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DIRETAS-JÁ, 20
O mineiro Tancredo Neves, que depois seria eleito presidente no Colégio Eleitoral, preferiu não comparecer
Campanha deslanchou após comício da Sé
DA REPORTAGEM LOCAL
DA REDAÇÃO
Faz 20 anos hoje que cerca de
300 mil pessoas se dirigiram à
praça da Sé, no centro de São Paulo, para a maior manifestação política realizada no país até então.
Foi o primeiro dos grandes comícios da campanha das diretas-já.
Poucos políticos ainda em atividade no Congresso participaram
da votação da emenda Dante de
Oliveira na Câmara, em 25 de
abril de 1984, que frustrou a multidão que foi à praça da Sé e mais
de 80% dos brasileiros, conforme
pesquisa realizada na época.
Dos parlamentares ainda presentes no Congresso Nacional, 14
votaram a favor da proposta, e oito, contra. Essa divisão (64% a
36%) corresponde aproximadamente à proporção de deputados
que apoiaram e que não apoiaram
a emenda (62% a 38%), o que sinaliza que aquela votação, hoje, já
não tem grande impacto eleitoral.
A única ausência política importante da oposição no palanque
do comício da praça da Sé foi a do
governador de Minas, Tancredo
Neves (1910-1985). Dizia-se favorável às diretas, mas, na data do
comício, preferiu receber o então
presidente João Baptista Figueiredo (1918-1999) na exposição de
gado de Uberaba (MG).
Ali, Tancredo deixara claro sua
opção de criar espaço no regime
para ser o fiador de uma transição
negociada com as Forças Armadas, caso se confirmasse a derrota
da emenda na Câmara, o que
ocorreria três meses mais tarde.
Mas, naquela quarta-feira, feriado
em comemoração dos 430 anos
de São Paulo, a Sé estava em festa.
Teria sido ali que, pela primeira
vez, alguém gritou "diretas-já",
bordão que se alastrou pelo país.
O principal organizador foi o
então governador de São Paulo,
Franco Montoro. Liberou gratuitamente o transporte por ônibus e
metrô para trazer a multidão à Sé.
Disse a mais célebre frase daquele
comício: "Há pouco me perguntaram quantas pessoas estão nesta
praça. 300 mil? 400 mil? Aqui estão 130 milhões de brasileiros".
Ao ouvir de um orador a defesa
da legalização do PC do B, à época
na clandestinidade, Montoro cobrou do então presidente regional
do PMDB, Fernando Henrique
Cardoso: "Quem está mandando
aqui? Se não tiver ninguém, eu assumo. Assim não dá". Montoro
temia que os militares achassem
uma provocação excessiva a defesa da legalização dos comunistas.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente nacional do PT, estava no
mesmo palanque, e defendeu a
organização de um comício ainda
maior, com 1 milhão de pessoas
-o que ocorreu em 17 de abril.
Um dos últimos oradores a falar
foi o presidente do PMDB, Ulysses Guimarães (1916-1992). "A
Bastilha do Colégio Eleitoral caiu
hoje em São Paulo", disse Ulysses.
Estava errado. Mas não totalmente. O regime militar cairia um ano
e dois meses depois, numa transição liderada por Tancredo Neves.
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