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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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Violência segue riqueza, aponta estudo

DA ENVIADA A CAXAMBU

A violência está se deslocando das capitais do país e segue a rota da riqueza, principalmente no caminho da expansão do agronegócio, observou o coordenador do núcleo de violência da USP (Universidade de São Paulo), Sérgio Adorno, em debate sobre a vulnerabilidade das metrópoles brasileiras realizado ontem no encontro anual da Anpocs.
Além do fenômeno do deslocamento dos crimes violentos para o interior, Adorno chamou a atenção para a impunidade -um dos sintomas mais evidentes da dificuldade do Estado para combater a violência.
Ao pesquisar 344 mil boletins de ocorrência policial numa região de São Paulo com população de aproximadamente 1,4 milhão de pessoas, Adorno verificou que só 6,46% dos registros de crimes foram transformados em inquéritos policiais entre 1991 e 1997.
Supondo que parte dos inquéritos foi arquivada e só uma parcela dos que seguiram adiante terminou em condenação, Adorno concluiu que apenas 2% dos crimes cometidos no período receberam algum tipo de punição. O relatório da primeira fase da pesquisa, desenvolvida nos últimos três anos, será publicado no mês que vem. Ele faz parte de um projeto maior sobre a impunidade.
Embora a pobreza deixe os grupos sociais mais vulneráveis à violência, é no caminho da riqueza que ela se desloca, afirmou o pesquisador. Ele citou o caso de Campinas, que registrou em 1997 um índice maior de homicídios do que a cidade de São Paulo, onde a taxa tende a se estabilizar, acompanhando o que aconteceu no Rio de Janeiro.
Segundo Sérgio Adorno, o processo de desenvolvimento de cidades vem sendo acompanhado pelo deslocamento do crime organizado para as regiões metropolitanas e para o interior. "O crime encontra ambiente propício onde há riqueza, se instala, forma um mercado consumidor local [de drogas] e vai parar até nas licitações públicas, porque precisa lavar dinheiro", teorizou.


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