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Negócios de Waldomiro incluem parte de faculdade
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Os negócios particulares de
Waldomiro Diniz, ex-assessor
parlamentar do ministro José Dirceu (Casa Civil), têm ganhado
contornos mais nítidos com investigações desencadeadas pela
Polícia Federal.
A PF apurou que o ex-bancário
tem uma chácara em Luziânia
(GO) avaliada em R$ 530 mil, segundo o "Correio Braziliense". O
advogado do ex-assessor, Luiz
Guilherme Vieira, confirmou na
última quinta-feira à Folha que a
chácara pertence a Waldomiro.
No âmbito privado, Waldomiro
guarda outra surpresa: ele foi sócio, durante dez meses do primeiro ano do governo Lula, da empresária Maria Estela Boner Léo,
sócia-proprietária do Grupo TBA,
o principal revendedor de produtos Microsoft ao governo federal.
A Microsoft está no centro de
um debate em curso na Casa Civil
que envolve bilhões de reais -o
Tribunal de Contas de União estima que a Microsoft tenha vendido, sem licitação, R$ 16 bilhões
em programas de computadores
nos dois governos de Fernando
Henrique Cardoso (1994-2002).
Por decreto, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva criou uma câmara técnica, sob coordenação de
José Dirceu, para discutir a compra e a adoção de sistemas de códigos abertos, os chamados "softwares livres", como o Linux.
A compra em massa desse programas teria como conseqüência
direta a redução das vendas da
Microsoft à União.
Segundo Maria Estela, Waldomiro possuía 2% do capital social
da Faculdade Interfutura, no bairro Santa Cecília, em São Paulo. A
instituição foi criada para formar
analistas de sistemas.
De acordo com a empresária, a
faculdade funcionou até meados
do ano passado, com "uma turma
de cerca de 50 alunos", mas a sociedade foi desfeita em outubro
último. Até a semana passada,
nos registros do Ministério da
Educação e da Receita Federal, a
empresa continuava "ativa".
A empresária disse que Waldomiro e dois outros empresários de
ensino no interior de São Paulo a
procuraram "entre 2001 e 2002"
para formarem a faculdade.
"O Waldomiro entrou mais [na
sociedade] por ter aglutinado todo mundo", disse Maria Estela,
para quem a faculdade só deu
"dor de cabeça" e "muitos prejuízos". "Ele também entrava [com
dinheiro], mas era [com] pouco,
correspondente ao volume das
suas cotas", explicou.
Maria Estela disse que Waldomiro era parente de alguns dos
outros sócios, proprietários de escola em Juquira (SP) e de uma
empresa de informática do interior de São Paulo. As três dividiram o grosso das ações, enquanto
Waldomiro apareceu com os 2%.
"Ele tinha um trânsito muito
bom em Brasília. Foi uma coisa
muito rápida, ele apresentou a
idéia [da faculdade] e eu decidi
apoiar a idéia", disse a empresária. Ela afirmou que é "muito comum" pessoas a procurarem com
propostas de novos projetos.
A empresária disse que a participação de Waldomiro se resumia
à sociedade. "Ele não assinou nenhuma ata da direção, não tinha
papel de diretor. Só recebia os e-mails com as informações sobre o
andamento da empresa, mas quase nunca respondia."
Depois de formalizada a sociedade, Maria Estela disse ter se encontrado com Waldomiro apenas
"duas ou três vezes", sempre em
encontros rápidos.
Segundo o Ministério da Educação, a Faculdade Interfutura foi
credenciada (autorizada a funcionar) em 17 de abril de 2002, ainda
no governo Fernando Henrique
Cardoso, e começou a funcionar
em fevereiro de 2003, quando
Waldomiro já exercia a função de
assessor de José Dirceu.
Segundo o ministério, a faculdade tem um curso de administração com duas habilitações em
análise de sistemas gerenciais e
gestão de sistemas de telecomunicações. Cada habilitação tem 50
vagas noturnas e 50 diurnas.
Maria Estela é irmã de Maria
Cristina Boner Léo, que detém
cerca de 89% das ações da TBA.
Por meio de sua assessoria de comunicação, o Grupo TBA disse
que não mantém "nenhum vínculo" com a empresa de Waldomiro. Informou que a faculdade
foi uma iniciativa particular de
Maria Estela.
Campanha
A assessoria da TBA se recusou
a informar quais são os órgãos do
governo federal com os quais
mantém contratos e o valor dos
negócios. O site da empresa na internet indica trabalhos com a Caixa Econômica Federal, a Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos
e a estatal Serpro (Serviço Federal
de Processamento de Dados).
O Código de Ética da Alta Administração Pública, ao qual Waldomiro estava submetido, por
ocupar cargo de confiança na Casa Civil, permite a participação de
funcionário público em empresa
privada, desde que não ocorra
"conflito com o interesse público". O conflito e a forma de resolvê-lo devem ser comunicados à
Comissão de Ética Pública.
O relacionamento da TBA com
o governo Lula era mais intenso
na figura do ex-ministro da Educação, Cristovam Buarque. Waldomiro Diniz foi assessor parlamentar de Cristovam no governo
do Distrito Federal entre 1995 e
1998 e algumas vezes, na ausência
do titular (o atual secretário-executivo do ministro José Dirceu,
Swedenberger Barbosa), chegou a
responder interinamente pela Secretaria de Governo.
A TBA foi uma das financiadoras da campanha de Cristovam ao
Senado. Ele recebeu da empresa
R$ 150 mil na campanha eleitoral
de 2002. Naquele ano, no final do
primeiro turno da campanha de
Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, Cristovam levou Maria
Cristina Boner e representantes
da Microsoft a um encontro com
o petista. O encontro ocorreu em
São Paulo, na produtora do marqueteiro Duda Mendonça. Lula
gravava seu último programa de
TV no primeiro turno.
Colaborou LUCIANA CONSTANTINO,
da Sucursal de Brasília
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