ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília

Uma semana depois de ter chamado o ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) de ``canalha'', o líder dos sem-terra José Rainha Jr. disse ontem que quer discutir com ele a compra de uma fábrica de farinha no Pontal do Paranapanema (oeste de São Paulo).
O deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) está intermediando o encontro. Ele convidou Rainha Jr. para participar de uma audiência com o ministro na próxima terça-feira para discutir a compra da fábrica, que está avaliada em R$ 4,7 milhões.
``Não vejo problema em negociar com o ministro porque não fomos nós que nos afastamos dele e sim ele que não quis mais negociar com o MST'', afirmou Rainha Jr., que é membro da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
A disposição de Rainha Jr. de conversar com o ministro vai de encontro à decisão tomada pela direção do MST de não aceitar Jungmann como interlocutor do governo. Essa decisão foi anunciada durante e após a marcha a Brasília.
Segundo Greenhalgh, Rainha Jr. irá para a audiência como diretor da Cooperativa dos Assentados do Pontal e não como líder do MST.
"O MST não pediu nem pedirá audiência com o ministro'', afirmou ontem o coordenador do MST em Brasília, Gilberto Portes.
Por telefone, Rainha Jr. disse à Folha que não chamou o ministro de ``canalha''. ``Não é verdade. Isso não faz parte da minha ética. O que eu disse foi que essa política irresponsável e canalha do governo não irá promover a reforma agrária'', afirmou.
As declarações contra Jungmann foram feitas no discurso durante a marcha dos sem-terra em Brasília.
``Quando a gente passar por aquele ministério (Política Fundiária), nós vamos dizer: `Olha, nós aqui Raul Jungmann, canalha. Você disse que a gente não chegaria até a metade do caminho, não acreditou na marcha, então, pode pedir demissão porque a gente vai continuar fazendo ocupação.'''

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