luís Vaz de Camões (1524?-1580): "O fraco rei faz fraca a
forte gente".
O ar da graça
Minas, final dos anos 40. Depois
daquelas duas horas de carro de
Divinópolis para Belo Horizonte,
o formal e ameno governador
Milton Campos e o santo e severo
bispo dom Cabral nunca mais se
olharam do mesmo jeito. Junto,
espremido entre eles no banco
traseiro, o simpático e divertido
prefeito de Divinópolis, Alvimar
Mourão. Muito frio, vidros levantados. Problema: o prefeito acaba
de derrotar renitente revolução
intestinal, mas restam gases. O
ambiente a bordo fica quase irrespirável. Alvimar cochicha com o
governador: "Xii! O nosso bispo
não está nada bem".
Depois sopra no ouvido de dom
Cabral: "O nosso governador está
indisposto, tadinho".
A profecia
Juram que é verdade. Araxá,
Minas, início dos anos 60. O jovem e supersticioso deputado maranhense José Sarney e os jornalistas Otto Lara Resende e José
Aparecido de Oliveira acompanham o amigo e presidenciável
José de Magalhães Pinto, governador de Minas, numa visita à
célebre vidente Maria do Correio.
Perguntam se Magalhães será
presidente. Ela diz que ele não,
mas Sarney, sim. A velhinha confundiu os dois, concluíram todos.
Economistas
Implicam muito com os economistas. Falam que o primeiro foi
Colombo: quando saiu, não sabia
aonde ia; quando chegou, não sabia onde estava, e tudo por conta
do governo. E que no Brasil reunião com tema único de três deles
costuma produzir quatro ou cinco opiniões definitivas.
Para JK são criaturas admiráveis, que tudo resolvem no papel,
com números e gráficos, e não
usam a linguagem comum dos
mortais. "Alguns cultivam orquídeas nas nuvens", dizia.
Mestre Roberto Campos assistiu
à conferência de julho de 1944 em
Bretton Woods. Voltou feliz para
sempre com a criação do FMI e
tudo o mais. Só estranhou o tiroteio contra os colegas economistas
da delegação inglesa, os astros
John Maynard Keynes, Denis Robertson e Lionel Robbins. Keynes
seria demasiado inteligente para
ser coerente; Robertson, demasiado coerente para ser inteligente, e
Robbins nem inteligente nem coerente.
RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor,
doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna
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