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Verbas compram reportagens em imprensa regional
Divulgação de mandato parlamentar consome 15% dos recursos indenizatórios, que são usados para fins eleitorais
Líder do PMDB, Henrique Alves (RN) afirmou manter contrato com o jornal que controla e que divulgaria atividades de seu mandato
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Do total da "verba indenizatória" que a Câmara destinou
aos deputados em janeiro, 15%
se referem ao ressarcimento de
supostos gastos com a chamada
"divulgação do mandato parlamentar". A Folha constatou
que o dinheiro público é usado,
entre outras coisas, para fins
eleitorais e para a compra de
reportagens benéficas aos deputados em órgãos de imprensa regionais.
O caso mais evidente é o do
líder da bancada do PMDB,
Henrique Eduardo Alves (RN),
que afirmou, em um primeiro
momento, manter um contrato
com o jornal que controla, a
"Tribuna do Norte".
O diário publicaria notícias
sobre as atividades do deputado em Brasília e, em troca, receberia como remuneração a
verba do deputado destinada à
"divulgação do mandato".
"Tem contrato, tem recibo,
tudo direitinho do jornal, tem
recibo guardado, tudo direitinho", afirmou o deputado, em
um primeiro contato.
Depois, ele retificou: "Não é
um contrato formal. Eu pago e
eles dão recibo."
O peemedebista afirma que
as "reportagens" são produzidas quase sempre por meio de
entrevistas que ele concede ao
seu assessor de imprensa.
Entre as "reportagens" destacadas pelo deputado está a
sua eleição para a liderança do
PMDB, uma entrevista sobre o
apoio do PMDB a Luiz Inácio
Lula da Silva e a descrição da
sessão para a eleição do novo
presidente da Câmara, presidida por ele em 1º de fevereiro.
"Quando fui presidir a eleição da Câmara, publicamos
uma página inteira, uma foto
nossa, tenho dez mandatos. Tô
no décimo mandato, aí fizemos
uma página no jornal muito
bonita", disse. Alves presidiu a
sessão por ser o deputado com
o maior número de mandatos.
Em janeiro, ele foi reembolsado pela Câmara em R$ 10,5
mil por gastos a título de "divulgação do mandato". Ao TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) o
líder do PMDB declarou um
patrimônio de R$ 1 milhão, que
inclui ações em rádio e TV.
Exemplo semelhante a Folha encontrou no gabinete do
deputado Osvaldo Reis
(PMDB-TO). Dois de seus assessores afirmaram, em conversa informal, que parte da
"verba indenizatória" é usada
para pagar "notas" nos meios
de comunicação de Tocantins e
do sul do Maranhão, área de
atuação política do deputado.
De acordo com eles, se não
houver pagamento, não sai nenhuma notícia sobre o deputado na imprensa local.
Uma vez remunerados, as rádios e jornais, ainda segundo os
assessores, reproduziriam na
íntegra as informações prestadas pelo gabinete do deputado.
O argumento foi usado para
justificar a impressão de 20 mil
exemplares de um tablóide, ao
custo de R$ 13 mil, para distribuição aos eleitores de Osvaldo
Reis. O jornal, de oito páginas,
se resume à transcrição de dois
discursos do deputado no plenário da Câmara, à relação de
seus projetos apresentados, à
listagem das emendas que ele
apresentou ao Orçamento da
União e à sua biografia.
O uso político da verba também fica explicitado no caso do
deputado João Caldas (PR-AL).
Acusado de envolvimento na
máfia dos sanguessugas, ele
não se reelegeu.
No último mês de mandato,
admitiu ter gasto os R$ 15 mil
da verba indenizatória para fazer uma "prestação de contas"
de seu período na Câmara. Disse ter mandado cartas para que
as pessoas não se esquecessem
dele. "Político tem que interagir com a sociedade", defendeu.
Não reeleito, o ex-deputado
Babá (PSOL-PA, que se candidatou pelo RJ) também gastou
100% da verba indenizatória a
que tinha direito em janeiro,
dos quais R$ 10,6 mil para "divulgação da atividade parlamentar".
Ele disse ter gasto o valor
com a publicação de um livreto
reunindo algumas de suas
idéias e bandeiras, entre elas a
defesa do não-pagamento da
dívida externa.
"Foi distribuído gratuitamente", explicou, acrescentando que sempre fez parte de sua
atuação política a publicação de
boletins do gênero.
(RANIER BRAGON E LETÍCIA SANDER)
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