São Paulo, sábado, 24 de outubro de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
Integrantes do MST em Alagoas teriam matado outro líder local; Polícia Civil diz que um confessou
Sem-terra são presos acusados de morte

da Agência Folha

A Polícia Civil de Alagoas prendeu anteontem à noite José Alves da Silva Neto e Zezito Manoel dos Santos, respectivamente ex-presidente e presidente da Associação do Assentamento Fazenda Samba, em Maragogi (AL), acusados do assassinato de Francisco Mendonça Dias, outro líder local.
O assassinato aconteceu no último domingo. Dias foi morto por três tiros de espingarda durante o banho. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) alagoano não havia se pronunciado sobre o caso até o início da noite de ontem.
Para a polícia, Dias teria sido morto por ter feito denúncias de corrupção na gestão das verbas da associação, usadas de forma cooperativada pelos assentados.
O delegado responsável pelo caso, José Ailton Cavalcante, afirmou ontem que Silva confessou ter atirado em Dias. Segundo o delegado, Silva afirmou que fez o "serviço" a pedido do presidente da associação, Zezito Santos.
"Apesar de Zezito negar que tenha encomendado a morte de Dias, o crime está esclarecido. Há outras testemunhas, além do Silva, que afirmam que ele fez os disparos", afirmou o delegado.
A Agência Folha não foi autorizada a falar com os acuados e não localizou nenhum representante legal deles.
O coordenador do MST em Alagoas, Marco Antônio da Silva, também não foi localizado.
O coordenador estaria em Maragogi (120 km ao norte de Maceió) visitando as 150 famílias de sem-terra do movimento que invadiram na madrugada de ontem, no município, a fazenda Quidaban, de 1.200 hectares.
A fazenda pertence ao ex-delegado da Polícia Civil de Pernambuco João Acioly, que deve entrar na Justiça com pedido de reintegração de posse da área.
Segundo Acioly, a fazenda é produtiva e a área invadida está arrendada por uma destilaria de álcool da região.
Em vigília
O MST do Rio Grande do Norte fará uma vigília, em frente ao Tribunal de Justiça de Natal, a partir da próxima segunda-feira, às 10h.
A vigília é um protesto contra a prisão de dois líderes do movimento no Estado e pela libertação deles. Cerca de cem trabalhadores serão levados de caminhão dos acampamentos e assentamentos do interior para Natal. O protesto não tem prazo para terminar.
Os dois líderes presos são Onar Nunes de Souza, no presídio de Mossoró, e Francisco Antônio Alexandre, na delegacia de Açu.
Souza foi preso sob acusação de invadir a prefeitura de Carnaubais (RN) há cerca de dois meses. O outro líder, Alexandre, está preso sob acusação de saquear um caminhão próximo ao acampamento da fazenda Ubarana, em Ipanguaçu, há pouco mais de um mês.
Eliane Lima, coordenadora estadual do MST, disse ontem que órgãos não-governamentais e movimentos ligados à Igreja Católica devem aderir à vigília.
"É um movimento em solidariedade aos dois companheiros", afirmou, prevendo que pode chegar a 300 o número de pessoas no protesto.
Os dois líderes presos pertencem ao acampamento da fazenda Ubarana, em Ipanguaçu. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) considerou a fazenda produtiva em agosto.
Mas as famílias acampadas não aceitam a avaliação do instituto e permanecem ocupando a área.



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