São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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CELSO PINTO
O presidente saiu perdendo

Um dos grandes perdedores com o episódio da saída dos irmãos Mendonça de Barros e de André Lara Resende é o presidente Fernando Henrique Cardoso. Os três deveriam ter sido peças importantes na montagem de seu segundo mandato.
Sem eles, o presidente, que há tempos reclama da escassez de quadros para ajudá-lo, fica ainda mais isolado. Não é por acaso que o presidente relutou tanto em aceitar a saída dos três, na dura conversa de cinco horas no domingo.
A idéia do Ministério da Produção não foi improvisada. Veio de um longo processo de discussão interna, no qual o próprio Resende participou, de um redesenho administrativo para o segundo mandato.
O objetivo era passar a ter dois focos importantes no governo. Um seria a área financeira. Outro, o Ministério da Produção, que funcionaria como um coordenador das ações do governo na área produtiva. Para isso, traria o BNDES sob suas asas, mas não o Banco do Brasil, ao contrário do que chegou a ser publicado.
A intenção era anunciar o novo ministério apenas no próximo ano, no bojo de uma reorganização administrativa mais ampla. O ministro chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, por exemplo, defende a transformação do ministério do Planejamento numa simples secretaria, sob sua órbita, encarregada de elaborar o orçamento.
O que precipitou o anúncio do projeto do Ministério da Produção foi a crise externa. O presidente queria contrabalançar as más notícias da recessão e do desemprego na área econômica, no início do segundo mandato, com a sinalização de uma maior ênfase do governo na área produtiva. Seria a "agenda positiva", ao lado das dores do ajustamento.
A reação inicial da Fazenda ao novo ministério foi ruim. A notícia tornou-se pública durante a reunião anual do FMI, em Washington, e foi recebida como uma espécie de traição, porque não somava no marketing da austeridade que se vendia ao mundo financeiro. O ministro Pedro Malan, de outro lado, já declarou mais de uma vez que é contra políticas industriais ativas.
A verdade, contudo, é que a concepção de coordenação de ações nesta área, inclusive financeira, dos irmãos Mendonça de Barros, está longe do assistencialismo protecionista do passado. As diferenças de posição não eram tão dramáticas em relação à Fazenda.
Havia, contudo, várias questões de poder envolvidas. O Planejamento perdeu seu poder relativo e pode perder até o status de ministério. A Fazenda, portanto, hoje reina isolada na área econômica, algo que seria relativizado por um ministério da Produção forte.
Além disso, obviamente na área política o ministério não interessava nem ao PFL nem ao PMDB. Esta dispersão de poder também incomodava outras áreas próximas à presidência.
O novo ministério foi desenhado para Luiz Carlos Mendonça de Barros e não será fácil substitui-lo. O presidente perdeu opções para criar sua "agenda positiva" e cabeças para ajudá-lo a desenhar o segundo mandato. O PFL afastou uma ameaça política potencial e viu reforçada a força da Fazenda, com quem se dá muito bem. O PSDB não ganhou coisa alguma.
² PIB cai 4,3%?
O banco americano JP Morgan, o primeiro a prever uma dura recessão em 99, com queda de 3% no PIB, reviu, para pior, suas projeções. Imagina, agora, que a economia vai cair 4,3% no próximo ano, enquanto o desemprego aumentaria em quatro pontos percentuais (para 12%).
A razão para o pessimismo são os últimos resultados da atividade econômica, piores do que o esperado. No terceiro trimestre, o PIB caiu 6% em relação ao trimestre anterior, em bases anualizadas e considerada a sazonalidade. O Morgan imagina que a queda, nas mesmas bases, será de 9,5% no quarto trimestre e mais 8% no primeiro trimestre de 99. Em termos anuais, o PIB estaria caindo 6,3% no segundo trimestre de 99.
Esta duríssima recessão, prevê o Morgan, deve levar o governo a rever sua política cambial, com "a bênção" do mercado. Com a política gradual atual, os juros não poderão cair abaixo de 20% e a recuperação não virá. Uma alternativa seria flexibilizar a banda, permitindo uma desvalorização de até 20%.
O impacto imediato seria limitado, mas permitiria uma retomada do crescimento a médio prazo. "Desde 1994, a economia foi contida abaixo de seu potencial de crescimento por um rígido constrangimento externo", observa a análise, assinada por Marcelo Carvalho.




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