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CONGRESSO
Recursos são destinados para obras de interesse de parlamentares
Governo distribui R$ 800 milhões e Orçamento passa
RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva aprovou às 22h de ontem no
Congresso o Orçamento 2004,
usando artifício que combatia
quando estava na oposição: R$
700 milhões foram distribuídos
na última hora para obras de interesse de deputados e senadores,
que passaram a madrugada de
ontem disputando os recursos.
Além dos R$ 700 milhões adicionais para investimento nos Estados, outros R$ 100 milhões foram destinados para obras de caráter nacional, o que resultou em
acordo para a votação dos 2.227
destaques (tentativas de modificação do texto) na Comissão Mista de Orçamento e a posterior
aprovação no plenário. O texto
vai à sanção presidencial.
O Orçamento 2004, o primeiro
elaborado pelo governo Lula, foi
relatado pelo deputado Jorge Bittar (PT-RJ) e sai do Congresso
com previsões econômicas mais
otimistas do que as constantes na
proposta original do governo.
O texto trabalha com a perspectiva de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas no país) de 4%
em 2004, contra 3,5% da previsão
original. A taxa de juros básica da
economia (Selic) cairá dos atuais
16,5% para 12,7% em dezembro
de 2004, segundo o relatório. A
proposta original avaliava que a
Selic estaria em 14% em 2004.
Bittar reservou margem para
que o salário mínimo possa ser
reajustado em maio de R$ 240 para até R$ 276, o que daria um reajuste real (descontada a inflação)
de 6,6%. O PT prometeu durante
a campanha eleitoral dobrar o valor real do mínimo, mas o reajuste
dado neste ano não chegou a 2%,
descontada a inflação. Para o funcionalismo federal, o aumento
nominal previsto é de 1,8%. Neste
ano houve 1% linear.
Para investimentos em novas
obras, o relatório reserva R$ 12 bilhões (incluindo os R$ 800 milhões de ontem), valor inferior ao
previsto para este ano, de R$ 14,2
bilhões. O problema é que até o
último dia 12 só 10% desse total
havia sido efetivamente pago.
"Acho que esse Orçamento se
aproxima da cara do governo Lula. Tenho certeza de que em 2004
o governo Lula vai imprimir mais
suas marcas", disse Bittar.
"Este é um Orçamento que não
levará o país a dias melhores. Um
Orçamento triste, magro, que não
olha para a sociedade e não atende aos anseios da população",
afirmou José Carlos Aleluia (BA),
líder do PFL na Câmara.
Apesar de reservar os R$ 800
milhões para a reta final de votação do Orçamento, o governo sofreu várias críticas ontem, inclusive de integrantes da base aliada,
pelo fato de não ter liberado quase
nada das emendas de 2002.
Há algumas semanas, o ministro José Dirceu (Casa Civil) fechou acordo segundo o qual seria
liberado ainda este ano R$ 700
mil, por parlamentar, relativo às
emendas de 2002.
"O governo Lula vai cumprir isso da mesma forma que está cumprindo as promessas de criar 10
milhões de empregos e de dobrar
o valor real do salário mínimo",
ironizou o deputado Alberto
Goldman (PSDB-SP).
A reta final da votação do orçamento teve início anteontem,
quando foi aprovado, depois de
quase 11 horas de sessão, o texto-base do relatório de Bittar.
Até o fechamento desta edição,
a assessoria da comissão não havia divulgado o valor por Estado
da distribuição do dinheiro.
Dados preliminares mostravam
que o Rio de Janeiro -Bittar deve
disputar a prefeitura da capital
em novembro- levou 7,4% do
bolo; São Paulo ficou com 5,3%;
Minas Gerais, com 13,7%; e a Bahia, com 9,4%.
A aprovação ocorreu de forma
simbólica (sem contagem nominal dos votos), com manifestações contrárias do PSDB e do PFL.
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