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TÍTULOS SOB SUSPEITA
Diretor do Bradesco nega existência de operações com papéis combinadas com corretora
Paper diz ter agido sob ordem de banco
da Sucursal de Brasília
O relator da
CPI dos Precatórios, senador
Roberto Requião
(PMDB-PR),
apresentou ontem documentos que, segundo ele, comprovam
a participação da Prefeitura de São
Paulo e do Bradesco na ``montagem'' das operações irregulares
envolvendo títulos públicos.
A afirmação foi feita logo após o
depoimento do empresário Augusto César Falcão de Queiroz, diretor da distribuidora Arjel (antiga
Paper), que disse ser ``praticamente um `broker' (operador)'''
do Bradesco nos negócios com títulos públicos.
Queiroz disse que só comprava
títulos quando tinha certeza de que
o Bradesco os compraria a seguir.
Em alguns casos, segundo ele, a
ordem para que adquirisse determinado papel partia do próprio
banco.
Requião ainda disse que um dos
donos da corretora Trader, John
Albert Spears King, revelou ter
comprado títulos de Santa Catarina por ordem do Bradesco.
A informação foi dada a Requião
em reunião reservada na casa do
senador, em Brasília, na manhã de
terça-feira da semana passada.
Katsumi Kihara, diretor do Bradesco responsável por operações
no mercado, negou ontem em depoimento à CPI que a Paper fosse
``broker'' do Bradesco.
``A Paper não era `broker' do
Bradesco. Como outras, a Paper
oferecia papéis para o Bradesco,
nós analisávamos as operações e
então eu levava para a diretoria-executiva decidir.''
Segundo Kihara, muitas dessas
propostas eram recusadas, e o Bradesco não tinha conhecimento da
cadeia de operações entre instituições financeiras.
O envolvimento da Prefeitura de
São Paulo, segundo Requião, seria
comprovado por duas cartas da
empresa de assessoria Tarimba para a Paper, de 22 de setembro de 95
e 2 de abril de 96. A Tarimba assessorava a Paper nas operações, em
troca de 50% do lucro bruto.
Nas cartas, a Tarimba ``confirma entendimentos'' para a compra
de títulos do município de São
Paulo pela Paper.
Na carta de abril de 1996, a empresa afirma que a Paper está
``credenciada para comprar (títulos) de nosso cliente, Fundo de Liquidez dos Títulos Municipais da
Secretaria de Finanças do Município de São Paulo ou por agente indicado por eles''. O valor da operação é de cerca de R$ 50 milhões.
Na carta de setembro, os termos
são semelhantes, mas a identidade
do ``cliente'' é omitida. Nesse caso, o valor dos títulos é de aproximadamente R$ 70 milhões.
``O agente indicado pela prefeitura foi o Banco Vetor e a operação
só foi feita porque o Bradesco se
dispunha a comprar os títulos'',
disse Requião. ``Os documentos
mostram que a operação foi montada a partir da prefeitura, armada
pela Tarimba e finalizada pelo Bradesco'', acrescentou.
Pitta
Em setembro de 95, o então secretário de Finanças de São Paulo
Celso Pitta determinou que o fundo de liquidez vendesse R$ 70 milhões em títulos para o Banco Vetor. A carta em que a ordem foi dada está em poder da CPI.
A partir daí, os papéis passaram
pela chamada ``cadeia da felicidade'': foram vendidos sucessivamente para o Banco Indusval, distribuidora JHL, Paper e Bradesco.
O maior lucro nas negociações
(R$ 3,868 milhões) ficou com a
JHL. A Paper lucrou R$ 170 mil.
``Ao ver esses números, eu diria
que talvez tenha sido usado. Só fechei negócio porque o Bradesco se
comprometeu a comprar''', afirmou o diretor da extinta Paper.
As cartas enviadas pela Tarimba
à Paper eram endereçadas a Edson
Ferreira, chefe da mesa de operações da Paper e ex-funcionário do
Bradesco.
Ferreira foi apontado por Augusto Queiroz como principal elo
entre a Trader e o Bradesco. ``Sem
Edson Ferreira eu não faria nenhum negócio com o Bradesco'',
afirmou.
Procurada às 22h45, a assessoria
de impresa de Pitta informou que
seria impossível localizá-lo.
Depois do depoimento de Kihara, do Bradesco, a CPI iniciou,
após as 22h, uma acareação entre o
executivo do Bradesco e Augusto
César Falcão de Queiroz, da Arjel
(ex-Paper).
``Recebíamos propostas de outras (corretoras) que sabiam que
tínhamos relação com o Bradesco'', disse Queiroz em seu depoimento.
(DANIEL BRAMATTI, OSWALDO BUARIM JR. E ALEX RIBEIRO)
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