São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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DIRETAS-JÁ, 20

O mineiro Tancredo Neves, que depois seria eleito presidente no Colégio Eleitoral, preferiu não comparecer

Campanha deslanchou após comício da Sé

DA REPORTAGEM LOCAL

DA REDAÇÃO

Faz 20 anos hoje que cerca de 300 mil pessoas se dirigiram à praça da Sé, no centro de São Paulo, para a maior manifestação política realizada no país até então. Foi o primeiro dos grandes comícios da campanha das diretas-já.
Poucos políticos ainda em atividade no Congresso participaram da votação da emenda Dante de Oliveira na Câmara, em 25 de abril de 1984, que frustrou a multidão que foi à praça da Sé e mais de 80% dos brasileiros, conforme pesquisa realizada na época.
Dos parlamentares ainda presentes no Congresso Nacional, 14 votaram a favor da proposta, e oito, contra. Essa divisão (64% a 36%) corresponde aproximadamente à proporção de deputados que apoiaram e que não apoiaram a emenda (62% a 38%), o que sinaliza que aquela votação, hoje, já não tem grande impacto eleitoral.
A única ausência política importante da oposição no palanque do comício da praça da Sé foi a do governador de Minas, Tancredo Neves (1910-1985). Dizia-se favorável às diretas, mas, na data do comício, preferiu receber o então presidente João Baptista Figueiredo (1918-1999) na exposição de gado de Uberaba (MG).
Ali, Tancredo deixara claro sua opção de criar espaço no regime para ser o fiador de uma transição negociada com as Forças Armadas, caso se confirmasse a derrota da emenda na Câmara, o que ocorreria três meses mais tarde. Mas, naquela quarta-feira, feriado em comemoração dos 430 anos de São Paulo, a Sé estava em festa. Teria sido ali que, pela primeira vez, alguém gritou "diretas-já", bordão que se alastrou pelo país.
O principal organizador foi o então governador de São Paulo, Franco Montoro. Liberou gratuitamente o transporte por ônibus e metrô para trazer a multidão à Sé. Disse a mais célebre frase daquele comício: "Há pouco me perguntaram quantas pessoas estão nesta praça. 300 mil? 400 mil? Aqui estão 130 milhões de brasileiros".
Ao ouvir de um orador a defesa da legalização do PC do B, à época na clandestinidade, Montoro cobrou do então presidente regional do PMDB, Fernando Henrique Cardoso: "Quem está mandando aqui? Se não tiver ninguém, eu assumo. Assim não dá". Montoro temia que os militares achassem uma provocação excessiva a defesa da legalização dos comunistas.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente nacional do PT, estava no mesmo palanque, e defendeu a organização de um comício ainda maior, com 1 milhão de pessoas -o que ocorreu em 17 de abril.
Um dos últimos oradores a falar foi o presidente do PMDB, Ulysses Guimarães (1916-1992). "A Bastilha do Colégio Eleitoral caiu hoje em São Paulo", disse Ulysses. Estava errado. Mas não totalmente. O regime militar cairia um ano e dois meses depois, numa transição liderada por Tancredo Neves.



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