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Promessa é uma armadilha para 99
da Sucursal de Brasília
Ao prometer demitir ministros
se os partidos da base governista
não garantirem a aprovação de leis
no Congresso Nacional, o presidente Fernando Henrique Cardoso criou uma armadilha para si
próprio.
Essa é a opinião que a Folha coletou com alguns líderes governistas
ontem, que preferem não ter os
seus nomes revelados.
No ano que vem, em 4 de janeiro,
quando o Congresso voltar a funcionar, toda vez que o governo for
derrotado, no Senado ou na Câmara, haverá a expectativa de que
FHC demitirá algum ministro.
Se o presidente cumprir sua promessa e demitir algum ministro
por causa de uma derrota no Congresso, abrirá uma crise entre os
seus aliados. E não conseguirá necessariamente mais apoio parlamentar.
Se, por outro lado, FHC recuar e
não demitir ministros, passará a
imagem de que está enfraquecido.
É muito comum o governo perder uma votação no Congresso
porque seus ministros não se submetem à barganha proposta pelo
Congresso -com parlamentares
sempre pedindo verbas e cargos
para apoiar o governo.
O caso da proposta de aumento
da contribuição previdenciária de
servidores públicos ativos e cobrança de contribuição dos funcionários inativos é um exemplo
de como a nova estratégia anunciada ontem por FHC é de difícil
aplicação.
Naquela votação, em 2 de dezembro, o governo perdeu por ter
recebido apenas 187 votos na Câmara, de um total de 513. Um dos
ministros mais interessados na
aprovação da medida era Waldeck
Ornélas, que é uma indicação política do senador Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA), presidente
do Congresso.
Pois o PFL deu apenas 62 votos
para o governo naquela votação. O
partido tem uma bancada com 111
deputados.
Os 62 votos do PFL representaram apenas 55,86% do que o partido dispõe. Se já estivesse valendo a
regra do "claro que eu demito"
anunciada ontem, Ornélas teria de
perder o seu cargo.
Naquela votação, entretanto, o
PFL acabou sendo um partido que
teve um percentual de votos favoráveis ao governo maior do que todos os outros partidos aliados do
Palácio do Planalto.
O PSDB, partido ao qual o presidente da República está filiado,
deu 50 votos a favor da medida. Esses 50 votos representaram 52,63%
da bancada tucana.
Eis o percentual de fidelidade em
outros três partidos que formalmente deveriam apoiar o governo
naquela votação: 52,17% no PTB,
39,77% no PMDB e 32,47% no
PPB.
Como a maioria dos ministros
desses partidos já estava no cargo e
vai continuar a ocupá-los no ano
que vem, FHC usou sua entrevista
ontem para mandar um recado:
trabalhem no Congresso para
manter os cargos.
Todos os líderes governistas ouvidos ontem pela Folha acreditam
que o presidente terá dificuldade
para cumprir essa promessa em
99.
(FERNANDO RODRIGUES)
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