São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2005

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HERZOG - 30 ANOS

Serra e Alckmin ressaltam reação ao assassinato do jornalista

Sobel e Arns voltam à Sé para lembrar Herzog 30 anos depois

Daniel Kfouri/Folha Imagem
Ato multirreligioso em memória dos 30 anos da morte de Vladimir Herzog, na catedral da Sé, em SP


RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO

Trinta anos depois da missa em homenagem a Vladimir Herzog que serviu como protesto contra o regime militar, a catedral da Sé, em São Paulo, voltou a receber representantes de várias religiões para celebrar a memória do jornalista assassinado no Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna) em 25 de outubro de 1975.
Em 1975, o rabino Henry Sobel e o cardeal dom Paulo Evaristo Arns celebraram, ao lado do reverendo James Wrigh (já morto), a missa convocada pelo então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Audálio Dantas. Ontem, os três também estiveram presentes na cerimônia.
"É fundamental que se relembre que o momento que estamos revivendo hoje mudou o destino do país. A partir do culto de 1975, com três confissões, houve um despertar da consciência nacional", disse Dantas.
O ato multirreligioso de ontem foi ainda mais aberto à diversidade: além de dom Paulo e de Sobel, fizeram suas preces líderes de 17 outras crenças.
O arcebispo emérito de São Paulo fez um apelo para que a morte de Herzog não tenha sido em vão: "Construamos a paz, a justiça, a verdade, e então Vlado não terá morrido em vão".
Já Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista, firmou o compromisso de nunca mais silenciar diante de violações dos direitos humanos. "Assumimos hoje o compromisso de nunca mais calar-nos, pois o silêncio é o mais grave dos pecados."
O ato começou com um "abraço" à catedral. Cerca de 400 pessoas, entre cantores do Fórum Coral Mundial e transeuntes, deram as mãos e fizeram uma roda em volta da igreja. Juntas, cantaram "Eli, Eli", um canto da tradição judaica, religião de Herzog.
O momento mais emocionante da cerimônia foi quando a viúva de Herzog, Clarice, leu um poema escrito por dom Hélder Câmara, arcebispo emérito de Olinda (PE), morto em 1999. Na missa de 1975, dom Hélder esteve presente, mas não pôde falar, por medo da repressão do regime militar.
Com a voz embargada, Clarice leu as palavras escritas por dom Hélder: "Não me deixes carregar um ramo seco, inútil e morto, quando a razão de meu vôo é levar a meus irmãos ramo cheio de vida, anunciador da paz".
Presentes à cerimônia, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra, ambos do PSDB, ressaltaram a importância da mobilização causada pela morte de Herzog para o país.
"O significado desta reunião hoje é rememorar o momento, que, com o sacrifício de Vladimir Herzog, representou o ponto decisivo na restauração da liberdade e do respeito aos direitos humanos no Brasil", disse Serra.
Para Alckmin, "a catedral da Sé viveu, há trinta anos, uma indignação santa, que acabou mudando o Brasil". "A morte do Vlado Herzog causou tal impacto que acabou levando a uma abertura maior e à democracia", disse.
O deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), que esteve na missa de 1975, disse que estar ontem na Sé trazia "uma sensação de que a luta valeu a pena". "É bom relembrar que de lá para cá nós construímos muita coisa, para que isso nunca mais possa acontecer."


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