São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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Trio participou da implantação do Real

do Banco de Dados

A queda de Luiz Carlos Mendonça de Barros, seu irmão José Roberto e André Lara Resende simboliza a perda de influência de um grupo de economistas que, desde o governo Sarney (85-90), tem sido decisivo para os rumos da economia brasileira.
Eles estiveram na origem ou ajudaram a implantar dois dos três principais planos de estabilização econômica lançados após a redemocratização -o Cruzado, em 86, e o Real, nas gestões Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.
Também compõem esse grupo outros economistas que fizeram parte da equipe econômica que elaborou o Cruzado e passaram pelo governo FHC.
É o caso de Pérsio Arida, Edmar Bacha e Francisco Lopes. Arida foi presidente do Banco Central, e Bacha, do BNDES.
Lopes é o último remanescente -segue como diretor de Política Monetária do BC.
A passagem mais ruidosa pelo governo FHC foi a de Luiz Carlos Mendonça de Barros, 55, engenheiro de produção com doutorado em economia pela Unicamp.
Ocupou dois cargos-chaves. Na presidência do BNDES, geriu o processo de privatização, considerado vital para o sucesso do Real; como ministro das Comunicações, administrou a conclusão da privatização do Sistema Telebrás.
Teve a difícil missão de suceder o ministro Sérgio Motta, que era o principal articulador político de FHC, mas morreu em abril.
Motta tinha um estilo truculento de fazer política. Apesar de seu perfil técnico, Mendonça de Barros tentou manter a temperatura.
Em junho, por exemplo, afirmou que os paulistas deveriam esperar a Telesp ser privatizada para comprar um telefone celular. A declaração lhe rendeu críticas.
Em outubro, viajou para Madri e foi acusado de ter suas despesas pagas pela Telefónica de España, empresa que havia comprado a Telesp fixa e a Telesp Sudeste Celular no leilão de privatização da Telebrás. Saiu desgastado do episódio.
A conclusão da privatização do sistema estatal de telefonia a grande realização de sua gestão à frente do ministério.
Foram arrecadados R$ 22,058 bilhões na venda das 12 empresas em que o Sistema Telebrás foi dividido. Acabou, porém, caindo devido à divulgação de conversas telefônicas grampeadas em que o que estava sendo tratado era exatamente esse leilão.
As gravações levantaram a suspeita de que ele teria favorecido, no leilão, o consórcio liderado pelo banco Opportunity. Um dos controladores do Opportunity é Pérsio Arida, seu amigo e antigo colega no governo Sarney.
Mendonça de Barros foi sócio de André Lara Resende no Matrix, um bem sucedido banco de investimentos. Deixou o banco para entrar no governo.
Lara Resende, que é doutor em economia pelo MIT (Massashusetts Institute of Tecnology), seguiu o mesmo caminho. Em 93 e 94, atuou como negociador da dívida externa brasileira.
Voltou ao governo em setembro de 97, como assessor especial de FHC, com a missão de elaborar um projeto de reforma da Previdência.
Em junho chegou à presidência do BNDES, em substituição a seu amigo Mendonça de Barros.
Estimado por FHC, Lara Resende era um dos auxiliares mais ouvidos pelo presidente. Chegou mesmo a ser cogitado para substituir Malan na Fazenda, caso o ministro confirmasse o desejo de deixar o cargo no segundo governo FHC.
Menos em evidência que seu irmão, José Roberto Mendonça de Barros, 54, que possui pós-doutorado em economia pela Universidade de Yale (EUA), teve uma posição de influência no governo.
Ocupou a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, destacando-se como um auxiliar muito próximo ao presidente.
Em março de 98 foi escolhido como secretário-executivo da Camex (Câmara de Comércio Exterior), criada com o fim de incentivar as exportações brasileiras.



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