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São Paulo, terça-feira, 25 de fevereiro de 2003

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NO AR

O som do silêncio

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

O pouco que há de resistência à guerra, nos Estados Unidos, é de celebridades da indústria cultural.
Mas é uma resistência envergonhada, pelo que se assistiu na transmissão do Grammy, anteontem no SBT.
A CBS, que originou a transmissão, teria orientado para ninguém falar contra a guerra. E poucos falaram.
Simon e Garfunkel cantaram "The Sound of Silence", que compuseram no auge do movimento contra a guerra do Vietnã, e disseram que a canção tinha "ressonância" no presente. Nada mais.
Sheryl Crow tinha um pequeno "no war", não à guerra, escrito em sua guitarra. Depois, nos bastidores, teria reclamado da censura dos organizadores. Nada mais.
E assim a guerra caminha. A mesma CBS entrevistou Saddam Hussein, que chamou George W. Bush para um debate ao vivo pela TV.
Foi uma piada, é evidente. O importante é que o ditador iraquiano indicou que não vai destruir os mísseis, como exigido pelos inspetores.
Uma boa desculpa fornecida pela própria ONU, no momento em que chega ao Conselho de Segurança -sob a estridente cobertura dos canais americanos de notícia- a proposta de resolução que garante a Bush sua guerra.
 
Do Jornal de Band:
- Um dia de terror no Rio.
Não se completaram dois meses de novo governo no Rio e o ministro da Justiça já era levado a responder, ontem na CBN, que não vê motivos para intervenção no Estado.
O choque das imagens dos ônibus queimados, do ataque a Ipanema com bombas, em contraste com a fisionomia enfraquecida de Rosinha Garotinho, levou o ministro a prometer transferir o traficante Fernandinho Beira-Mar para São Paulo ou outro Estado.
E nada de intervenção.
Enquanto isso, a CPI fluminense que investiga o caso Silveirinha decidia, segundo a mesma CBN, não convocar Garotinho a depor.
 
José Dirceu, de outro lado, era a imagem do poder, em longa entrevista à Globo.
Exalava segurança, controle, ao bradar contra a "herança maldita" deixada pelos que "agora criticam com a maior cara de pau".
Distribuía elogios medidos a Antônio Palocci, José Genoino, João Paulo, para não desagradar ninguém.
Parecia até se conter, para não se exceder no poder que detém, cada vez maior.


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