|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Empresa doadora recebe verba de deputados
Levantamento revela que, em ao menos dez casos, companhias que financiaram campanhas ganharam recursos de verba indenizatória
Congressistas negam que as contribuições recebidas tenham sido motivadas pelo uso dos recursos da Câmara nas empresas, ou vice-versa
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ALAN GRIPP
EDITOR-ADJUNTO DE BRASIL
Empresas que fizeram doações eleitorais receberam recursos públicos destinados pelos mesmos deputados que ajudaram a eleger, revela levantamento inédito feito pela Folha.
Entre os deputados que receberam as maiores doações, são
pelo menos dez casos de toma
lá dá cá, identificados a partir
do cruzamento das contribuições de campanha com os gastos secretos da verba indenizatória, cujas regras, genéricas,
definem apenas que elas podem custear despesas relacionadas à atividade parlamentar.
As cerca de 1.400 empresas
que receberam recursos da verba da Câmara gastaram R$ 22,1
milhões em doações.
A Folha teve acesso em novembro, pela via judicial, a cerca de 70 mil notas fiscais apresentadas pelos deputados nos
quatro últimos meses de 2008.
Até então secretas -a Câmara só passou a divulgar as informações detalhadas a partir de
abril de 2009-, as notas já revelaram uso do dinheiro público em empresas com endereço
fantasma, em gastos em turismo, confraternizações e empresas dos próprios deputados.
A nova revelação se dá pelo
cruzamento de dados das notas
com a relação de doadores das
campanhas de 2006 e 2008.
O número de empresas que
aparece nas duas listas -tanto
é beneficiária da verba indenizatória como é doadora de
campanha- representa cerca
de 10% das que emitiram notas
para os deputados no período.
A pesquisa nos casos que envolvem os valores mais expressivos mostram situações como
a do deputado Luiz Bittencourt
(PMDB-GO), que foi reembolsado pela Câmara em R$ 32,4
mil após apresentar notas de
serviços prestados pela empresa Online Informática, de setembro a dezembro de 2008.
A mesma empresa aparece
na Justiça Eleitoral como doadora de R$ 100 mil para a campanha do deputado em 2006.
O ex-corregedor da Câmara,
que deixou o cargo após a revelação de que a família possuía
um castelo no interior de Minas, Edmar Moreira (PR-MG)
apresentou no período notas
de R$ 52 mil da empresa Ronda, de sua propriedade. Na outra ponta, a Ronda doou R$ 60
mil para a sua campanha e para
a de um filho dele, em 2006.
Já a empresa de serviços Dinâmica fez uma única doação
em 2006, segundo a Justiça
Eleitoral: R$ 30 mil para o deputado Filipe Pereira (PSC-RJ). As notas fiscais da verba
indenizatória mostram que o
deputado declarou gastos na
empresa de R$ 23,8 mil de setembro a dezembro de 2008.
Colega de bancada e de partido, o deputado Deley (PSC-RJ)
tem exemplo semelhante: recebeu doação de R$ 13 mil da
Reprográfica Barrense, na qual
ele declara ter gasto R$ 32,4
mil da verba indenizatória nos
últimos meses de 2008.
Os deputados ouvidos pela
Folha negaram que as doações
foram motivadas pelo uso da
verba indenizatória nas empresas, ou que o recebimento de
doações tenha estimulado o
uso da verba pública na contratação de serviços das empresas.
O deputado Fernando Coelho Filho (PSB-PE), por exemplo, diz que os R$ 160 mil que
sua campanha recebeu da TGR
Transportadora (14% do que
arrecadou), que pertence a um
tio, não tem relação com os R$
5.000 que gastou, com recursos
da verba indenizatória, no posto de combustível da empresa
nos quatro últimos meses de
2008. Segundo ele, os R$ 5.000
são gastos pulverizados em
quatro meses, e que os dois carros que usa em Petrolina (PE)
também usaram outros postos.
Desde que a Folha começou
a publicar reportagens sobre a
prestação de contas dos deputados, em novembro, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), afirmou que orientaria a Corregedoria da
Casa a investigar todos os casos, mas nenhum ainda foi concluído. O Congresso está em recesso até o fim de janeiro.
Texto Anterior: Lula e partido aumentarão a pressão sobre Ciro Próximo Texto: Outro lado: Deputados dizem não haver direcionamento Índice
|