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NO AR
O som do silêncio
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
O pouco que há de resistência à guerra, nos Estados Unidos, é de celebridades da
indústria cultural.
Mas é uma resistência envergonhada, pelo que se assistiu na
transmissão do Grammy, anteontem no SBT.
A CBS, que originou a transmissão, teria orientado para
ninguém falar contra a guerra.
E poucos falaram.
Simon e Garfunkel cantaram
"The Sound of Silence", que
compuseram no auge do movimento contra a guerra do Vietnã, e disseram que a canção tinha "ressonância" no presente.
Nada mais.
Sheryl Crow tinha um pequeno "no war", não à guerra, escrito em sua guitarra. Depois,
nos bastidores, teria reclamado
da censura dos organizadores.
Nada mais.
E assim a guerra caminha. A
mesma CBS entrevistou Saddam Hussein, que chamou
George W. Bush para um debate
ao vivo pela TV.
Foi uma piada, é evidente. O
importante é que o ditador iraquiano indicou que não vai destruir os mísseis, como exigido
pelos inspetores.
Uma boa desculpa fornecida
pela própria ONU, no momento
em que chega ao Conselho de
Segurança -sob a estridente
cobertura dos canais americanos de notícia- a proposta de
resolução que garante a Bush
sua guerra.
Do Jornal de Band:
- Um dia de terror no Rio.
Não se completaram dois meses de novo governo no Rio e o
ministro da Justiça já era levado
a responder, ontem na CBN, que
não vê motivos para intervenção no Estado.
O choque das imagens dos
ônibus queimados, do ataque a
Ipanema com bombas, em contraste com a fisionomia enfraquecida de Rosinha Garotinho,
levou o ministro a prometer
transferir o traficante Fernandinho Beira-Mar para São Paulo
ou outro Estado.
E nada de intervenção.
Enquanto isso, a CPI fluminense que investiga o caso Silveirinha decidia, segundo a
mesma CBN, não convocar Garotinho a depor.
José Dirceu, de outro lado, era
a imagem do poder, em longa
entrevista à Globo.
Exalava segurança, controle,
ao bradar contra a "herança
maldita" deixada pelos que
"agora criticam com a maior
cara de pau".
Distribuía elogios medidos a
Antônio Palocci, José Genoino,
João Paulo, para não desagradar ninguém.
Parecia até se conter, para não
se exceder no poder que detém,
cada vez maior.
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