São Paulo, quinta, 24 de dezembro de 1998

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Promessa é uma armadilha para 99

da Sucursal de Brasília

Ao prometer demitir ministros se os partidos da base governista não garantirem a aprovação de leis no Congresso Nacional, o presidente Fernando Henrique Cardoso criou uma armadilha para si próprio.
Essa é a opinião que a Folha coletou com alguns líderes governistas ontem, que preferem não ter os seus nomes revelados.
No ano que vem, em 4 de janeiro, quando o Congresso voltar a funcionar, toda vez que o governo for derrotado, no Senado ou na Câmara, haverá a expectativa de que FHC demitirá algum ministro.
Se o presidente cumprir sua promessa e demitir algum ministro por causa de uma derrota no Congresso, abrirá uma crise entre os seus aliados. E não conseguirá necessariamente mais apoio parlamentar.
Se, por outro lado, FHC recuar e não demitir ministros, passará a imagem de que está enfraquecido.
É muito comum o governo perder uma votação no Congresso porque seus ministros não se submetem à barganha proposta pelo Congresso -com parlamentares sempre pedindo verbas e cargos para apoiar o governo.
O caso da proposta de aumento da contribuição previdenciária de servidores públicos ativos e cobrança de contribuição dos funcionários inativos é um exemplo de como a nova estratégia anunciada ontem por FHC é de difícil aplicação.
Naquela votação, em 2 de dezembro, o governo perdeu por ter recebido apenas 187 votos na Câmara, de um total de 513. Um dos ministros mais interessados na aprovação da medida era Waldeck Ornélas, que é uma indicação política do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente do Congresso.
Pois o PFL deu apenas 62 votos para o governo naquela votação. O partido tem uma bancada com 111 deputados.
Os 62 votos do PFL representaram apenas 55,86% do que o partido dispõe. Se já estivesse valendo a regra do "claro que eu demito" anunciada ontem, Ornélas teria de perder o seu cargo.
Naquela votação, entretanto, o PFL acabou sendo um partido que teve um percentual de votos favoráveis ao governo maior do que todos os outros partidos aliados do Palácio do Planalto.
O PSDB, partido ao qual o presidente da República está filiado, deu 50 votos a favor da medida. Esses 50 votos representaram 52,63% da bancada tucana.
Eis o percentual de fidelidade em outros três partidos que formalmente deveriam apoiar o governo naquela votação: 52,17% no PTB, 39,77% no PMDB e 32,47% no PPB.
Como a maioria dos ministros desses partidos já estava no cargo e vai continuar a ocupá-los no ano que vem, FHC usou sua entrevista ontem para mandar um recado: trabalhem no Congresso para manter os cargos.
Todos os líderes governistas ouvidos ontem pela Folha acreditam que o presidente terá dificuldade para cumprir essa promessa em 99. (FERNANDO RODRIGUES)



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