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TCU vê convênios irregulares de R$ 166 milhões na Funasa
Investigação ainda em curso encontra problemas em todos os 65 convênios auditados
Entre os anos 2000 e 2006, a fundação autorizou mais de R$ 7,2 bilhões em convênios com ONGs e municípios sem o devido meio de controle
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com o controle da terça parte dos investimentos do Ministério da Saúde e orçamento
anual de R$ 4,5 bilhões -maior
do que vários outros ministérios-, a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) registra desvios de dinheiro público em escala milionária.
Relatórios de órgãos de controle não apenas endossam as
declarações do ministro José
Gomes Temporão (Saúde)
-para quem a atuação da fundação é de "baixa qualidade e
corrupta"- como indicam serem tímidas as mudanças negociadas no governo federal.
A mais recente investigação,
ainda em curso no TCU (Tribunal de Contas da União), encontrou irregularidades em todos os 65 convênios auditados,
no valor de R$ 166 milhões,
apurou a Folha. Balanço feito
pela CGU (Controladoria Geral
da União) contabilizou prejuízo de R$ 33,8 milhões nos mais
graves casos de superfaturamento e demais irregularidades identificados nos últimos
três anos.
Nesse mesmo período, a
Operação Metástase, da Polícia
Federal, estimou em mais de
R$ 34 milhões o prejuízo causado aos cofres públicos em
fraudes de licitações para a
compra de medicamentos e a
contratação de obras e táxi aéreo da Funasa.
Quatro meses antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encaminhar ao Congresso
projeto de lei que retira a saúde
indígena da Funasa, pivô da
crise com o PMDB, o plenário
do TCU referendava a seguinte
conclusão: "A extensão e a gravidade dos problemas apontam
para a necessidade urgente de
mudanças de rumos e adequação estratégica, tática e operacional da Funasa".
Questionado sobre a extensão nas mudanças na fundação,
o ministro Temporão se esquivou da polêmica que o confrontou com seu partido, o PMDB.
O presidente da Funasa, Danilo
Forte, é uma indicação da bancada da sigla na Câmara.
A assessoria do ministro disse que ele vem defendendo mudanças na Funasa "justamente
para qualificar as ações do órgão". Por meio da assessoria,
Temporão afirmou ainda que
lideranças do partido concordaram em que "deve haver mudanças".
"Ineficiência"
A área de saúde indígena, que
está para ser transferida da Funasa para uma secretaria do
Ministério da Saúde, responde
apenas pela quarta parte do orçamento da Funasa. É três vezes maior o volume de verbas
públicas que a fundação destina a programas de saneamento
em municípios com até 50 mil
habitantes. As obras de saneamento integram o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a carteira de investimentos prioritários do governo
Lula neste segundo mandato.
Segundo auditorias de órgãos
de controle, as irregularidades
não estão restritas à área de
saúde indígena, onde a falta de
controle e a ineficiência aparecem nos custos dos atendimentos, que variam quase 2.000%:
de R$ 71 a R$ 1.440 por índio.
Na área de saneamento, os
índices de desempenho são
ainda piores, segundo relatórios do TCU. Em geral, os custos da máquina da Funasa mostram-se exagerados. A média
do indicador de gasto administrativo foi de R$ 1,83 para cada
R$ 1 que chegou ao destino final, no período entre 2004 e
2006.
Entre os estímulos à fraude
que os auditores encontraram
na rotina da Funasa está a prática de manter o repasse de recursos a instituições conveniadas que não tiveram a prestação de contas aprovada. Entre
2000 e 2006, a fundação liberou mais de R$ 7,2 bilhões em
convênios com organizações
não-governamentais e municípios sem o devido controle.
Entre os contratos, um dos
mais polêmicos foi fechado em
2006, para a criação de uma rede interna de TV. O contrato foi
anulado pelo TCU, que tenta
agora reaver R$ 6,5 milhões.
"Esse é um típico contrato de
gestão da Funasa. A fundação é
problemática e não há como
negar isso", observou Marinus
Marsico, procurador do Ministério Público junto ao tribunal.
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