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ROMBO AMAZÔNICO
Suposta ação de sem-terra teria ocorrido e acabado em 96; venda da propriedade foi em janeiro de 98
Jader comprou fazenda após fim de invasão
LUÍS INDRIÚNAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM AURORA DO PARÁ
ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
A invasão de terra informada
pelo senador Jader Barbalho
(PMDB-PA) como motivo para
ter pago um terço do valor pago
por seu ex-sócio José Osmar Borges por uma fazenda no Pará estava resolvida um ano antes de o negócio ser efetuado. A invasão teria
ocorrido e acabado em 96, e a venda foi em janeiro de 98.
A informação foi dada pelo gerente da fazenda do senador, pelo
Fórum de Aurora do Pará (onde
está a propriedade), pela Fetagri
(Federação dos Trabalhadores na
Agricultura) e pelo líder da invasão -que atualmente trabalha
para o próprio Jader.
A fazenda foi comprada por Jader em 5 de janeiro de 1998. Em
maio de 1996, dois meses antes da
invasão, usando o nome de sua
atual mulher, Márcia Cristina Zahluth Centeno, Jader adquiriu a
propriedade em sociedade com a
empresa Saint Germany.
A empresa é de Borges, preso e
libertado na semana passada acusado de desvios de recursos da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). A
Saint Germany recebeu R$ 21 milhões, dos R$ 25 milhões que ganhou da Sudam, no período em
que Borges era associado a Jader.
Quando foi comprada, a fazenda custou R$ 1,7 milhão à Saint
Germany e R$ 207 à atual mulher
de Jader, com a qual ele ainda não
estava casado na época.
No último dia 16, Jader afirmou
que seu nome não apareceu na
sociedade devido ao fato de que
ele estava se separando judicialmente da deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA).
Segundo o senador, em 98 ele
comprou a fazenda do ex-sócio
por R$ 600 mil -cerca de um terço do valor que Borges havia pago. Esse valor equivale a 40% do
que o Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária)
pagaria aos donos da fazenda no
caso de desapropriação da área,
que tem 10 mil hectares.
O preço de mercado de uma fazenda como a Campo Maior, com
70 km de estradas internas, 63,8
km de cerca de arame liso, com
3.700 hectares de pasto cultivado,
às margens da pavimentada estrada Belém-Brasília, varia hoje entre R$ 4 milhões e R$ 10 milhões,
segundo o presidente da Federação da Agricultura no Pará, Carlos Xavier, que é amigo de Jader.
"A invasão foi logo após o massacre (de Eldorado do Carajás, em
17 de abril de 1996) e foi tudo resolvido", afirmou o gerente da fazenda, Ricardo José da Fonseca.
O líder da invasão, Antônio
Leopoldino, 56, conta que as 157
famílias teriam entrado na fazenda em 3 de julho de 1996 e saído
no final do mesmo ano, depois de
receberem indenização de cerca
de R$ 300 por hectare invadido.
Desde o acordo, Leopoldino
"presta serviços" à propriedade
de Jader, segundo confirmou o
próprio senador paraense. Quando falou com a reportagem, ele
chefiava uma equipe que plantava
capim e trocava estacas da cerca.
"Fizemos uma política de paz
com os invasores", afirmou Jader,
antes de ser questionado sobre
polêmica das datas do negócio.
Para justificar sua posição sobre
a depreciação do valor da fazenda, Jader enviou à Agência Folha
dados de vistoria feita pelo Incra.
Só que o documento é de outubro
de 1996, enquanto havia invasão,
e a fazenda foi comprada de vez
por Jader em 98.
O relatório descreve uma situação de ameaça de vida aos 14 funcionários da fazenda e aos próprios funcionários federais, situação definida por Jader como de
uma "invasão brutal".
Na sexta-feira passada, Jader
prometeu enviar cópia de um pedido judicial de reintegração de
posse da fazenda, o que não havia
feito até a noite de ontem.
Sem registro
No Fórum de Aurora do Pará
(240 km ao sul de Belém) não há
registro de nenhuma ação envolvendo a fazenda Campo Maior.
O coordenador da Fetagri no
Pará, Antônio de Souza Carvalho,
disse que os invasores chegaram a
procurar a entidade em 1996.
"Depois eles não nos procuraram
mais, porque resolveram com o
Jader", afirmou Carvalho.
A "invasão brutal", como define
Jader, não foi noticiada na época.
Os arquivos da CPT (Comissão
Pastoral da Terra), que têm informações sobre problemas fundiários de 1986 até hoje, não registra
nada sobre o caso. O único caso
naquela área é de uma invasão
que ocorreu em setembro de
1988, quando posseiros entraram
na fazenda Chão Preto -hoje incorporada à Campo Maior.
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