São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2005

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Mindlin lembra pressões para afastar Herzog

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o telefonema que recebeu, nos EUA, num domingo, com a notícia da morte de Vladimir Herzog, ocorrida na véspera no Doi-Codi, em São Paulo, o então secretário de Cultura, José Mindlin, 91, nunca teve dúvidas de que o jornalista foi assassinado.
Mindlin relembra as pressões que sofreu -às quais resistiu- para afastar Herzog da direção do Departamento de Jornalismo da TV Cultura, vinculada à sua secretaria. Segundo ele, uma das queixas do SNI (Serviço Nacional de Informações) em relação a Herzog era que o jornalista dava mais ênfase, no noticiário de atentados no mundo, às mortes de terroristas, praticamente ignorando as de policiais.
Mindlin lembra conversa com o coronel Paiva, chefe do SNI em São Paulo, a quem Herzog foi submetido a uma consulta por telefone.
"Ele me disse que o Vlado era mal orientado, pois, no dia da posse, a TV Cultura exibiu um documentário sobre Ho Chi Min [líder vietnamita]. Respondi que já devia se tratar de assunto decidido antes da posse, independentemente do Vlado."
"Sugeri", diz Mindlin, "um encontro dele [coronel Paiva] com o Vlado. E que lhe desse a orientação que considerasse adequada. Se ele não cumprisse, eu poderia concordar com a demissão."
Quando Herzog foi preso, Mindlin estava num seminário nos EUA, e não descarta a possibilidade de que Herzog tivesse sido morto para atingi-lo. "Os jornalistas presos me disseram, depois, que a tônica dos interrogatórios era a minha ligação com o Partido Comunista. O que nunca houve", disse.


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