São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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ROMBO AMAZÔNICO

Suposta ação de sem-terra teria ocorrido e acabado em 96; venda da propriedade foi em janeiro de 98

Jader comprou fazenda após fim de invasão

LUÍS INDRIÚNAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM AURORA DO PARÁ

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

A invasão de terra informada pelo senador Jader Barbalho (PMDB-PA) como motivo para ter pago um terço do valor pago por seu ex-sócio José Osmar Borges por uma fazenda no Pará estava resolvida um ano antes de o negócio ser efetuado. A invasão teria ocorrido e acabado em 96, e a venda foi em janeiro de 98.
A informação foi dada pelo gerente da fazenda do senador, pelo Fórum de Aurora do Pará (onde está a propriedade), pela Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) e pelo líder da invasão -que atualmente trabalha para o próprio Jader.
A fazenda foi comprada por Jader em 5 de janeiro de 1998. Em maio de 1996, dois meses antes da invasão, usando o nome de sua atual mulher, Márcia Cristina Zahluth Centeno, Jader adquiriu a propriedade em sociedade com a empresa Saint Germany.
A empresa é de Borges, preso e libertado na semana passada acusado de desvios de recursos da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). A Saint Germany recebeu R$ 21 milhões, dos R$ 25 milhões que ganhou da Sudam, no período em que Borges era associado a Jader.
Quando foi comprada, a fazenda custou R$ 1,7 milhão à Saint Germany e R$ 207 à atual mulher de Jader, com a qual ele ainda não estava casado na época.
No último dia 16, Jader afirmou que seu nome não apareceu na sociedade devido ao fato de que ele estava se separando judicialmente da deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA).
Segundo o senador, em 98 ele comprou a fazenda do ex-sócio por R$ 600 mil -cerca de um terço do valor que Borges havia pago. Esse valor equivale a 40% do que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) pagaria aos donos da fazenda no caso de desapropriação da área, que tem 10 mil hectares.
O preço de mercado de uma fazenda como a Campo Maior, com 70 km de estradas internas, 63,8 km de cerca de arame liso, com 3.700 hectares de pasto cultivado, às margens da pavimentada estrada Belém-Brasília, varia hoje entre R$ 4 milhões e R$ 10 milhões, segundo o presidente da Federação da Agricultura no Pará, Carlos Xavier, que é amigo de Jader.
"A invasão foi logo após o massacre (de Eldorado do Carajás, em 17 de abril de 1996) e foi tudo resolvido", afirmou o gerente da fazenda, Ricardo José da Fonseca.
O líder da invasão, Antônio Leopoldino, 56, conta que as 157 famílias teriam entrado na fazenda em 3 de julho de 1996 e saído no final do mesmo ano, depois de receberem indenização de cerca de R$ 300 por hectare invadido.
Desde o acordo, Leopoldino "presta serviços" à propriedade de Jader, segundo confirmou o próprio senador paraense. Quando falou com a reportagem, ele chefiava uma equipe que plantava capim e trocava estacas da cerca.
"Fizemos uma política de paz com os invasores", afirmou Jader, antes de ser questionado sobre polêmica das datas do negócio.
Para justificar sua posição sobre a depreciação do valor da fazenda, Jader enviou à Agência Folha dados de vistoria feita pelo Incra. Só que o documento é de outubro de 1996, enquanto havia invasão, e a fazenda foi comprada de vez por Jader em 98.
O relatório descreve uma situação de ameaça de vida aos 14 funcionários da fazenda e aos próprios funcionários federais, situação definida por Jader como de uma "invasão brutal".
Na sexta-feira passada, Jader prometeu enviar cópia de um pedido judicial de reintegração de posse da fazenda, o que não havia feito até a noite de ontem.

Sem registro
No Fórum de Aurora do Pará (240 km ao sul de Belém) não há registro de nenhuma ação envolvendo a fazenda Campo Maior.
O coordenador da Fetagri no Pará, Antônio de Souza Carvalho, disse que os invasores chegaram a procurar a entidade em 1996. "Depois eles não nos procuraram mais, porque resolveram com o Jader", afirmou Carvalho.
A "invasão brutal", como define Jader, não foi noticiada na época. Os arquivos da CPT (Comissão Pastoral da Terra), que têm informações sobre problemas fundiários de 1986 até hoje, não registra nada sobre o caso. O único caso naquela área é de uma invasão que ocorreu em setembro de 1988, quando posseiros entraram na fazenda Chão Preto -hoje incorporada à Campo Maior.


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