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CELSO PINTO
O presidente saiu perdendo
Um dos grandes perdedores
com o episódio da saída dos irmãos Mendonça de Barros e de
André Lara Resende é o presidente Fernando Henrique Cardoso. Os três deveriam ter sido
peças importantes na montagem de seu segundo mandato.
Sem eles, o presidente, que há
tempos reclama da escassez de
quadros para ajudá-lo, fica
ainda mais isolado. Não é por
acaso que o presidente relutou
tanto em aceitar a saída dos
três, na dura conversa de cinco
horas no domingo.
A idéia do Ministério da Produção não foi improvisada.
Veio de um longo processo de
discussão interna, no qual o
próprio Resende participou, de
um redesenho administrativo
para o segundo mandato.
O objetivo era passar a ter
dois focos importantes no governo. Um seria a área financeira. Outro, o Ministério da
Produção, que funcionaria como um coordenador das ações
do governo na área produtiva.
Para isso, traria o BNDES sob
suas asas, mas não o Banco do
Brasil, ao contrário do que chegou a ser publicado.
A intenção era anunciar o
novo ministério apenas no próximo ano, no bojo de uma reorganização administrativa
mais ampla. O ministro chefe
da Casa Civil, Clóvis Carvalho,
por exemplo, defende a transformação do ministério do Planejamento numa simples secretaria, sob sua órbita, encarregada de elaborar o orçamento.
O que precipitou o anúncio
do projeto do Ministério da
Produção foi a crise externa. O
presidente queria contrabalançar as más notícias da recessão
e do desemprego na área econômica, no início do segundo
mandato, com a sinalização de
uma maior ênfase do governo
na área produtiva. Seria a
"agenda positiva", ao lado das
dores do ajustamento.
A reação inicial da Fazenda
ao novo ministério foi ruim. A
notícia tornou-se pública durante a reunião anual do FMI,
em Washington, e foi recebida
como uma espécie de traição,
porque não somava no marketing da austeridade que se vendia ao mundo financeiro. O
ministro Pedro Malan, de outro lado, já declarou mais de
uma vez que é contra políticas
industriais ativas.
A verdade, contudo, é que a
concepção de coordenação de
ações nesta área, inclusive financeira, dos irmãos Mendonça de Barros, está longe do assistencialismo protecionista do
passado. As diferenças de posição não eram tão dramáticas
em relação à Fazenda.
Havia, contudo, várias questões de poder envolvidas. O
Planejamento perdeu seu poder relativo e pode perder até o
status de ministério. A Fazenda, portanto, hoje reina isolada na área econômica, algo
que seria relativizado por um
ministério da Produção forte.
Além disso, obviamente na
área política o ministério não
interessava nem ao PFL nem
ao PMDB. Esta dispersão de
poder também incomodava
outras áreas próximas à presidência.
O novo ministério foi desenhado para Luiz Carlos Mendonça de Barros e não será fácil
substitui-lo. O presidente perdeu opções para criar sua
"agenda positiva" e cabeças
para ajudá-lo a desenhar o segundo mandato. O PFL afastou
uma ameaça política potencial
e viu reforçada a força da Fazenda, com quem se dá muito
bem. O PSDB não ganhou coisa
alguma.
²
PIB cai 4,3%?
O banco americano JP Morgan, o primeiro a prever uma
dura recessão em 99, com queda de 3% no PIB, reviu, para
pior, suas projeções. Imagina,
agora, que a economia vai cair
4,3% no próximo ano, enquanto o desemprego aumentaria
em quatro pontos percentuais
(para 12%).
A razão para o pessimismo
são os últimos resultados da
atividade econômica, piores do
que o esperado. No terceiro trimestre, o PIB caiu 6% em relação ao trimestre anterior, em
bases anualizadas e considerada a sazonalidade. O Morgan
imagina que a queda, nas mesmas bases, será de 9,5% no
quarto trimestre e mais 8% no
primeiro trimestre de 99. Em
termos anuais, o PIB estaria
caindo 6,3% no segundo trimestre de 99.
Esta duríssima recessão, prevê o Morgan, deve levar o governo a rever sua política cambial, com "a bênção" do mercado. Com a política gradual
atual, os juros não poderão
cair abaixo de 20% e a recuperação não virá. Uma alternativa seria flexibilizar a banda,
permitindo uma desvalorização de até 20%.
O impacto imediato seria limitado, mas permitiria uma
retomada do crescimento a
médio prazo. "Desde 1994, a
economia foi contida abaixo
de seu potencial de crescimento
por um rígido constrangimento externo", observa a análise,
assinada por Marcelo Carvalho.
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