São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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Verticalização ignora o peso dos Estados, afirmam especialistas

LEANDRO BEGUOCI
DA REDAÇÃO

Para cientistas políticos ouvidos pela Folha, a verticalização não fez com que as coligações passassem a ser baseadas em programas de governo comuns. Segundo eles, isso nem poderia ter acontecido, porque as linhas que orientam as disputas políticas e eleitorais no país passam, principalmente, pelos Estados.
"A verticalização é um problema grave porque tenta impor aos partidos coligações que podem fazer sentido no âmbito nacional, não no regional", afirma Fábio Wanderley Reis, professor emérito de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais.
Para ele, as elites políticas brasileiras são divididas, grosso modo, em dois grupos. O primeiro reúne os políticos dos grandes partidos, como PT e PSDB, que disputam o poder com um programa próprio. Seus expoentes têm projeção nacional e o horizonte deles vai além do Estado de origem. O segundo grupo é composto pelos caciques regionais, articulados em legendas médias em relação à capacidade de liderar o quadro político brasileiro, como PFL e PMDB, e as legendas menores, como o PP, PL e PTB, que servem como auxiliares dos grandes partidos e concentram seus interesses nos cargos públicos e áreas de influência dentro de seus Estados.
Dessa forma, a configuração das alianças depende das condições em que são feitos os acordos entre as grandes forças nacionais com as forças locais, abrigadas nos partidos médios e pequenos.
"Para o sistema político brasileiro, o mais importante eleitoralmente são os Estados, que é a unidade pela qual se elegem deputados federais e estaduais, senadores", afirma Fernando Limongi, cientista político e presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).

Vantagens
Fernando Abrucio, cientista político da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, explica que o fim da verticalização beneficia, principalmente, o PMDB e o PFL, que ficam menos dependentes de PT e PSDB para definir seus planos eleitorais. Além disso, ainda podem exigir mais em uma hipotética coligação. Outros beneficiados são PP, PL e PTB, que podem negociar apoios. "Aos caciques regionais interessa manter a autonomia", afirma Abrucio, para quem o fim da medida também beneficia Lula, que poderia se candidatar sem ter o constrangimento de se aliar ao PL e ao PTB no plano nacional, mas sem descartar as coligações locais.


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