|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Depoimento reforça tese de "consórcio"
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A freira Dorothy Stang, assassinada no último dia 12, acusou nominalmente, em depoimento
prestado à Polícia Federal em
2002, pelo menos 12 fazendeiros
ou funcionários de fazendas diferentes da região de Anapu (PA)
por supostas ameaças contra trabalhadores rurais do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) e desmatamentos ilegais.
O relator da CPI da Terra, João
Alfredo (PT-CE), considera que
essa variedade de nomes para
acusações semelhantes, na mesma cidade, reforça a tese que a PF
vem levantando durante as investigações sobre a morte da freira, a
de que pode ter havido um "consórcio" entre fazendeiros para
contratar os assassinos. O deputado disse que enviará cópia do depoimento de Dorothy à equipe da
PF que investiga seu assassinato.
"Essa hipótese de consórcio é
bastante plausível. Na audiência
no Pará, os fazendeiros estavam
muito articulados. Fizeram as
mesmas acusações à Dorothy e ao
PDS [tipo de assentamento]. Ele
pode ser um boi de piranha", disse o relator da comissão, referindo-se a Vitalmiro Moura, apontado pela Polícia Civil do Pará como
único mandante do crime.
Ontem o relator reavaliou o depoimento prestado por Dorothy
em 28 de novembro de 2002 na
Superintendência da PF em Belém (PA). Ela procurou a polícia
em nome do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, de associações de
colonos, da CPT (Comissão Pastoral da Terra), da Câmara Municipal e da Prefeitura de Anapu.
Dorothy contou que o avanço
dos fazendeiros, em diversas frentes ao mesmo tempo, havia reduzido de 21 para apenas oito o total
de lotes em poder dos trabalhadores no projeto Esperança, no qual
ela atuava quando foi morta.
Dorothy contou que um dos fazendeiros -cujo sigilos bancário,
fiscal e telefônico foi quebrado
anteontem pela comissão, junto
com outras oito pessoas, incluindo Moura- invadira os lotes 56 e
58 e avançava para o 60.
A missionária citou quatro pessoas que estariam agindo em conjunto "com mais cinco pistoleiros" para ameaçar famílias dos lotes 132 e 134. Dois irmãos de outro
fazendeiro teriam invadido os lotes 14, 16 e 18 em abril de 2002.
Dorothy também mencionou
uma fazendeira que manteria
"homens armados como vigias
no intuito de afugentar e amedrontar as populações locais".
Outro documento que está sendo reavaliado pela CPI da Terra é
o "Relatório da Missão ao Pará",
produzido em 2003 e distribuído
a órgãos do governo pelo relator
nacional para o direito humano
ao ambiente, Jean Pierre Leroy. O
relatório descreve várias denúncias de ameaças de morte e acusa
policiais paraenses.
Texto Anterior: Exército diz que falta de recursos compromete operação na Amazônia Próximo Texto: Luta e luto: Irmão de freira quer "abraçar Anapu" Índice
|