São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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CRISE
Presidente diz estar "inconformado' com desfecho da divulgação de "conversas obtidas por escuta criminosa'
Pressão política derruba assessores de FHC

da Sucursal de Brasília


Os irmãos José Roberto e Luiz Carlos Mendonça de Barros e André Lara Resende deixaram o governo com um discurso resumido em nota divulgada por José Roberto: por não aceitarem a utilização com "evidentes fins comerciais e políticos" das conversas feitas em "escuta criminosa".
Os pedidos de demissão dos três assessores foram anunciados oficialmente na manhã de ontem, em nota distribuída pelo Planalto às 7h30. Eles reuniram-se com FHC, no Palácio do Alvorada, na noite de domingo, das 19h às 23h45.
A crise política gerada com a divulgação das conversas grampeadas durante o processo de privatização do Sistema Telebrás foi o principal motivo para a queda de quatro assessores do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na noite de domingo, Fernando Henrique aceitou a demissão do ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações), de seu irmão, José Roberto Mendonça de Barros (secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior), e de André Lara Resende (presidente do BNDES). Ontem, Pio Borges (vice-presidente do BNDES) também pediu demissão.
A tentativa do presidente de mantê-los no governo, depois do depoimento do ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros ao Senado, quinta-feira passada, durou pouco mais de 72 horas.
Ao final do depoimento no Senado, os três já tinham colocado os cargos à disposição.
A base governista (PMDB, PFL, PPB e PTB), à exceção dos tucanos, criticou o ministro e recomendou que ele renunciasse ao cargo.
Na noite de domingo, segundo a nota do Planalto, os três "reafirmaram seus pedidos de demissão", o presidente fez "apelos" para que permanecessem no governo, mas FHC "teve de ceder à decisão dos seus colaboradores".
²
FHC "inconformado"
No último dos três parágrafos da nota, FHC classificou o comportamento deles de "absolutamente idôneo" e se disse "inconformado" com os "desdobramentos ocorridos a partir da divulgação de conversas telefônicas obtidas por meio de escuta criminosa".
Ontem, o ministro demissionário das Comunicações fugiu dos jornalistas que amanheceram em frente à sua casa em Brasília.
O ministro demissionário Luiz Carlos Mendonça de Barros chegou a aparecer na sacada do apartamento funcional onde morava, mas voltou para dentro de casa ao perceber que estava sendo observado por fotógrafos e cinegrafistas.
² "Não está bom"
Por volta das 10h30, a sua chefe de gabinete, Sílvia Lauandos, chegou ao edifício onde mora o ministro demissionário e entrou na garagem com seu carro particular.
Minutos depois, os dois deixaram a garagem e foram direto para o aeroporto. Às 11h, Luiz Carlos embarcou para São Paulo.
Por ter o seu nome citado nas conversas telefônicas grampeadas e em "solidariedade" ao irmão, o economista José Roberto Mendonça de Barros disse ontem que deixou a chefia da Camex (Câmara de Comércio Exterior) porque "o que não está bom para o Luiz Carlos não está bom para mim".
Em uma das conversas grampeadas, José Roberto Mendonça de Barros discute com o ministro demissionário a formação dos consórcios que participariam do leilão de privatização do Sistema Telebrás.
Ele disse ontem que a estruturação da Câmara de Comércio Exterior está "praticamente concluída". Sua missão era dobrar o volume de exportações brasileiras nos próximos quatro anos.
² "Indignação"
Em nota de duas páginas, divulgada no meio da tarde de ontem, José Roberto Mendonça de Barros resumiu os motivos de sua saída. "Sou tomado pelo mesmo sentimento de indignação e, solidário, sinto-me na obrigação de segui-los."
Numa referência aos métodos adotados pelo ministro e irmão à frente das Comunicações, José Roberto afirmou que "desenvolvimento é algo construído, inclusive por meio de novos caminhos. Espero que não estejamos nos atrasando".
No depoimento no Senado, realizado na quinta-feira passada, Luiz Carlos Mendonça de Barros considerou legítimo o seu empenho em conversar, negociar e influenciar na formação de consórcios que se estruturavam para disputar a compra das teles.
Na opinião de Luiz Carlos Mendonça de Barros, o ato foi legítimo, uma vez que se tratava de um leilão de privatização (venda de patrimônio público) e não de uma mera compra dentro da Lei das Licitações.
"Nunca houve uma única vírgula fora do lugar (durante o processo de privatização). Não é aceitável, pois, que conversas telefônicas obtidas por meio de escuta criminosa e editadas de maneira tendenciosa sejam extensamente utilizadas com evidentes fins comerciais e políticos", afirmou José Roberto Mendonça de Barros.
Para o ex-secretário da Camex tudo foi divulgado de "maneira tendenciosa".



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