São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 1998.



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Disputa no mar começou em 56

especial para a Folha

A novela da aviação naval iniciada na década de 50 seria tragicômica, se não tivesse tido efeitos negativos na capacidade de defesa do país desde então. O início da crise foi a compra pela Marinha do "Minas Gerais" em 1956.
Desde 1941 não havia mais aviação naval. Nesse ano fora criada a FAB, reunindo as aviações do Exército e da Marinha (tanto que o primeiro nome cogitado era "Forças Aéreas Nacionais", no plural; em 22 de maio de 1941 o nome mudou para o mais racional Força Aérea Brasileira).
A Segunda Guerra mostrou que os porta-aviões eram as mais importantes unidades de uma marinha, os "navios capitais". Com a paz, vários dos porta-aviões menores da Marinha Real britânica, de cerca de 20 mil toneladas de deslocamento foram desativados e puderam ser vendidos. Argentina, Brasil, Índia, Canadá, Holanda e Austrália chegaram a operar esse tipo de navio.
Com a vinda do "Minas", os problemas começaram. A FAB queria manter seu monopólio da aviação, e para tanto chegou até a criar o 1º Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE), equipado com aviões anti-submarinos norte-americanos S-2 Tracker (conhecidos como P-16 no Brasil).
O 1º GAE foi criado já em 1957, operando provisoriamente com aviões não-embarcáveis (o bombardeiro americano B-25). Em 1961 o esquadrão recebeu os então modernos P-16. Mas, graças à crise com a Marinha, o primeiro pouso de um avião da FAB a bordo do "Minas" só ocorreu em 22 de junho de 1965.
O xingamento mais irritante que o "Minas" teve de aguentar foi ser chamado de "O Belo Antônio", na década de 60. O apelido foi tirado do filme italiano com esse nome, no qual o personagem vivido por Marcello Mastroianni não conseguia fazer sexo com sua paixão, a atriz Claudia Cardinale.
Como por causa da disputa com a FAB pelo controle da aviação naval o "Minas" ficou um longo período sem aviões, "Belo Antônio" era uma clara alusão a essa impotência.
O casamento forçado entre Marinha e Força Aérea foi obra do general do Exército e presidente da República Humberto de Alencar Castello Branco. Em 65, decidiu-se que só a FAB poderia operar aviões de asa fixa, enquanto a Marinha poderia ter os de asa rotativa (helicópteros).
Os primeiros anos desse casamento forçado mantiveram a animosidade entre as forças. O pessoal da FAB embarcado no "Minas" era conhecido como "praga azul", em menção à cor diferente do uniforme.
A convivência foi melhorando com o tempo. Já na década de 70 era excelente, a ponto de os aviões anti-submarinos serem capazes de operar mesmo à noite, uma das manobras mais difíceis.
Faltava ao navio brasileiro uma aviação de caça e ataque, ao contrário do que ocorria nos navios semelhantes das outras Marinhas. No governo do presidente João Figueiredo (1979-1985) a Marinha tentou comprar Skyhawks da Força Aérea Israelense -mas naquele momento não havia verba nem condições políticas.
É tamanho o desejo da Marinha pelo avião, que chegou-se a encomendar um quadro ao artista Alvaro Martins, mostrando Skyhawks já com as cores da aviação naval -antes da compra. (RBN)



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