São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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OUTRO LADO

"Não falei como advogado"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Quando houve essa conversa, falei não como advogado ou membro do Ministério Público, mas como o amigo de alguém que estava em desespero e que havia cometido um ato bárbaro", diz o subprocurador-geral da República Antônio Augusto Cesar.
"Estou confirmando o telefonema. O fato existiu, não me furto a responder. Mas não vejo nada que tenha a ver com a investigação da Operação Anaconda", diz.
Sobre a orientação que deu para César Herman Rodriguez provocar lesões e simular legítima defesa, Antônio Augusto diz que, "de fato, devo ter sugerido. Foi em consideração à vida dele, que precisava continuar para tomar conta do filho. A ex-mulher dele o perseguia", diz. "O mal já estava feito, não é um ato aprovável. Mas ele é pai, e minha participação era para dar continuidade à vida dele e pela manutenção das coisas."
Ele diz que não sabe se Rodriguez fez o que sugeriu. "Eu só tive a palavra dele", diz. "Não sei se o fato [a agressão] ocorreu."
Sobre a outra conversa grampeada, diz que eventualmente "trocava idéias" sobre processos judiciais com o agente. "Conversamos mais de uma vez", disse.
Ele não revelou quem seria o "papa", citado em código na conversa gravada pela Operação Anaconda. "Não tenho a menor idéia do que se trata." Disse também desconhecer o significado das expressões "gato" e "telhado", embora tenha usado essa última.
O subprocurador negou ter atuado como advogado no processo movido por Norma Cunha contra seu ex-marido, o juiz João Carlos da Rocha Mattos. Ele não quis comentar o teor da conversa gravada, alegando que, primeiro, queria conhecer o processo.
"Não conheço absolutamente nada. O processo para mim é, de fato, sigiloso", afirmou.
Ele disse ter tido acesso apenas a um relatório que narra a prisão de Rodriguez, quando o policial federal teria estranhado o motivo pelo qual o "procurador não foi preso", e à alegação da PF de que ele teria se manifestado contra a apreensão de documentos seus no escritório de Passarelli.
"Essa informação é inverídica, não pedi nada a ninguém", diz.
Sobre o processo envolvendo Soliman Taman, em que atuou como subprocurador no Superior Tribunal de Justiça, ele diz que Taman foi representado por Rodriguez. "Doutor César havia pedido a revogação da prisão de Taman. Eu me opus. Recorri para que ele voltasse para a cadeia. Perdi no STJ e recorri contra a concessão de liminar. Eu me opus duas vezes", afirma.
Ele diz que, depois, o Supremo Tribunal Federal decidiu contra a pretensão de Rodriguez.
"Não que eu não conhecesse o César. Não tinha nenhum impedimento. Mas na época não estava no escritório [de César]. Eu discuto teses e atuo como fiscal do cumprimento da lei", diz.
Sobre a compra de uma Mercedes de Rodriguez, disse que precisava "olhar os autos" antes de confirmá-la ou desmenti-la.
O subprocurador disse que desde novembro último se apresentou "algumas vezes" espontaneamente à corregedoria da Procuradoria Geral da República, em Brasília, para tomar conhecimento das acusações da Operação Anaconda e "oferecer as explicações". Disse que a corregedoria ainda não tomou seu depoimento.
"Darei todas as explicações à corregedoria", disse. Afirmou que, para que "ninguém diga que estou influindo em algum processo", tomou a iniciativa de pedir uma licença-prêmio e de gozar férias vencidas. As férias acabarão no dia 7. Antônio Augusto diz que ainda não decidiu se pedirá afastamento do cargo.
Procurado, o advogado de César Herman Rodriguez, Hermínio Marques Porto Jr., não ligou de volta para a Folha. (FV e RV)


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