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São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

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BAHIAGATE

PF quer ouvir o deputado Paulo Magalhães sobre os grampos ilegais

Procurador diz que sobrinho de ACM insinuou suborno a juíza

Xando P./"Ag. A Tarde"
O delegado Valdir Barbosa (esq.) e seu ex-assessor Alan Souza de Farias, que depuseram na PF


JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO A ESPECIAL SALVADOR
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O procurador da República Edson Abdon afirmou ontem à noite, em Salvador, que o deputado Paulo Magalhães (PFL-BA), sobrinho do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), "insinuou vantagens" para que a juíza Tereza Cristina Navarro Ribeiro desistisse de cobrar da Polícia Civil baiana a devolução de uma petição que pedia a abertura de investigação no caso dos grampos ilegais na Bahia.
"A verdade é que o deputado Paulo Magalhães insinuou algum tipo de vantagem para a doutora juíza decorrente dessa petição", disse Abdon. "Ele não chegou a citar qual tipo de vantagem", completou o procurador.
O deputado federal deverá ser ouvido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público no inquérito que apura os grampos telefônicos ilegais logo após o Carnaval. O objetivo é esclarecer se o deputado agiu para evitar o início das investigações sobre o caso.
O parlamentar, conforme revelou a Folha no sábado, citou a juíza de Itapetinga (BA), que autorizou as escutas, em depoimento ao delegado Gesival Gomes de Souza, que conduz o inquérito policial, e aos procuradores da República. As informações sobre o conteúdo do depoimento são da PF e do Ministério Público.

Depoimento
O procurador afirmou ontem que o deputado deverá ser convocado pela polícia para "esclarecer alguns pontos".
Por ser parlamentar, Paulo Magalhães possui foro privilegiado. Ou seja, tem a prerrogativa de indicar dia e local de seu depoimento no inquérito.
Segundo a PF, o deputado, junto com o delegado Valdir Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil, procurou a juíza de Itapetinga (BA) para tentar impedir que tramitasse na Justiça uma petição da operadora de telefonia TIM.
Nessa petição, de setembro de 2002, a operadora apontava indícios de irregularidades nos pedidos de grampos -eles eram em número excessivo e apresentavam rasuras.
A petição, afirma a Polícia Federal, foi retirada de maneira irregular do cartório do fórum de Itapetinga por Barbosa. A juíza, mais tarde, mandou Barbosa devolver o documento para que as investigações tivessem início.
Paulo Magalhães, então, ainda de acordo com a PF, ligou para a juíza pedindo que desistisse de recuperar a petição ou desse mais tempo ao delegado.
Segundo o procurador, o chefe da Casa Civil do governo da Bahia, Ruy Tourinho, também procurou a juíza para pedir que ela desistisse de recuperar a petição.
O documento retornou à Justiça apenas no início deste mês, dois dias antes de o caso ser revelado pela imprensa.

Ligação com ACM
Para a PF e para o Ministério Público Federal, o contato do deputado com a juíza de Itapetinga é um forte indício da ligação do grupo político do senador Antonio Carlos Magalhães com os grampos na Bahia.
A juíza foi quem autorizou as escutas em 232 telefones, entre eles os dos deputados federais Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Nelson Pellegrino (PT-BA), adversários políticos de ACM.
O inquérito policial já conclui que a juíza cometeu irregularidades no caso.
O delegado quer saber agora se ela mantinha ligações com o grupo político de ACM na Bahia, o que poderia determinar o mandante dos grampos.


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