São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Planejamento terá mais status que Fazenda, com PT

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, avisou a assessores diretos que, no seu eventual governo, o Ministério do Planejamento terá mais status do que o Ministério da Fazenda. Um ditará os rumos estratégicos, e o outro será o executor.
O nome mais cotado para o Planejamento é o do prefeito licenciado de Ribeirão Preto, Antônio Palocci Filho, apontado no núcleo duro do esquema de Lula como "a grande revelação da campanha". Ele também é lembrado para uma outra pasta que o candidato trata com especial atenção: o Ministério do Desenvolvimento.
A intenção de Lula é enviar um sinal às bases do PT, aos aliados e sobretudo aos empresários que o apóiam de que seu eventual governo tratará com rigor da questão fiscal, mas privilegiando o desenvolvimento do país.
A questão resgata, de certa forma, uma das mais acirradas discussões havidas ao longo do governo FHC: entre os "desenvolvimentistas" e os "monetaristas".
No primeiro caso, figurava o próprio adversário de Lula, José Serra, do PSDB, que foi ministro do Planejamento no primeiro mandato. No segundo caso, o ministro Pedro Malan, da Fazenda. Serra e os "desenvolvimentistas" perderam a guerra. O equilíbrio fiscal ditou o eixo da política econômica, os juros dispararam.
Conforme a Folha ouviu no comitê de Lula em São Paulo, o possível governo petista não pretende puramente repetir o discurso de Serra e dos "desenvolvimentistas" do governo FHC, como os ex-ministros Sérgio Motta, morto em 98, e Luiz Carlos Mendonça de Barros, que caiu depois das fitas gravadas à época das privatizações das telecomunicações.
Na visão de assessores de Lula, Serra, Motta e Mendonça de Barros defendiam equilíbrio fiscal com políticas industriais e de exportação para gerar crescimento. O objetivo petista é concentrar esforços em políticas industriais, exportações, infra-estrutura e programas sociais que gerem mercado para daí criar condições melhores para o equilíbrio fiscal.
É o que os assessores classificam de "sustentabilidade da economia". Sem compromisso de curto e médio prazo, por exemplo, com a queda de juros.
De acordo com um deles, a intenção não é abandonar a linha do atual governo, mas "transitar" a partir dessa base herdada para uma nova política econômica. Já é um discurso de paz, uma espécie de bandeira branca, para FHC e o atual governo.

Destaque
Para compor esse mosaico, Lula ouviu sobretudo Palocci, que entrou no comando da campanha substituindo Celso Daniel, o prefeito assassinado de Santo André (SP), e hoje é um dos dois nomes considerados mais fortes junto a Lula. O médico se transformou num especialista em contas públicas, administração e desenvolvimento. E surpreendeu como o principal contato com a área empresarial. Foi ele, por exemplo, quem manteve os primeiros contatos com Eugênio Staub (Gradiente), um dos apoios mais comemorados da campanha.
Foi também Palocci quem manteve contato com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, quando este foi à TV falar do medo do mercado diante da vitória de Lula. Agora, tanto pode ficar no Planejamento, mais voltado para o programa estratégico do eventual futuro governo, ou no Desenvolvimento, um ministério "para fora", para estimular as indústrias, a exportação, o crescimento e o emprego.


Texto Anterior: CNBB quer priorizar combate à fome
Próximo Texto: Petista deve alterar fundos de pensão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.