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Verticalização ignora o peso dos Estados, afirmam especialistas
LEANDRO BEGUOCI
DA REDAÇÃO
Para cientistas políticos ouvidos
pela Folha, a verticalização não
fez com que as coligações passassem a ser baseadas em programas
de governo comuns. Segundo
eles, isso nem poderia ter acontecido, porque as linhas que orientam as disputas políticas e eleitorais no país passam, principalmente, pelos Estados.
"A verticalização é um problema grave porque tenta impor aos
partidos coligações que podem
fazer sentido no âmbito nacional,
não no regional", afirma Fábio
Wanderley Reis, professor emérito de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais.
Para ele, as elites políticas brasileiras são divididas, grosso modo,
em dois grupos. O primeiro reúne
os políticos dos grandes partidos,
como PT e PSDB, que disputam o
poder com um programa próprio. Seus expoentes têm projeção
nacional e o horizonte deles vai
além do Estado de origem. O segundo grupo é composto pelos
caciques regionais, articulados
em legendas médias em relação à
capacidade de liderar o quadro
político brasileiro, como PFL e
PMDB, e as legendas menores,
como o PP, PL e PTB, que servem
como auxiliares dos grandes partidos e concentram seus interesses nos cargos públicos e áreas de
influência dentro de seus Estados.
Dessa forma, a configuração das
alianças depende das condições
em que são feitos os acordos entre
as grandes forças nacionais com
as forças locais, abrigadas nos
partidos médios e pequenos.
"Para o sistema político brasileiro, o mais importante eleitoralmente são os Estados, que é a unidade pela qual se elegem deputados federais e estaduais, senadores", afirma Fernando Limongi,
cientista político e presidente do
Cebrap (Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento).
Vantagens
Fernando Abrucio, cientista político da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, explica que o
fim da verticalização beneficia,
principalmente, o PMDB e o PFL,
que ficam menos dependentes de
PT e PSDB para definir seus planos eleitorais. Além disso, ainda
podem exigir mais em uma hipotética coligação. Outros beneficiados são PP, PL e PTB, que podem
negociar apoios. "Aos caciques
regionais interessa manter a autonomia", afirma Abrucio, para
quem o fim da medida também
beneficia Lula, que poderia se
candidatar sem ter o constrangimento de se aliar ao PL e ao PTB
no plano nacional, mas sem descartar as coligações locais.
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