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CRISE
Presidente diz estar "inconformado' com desfecho da divulgação de "conversas obtidas por escuta criminosa'
Pressão política derruba assessores de FHC
da Sucursal de Brasília
Os irmãos José
Roberto e Luiz
Carlos Mendonça de Barros e
André Lara Resende deixaram
o governo com
um discurso resumido em nota divulgada por José Roberto: por não aceitarem a
utilização com "evidentes fins comerciais e políticos" das conversas
feitas em "escuta criminosa".
Os pedidos de demissão dos três
assessores foram anunciados oficialmente na manhã de ontem, em
nota distribuída pelo Planalto às
7h30. Eles reuniram-se com FHC,
no Palácio do Alvorada, na noite
de domingo, das 19h às 23h45.
A crise política gerada com a divulgação das conversas grampeadas durante o processo de privatização do Sistema Telebrás foi o
principal motivo para a queda de
quatro assessores do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Na noite de domingo, Fernando
Henrique aceitou a demissão do
ministro Luiz Carlos Mendonça de
Barros (Comunicações), de seu irmão, José Roberto Mendonça de
Barros (secretário-executivo da
Câmara de Comércio Exterior), e
de André Lara Resende (presidente do BNDES). Ontem, Pio Borges
(vice-presidente do BNDES) também pediu demissão.
A tentativa do presidente de
mantê-los no governo, depois do
depoimento do ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros ao Senado, quinta-feira passada, durou
pouco mais de 72 horas.
Ao final do depoimento no Senado, os três já tinham colocado os
cargos à disposição.
A base governista (PMDB, PFL,
PPB e PTB), à exceção dos tucanos,
criticou o ministro e recomendou
que ele renunciasse ao cargo.
Na noite de domingo, segundo a
nota do Planalto, os três "reafirmaram seus pedidos de demissão", o
presidente fez "apelos" para que
permanecessem no governo, mas
FHC "teve de ceder à decisão dos
seus colaboradores".
²
FHC "inconformado"
No último dos três parágrafos da
nota, FHC classificou o comportamento deles de "absolutamente
idôneo" e se disse "inconformado"
com os "desdobramentos ocorridos a partir da divulgação de conversas telefônicas obtidas por meio
de escuta criminosa".
Ontem, o ministro demissionário das Comunicações fugiu dos
jornalistas que amanheceram em
frente à sua casa em Brasília.
O ministro demissionário Luiz
Carlos Mendonça de Barros chegou a aparecer na sacada do apartamento funcional onde morava,
mas voltou para dentro de casa ao
perceber que estava sendo observado por fotógrafos e cinegrafistas.
²
"Não está bom"
Por volta das 10h30, a sua chefe
de gabinete, Sílvia Lauandos, chegou ao edifício onde mora o ministro demissionário e entrou na garagem com seu carro particular.
Minutos depois, os dois deixaram a garagem e foram direto para
o aeroporto. Às 11h, Luiz Carlos
embarcou para São Paulo.
Por ter o seu nome citado nas
conversas telefônicas grampeadas
e em "solidariedade" ao irmão, o
economista José Roberto Mendonça de Barros disse ontem que
deixou a chefia da Camex (Câmara
de Comércio Exterior) porque "o
que não está bom para o Luiz Carlos não está bom para mim".
Em uma das conversas grampeadas, José Roberto Mendonça de
Barros discute com o ministro demissionário a formação dos consórcios que participariam do leilão
de privatização do Sistema Telebrás.
Ele disse ontem que a estruturação da Câmara de Comércio Exterior está "praticamente concluída". Sua missão era dobrar o volume de exportações brasileiras nos
próximos quatro anos.
²
"Indignação"
Em nota de duas páginas, divulgada no meio da tarde de ontem,
José Roberto Mendonça de Barros
resumiu os motivos de sua saída.
"Sou tomado pelo mesmo sentimento de indignação e, solidário,
sinto-me na obrigação de segui-los."
Numa referência aos métodos
adotados pelo ministro e irmão à
frente das Comunicações, José Roberto afirmou que "desenvolvimento é algo construído, inclusive
por meio de novos caminhos. Espero que não estejamos nos atrasando".
No depoimento no Senado, realizado na quinta-feira passada, Luiz
Carlos Mendonça de Barros considerou legítimo o seu empenho em
conversar, negociar e influenciar
na formação de consórcios que se
estruturavam para disputar a compra das teles.
Na opinião de Luiz Carlos Mendonça de Barros, o ato foi legítimo,
uma vez que se tratava de um leilão
de privatização (venda de patrimônio público) e não de uma mera
compra dentro da Lei das Licitações.
"Nunca houve uma única vírgula
fora do lugar (durante o processo
de privatização). Não é aceitável,
pois, que conversas telefônicas obtidas por meio de escuta criminosa
e editadas de maneira tendenciosa
sejam extensamente utilizadas
com evidentes fins comerciais e
políticos", afirmou José Roberto
Mendonça de Barros.
Para o ex-secretário da Camex
tudo foi divulgado de "maneira
tendenciosa".
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