São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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FOLCLORE POLÍTICO

Fato e versão

RONALDO COSTA COUTO

Luís Vaz de Camões (1524?-1580): "O fraco rei faz fraca a forte gente".

O ar da graça
Minas, final dos anos 40. Depois daquelas duas horas de carro de Divinópolis para Belo Horizonte, o formal e ameno governador Milton Campos e o santo e severo bispo dom Cabral nunca mais se olharam do mesmo jeito. Junto, espremido entre eles no banco traseiro, o simpático e divertido prefeito de Divinópolis, Alvimar Mourão. Muito frio, vidros levantados. Problema: o prefeito acaba de derrotar renitente revolução intestinal, mas restam gases. O ambiente a bordo fica quase irrespirável. Alvimar cochicha com o governador: "Xii! O nosso bispo não está nada bem".
Depois sopra no ouvido de dom Cabral: "O nosso governador está indisposto, tadinho".

A profecia
Juram que é verdade. Araxá, Minas, início dos anos 60. O jovem e supersticioso deputado maranhense José Sarney e os jornalistas Otto Lara Resende e José Aparecido de Oliveira acompanham o amigo e presidenciável José de Magalhães Pinto, governador de Minas, numa visita à célebre vidente Maria do Correio. Perguntam se Magalhães será presidente. Ela diz que ele não, mas Sarney, sim. A velhinha confundiu os dois, concluíram todos.

Economistas
Implicam muito com os economistas. Falam que o primeiro foi Colombo: quando saiu, não sabia aonde ia; quando chegou, não sabia onde estava, e tudo por conta do governo. E que no Brasil reunião com tema único de três deles costuma produzir quatro ou cinco opiniões definitivas.
Para JK são criaturas admiráveis, que tudo resolvem no papel, com números e gráficos, e não usam a linguagem comum dos mortais. "Alguns cultivam orquídeas nas nuvens", dizia.
Mestre Roberto Campos assistiu à conferência de julho de 1944 em Bretton Woods. Voltou feliz para sempre com a criação do FMI e tudo o mais. Só estranhou o tiroteio contra os colegas economistas da delegação inglesa, os astros John Maynard Keynes, Denis Robertson e Lionel Robbins. Keynes seria demasiado inteligente para ser coerente; Robertson, demasiado coerente para ser inteligente, e Robbins nem inteligente nem coerente.


RONALDO COSTA COUTO, 59, escritor, doutor em história pela Sorbonne, escreve às quintas-feiras nesta coluna



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