São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO CELSO DANIEL

Gilberto Carvalho, assessor do presidente, será confrontado a irmãos de prefeito assassinado

Acareação sobre Celso Daniel deixa Planalto no foco de CPI

EDUARDO SCOLESE
PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

No momento em que esbanja bom humor em eventos públicos e demostra enxergar um arrefecimento na crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará uma semana de depoimentos e acareação no Congresso que podem atingi-lo direta ou indiretamente.
A atenção do Palácio do Planalto está voltada justamente para a CPI dos Bingos, dominada pela oposição e rotulada pelo próprio presidente como a comissão do "fim do mundo". Segundo o governo, a CPI fugiu de seu foco de criação para investigar gestões do PT em prefeituras como as de Ribeirão Preto e Santo André.
Na quarta-feira, no Senado, haverá uma acareação entre Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete de Lula, e Bruno e João Francisco Daniel, irmãos de Celso Daniel (PT), prefeito assassinado de Santo André. Eles acusam Carvalho de participação num suposto esquema de arrecadação de propina na cidade para o caixa nacional do PT, o que, segundo o Ministério Público de São Paulo, tem ligações com o seqüestro e a morte de Daniel, em janeiro de 2002.
Secretário de Governo de Santo André na gestão de Daniel, Carvalho nega as acusações e diz ter recebido o apoio de Lula para a acareação (leia texto nesta página).
Apesar das articulações do Planalto e de senadores da base aliada, a acareação deve ser aberta e transmitida ao vivo para todo o país. Trata-se da chance da oposição de ligar o Palácio do Planalto com o caso Santo André, até hoje motivo de turbulência por conta das dúvidas em torno do assassinato do prefeito.
"Se mentiu, vai ser desmascarado. O que está em jogo é o nascedouro do mensalão. Finalmente vai ficar claro se o Gilberto Carvalho é o sacerdote ou o satanás", disse o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), numa referência à atuação religiosa do chefe-de-gabinete no passado.
A CPI dos Bingos deve definir também nesta semana a data do depoimento ex-tesoureiro petista e atual presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, que diz ter pago empréstimo de R$ 29,4 mil de Lula com o PT. A oposição afirma que o dinheiro para quitar o empréstimo pode ter vindo de empresas do empresário Marcos Valério de Souza, suposto operador do "mensalão".
Diante da empolgação de tucanos e pefelistas, o Planalto promete arregaçar as mangas. Depois de terem ameaçado ir ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a CPI dos Bingos, os governistas querem pelo menos fechar as portas da acareação, decisão que caberá ao presidente da comissão, senador Efraim Morais (PFL-PB).
Além disso, Planalto e parlamentares da base prometem investir na conexão de Valério com o presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG).
Amanhã a CPI dos Bingos ouvirá o juiz federal afastado João Carlos da Rocha Mattos, preso sob acusação de venda de decisões judiciais. Em recente entrevista à revista "Veja", ele disse que o chefe-de-gabinete de Lula interferiu na investigação do caso Celso Daniel.

Dirceu
Nesta semana o Conselho de Ética da Câmara promete votar o relatório do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) que pede a cassação do deputado e ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. "De quarta-feira não passa", disse o presidente da comissão, deputado Ricardo Izar (PTB-SP).
Petistas tentarão derrubar a sessão, para dar mais um dia de prazo a Dirceu, mas os oposicionistas já se articularam para ter o número mínimo de parlamentares amanhã.


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