São Paulo, quarta-feira, 25 de abril de 2001

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Repasse de verbas da Sudam ocorreu durante sociedade

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

Dos R$ 25,4 milhões recebidos pela Saint Germany Agropecuária S/A da Sudam até ontem, 84,6% foram liberados no período em que o empreendimento de José Osmar Borges tinha como sócio o senador Jader Barbalho (PMDB-PA). Borges é acusado de ser um dos maiores fraudadores da Sudam -o empresário nega.
A Saint Germany Agropecuária só conseguiu financiamento de R$ 57,8 milhões da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) seis meses depois de ter comprado uma fazenda no Pará em sociedade com o atual presidente do Senado.
Dos totais liberados, R$ 21,5 milhões foram entregues entre maio de 1996 a 5 de janeiro de 1998, data em que a fazenda adquirida pela Saint Germany e Jader passa definitivamente para o controle do senador e desfaz-se a sociedade.
Esses liberações para a Saint Germany atingem 22% dos recursos recebidos pelas seis empresas de Borges nos últimos dez anos. O montante chega a R$ 83 milhões, mas sem atualização monetária -o que eleva o suposto rombo para mais de R$ 100 milhões.
Chamou atenção dos procuradores da República, além da concentração da liberação de verbas no período da ligação Jader-Borges, a rapidez com que a Saint Germany recebeu a primeira parcela -de R$ 8,5 milhões.
A liberação ocorreu no dia 22 de janeiro de 1997, portanto, 40 dias depois de a Sudam ter aprovado o empréstimo a Saint Germany. Os processos geralmente levam meses. Seis meses depois, a Saint Germany recebeu a maior parcela (R$ 9,5 milhões).
O Ministério Público Federal e a Polícia Federal procuram provas de que as fraudes na Sudam eram de alguma forma acobertadas -levantando a suposição da existência de testas-de-ferro. As investigações ainda não chegaram a essa conclusão.
No total, foram feitas sete liberações para a Saint Germany. Quatro delas são no período em que se mantinha a associação Jader-Borges.
O senador não foi sócio direto de Borges, que foi preso e solto na semana passada. A sociedade foi feita por meio de Márcia Cristina Zahluth Centeno, atual mulher do senador. O próprio Jader disse que o nome dele não aparecia porque ele estava em processo de separação de sua ex-mulher.
Márcia Centeno é também dona de um ranário em Belém que recebeu recursos da Sudam. A Centeno & Moreira S.A. é suspeita de desvio de cerca da metade dos R$ 9,6 milhões que a equipe interventora da autarquia diz ter sido repassado ao ranário.
Jader nega que a empresa de sua mulher tenha recebido tantos recursos e que haja irregularidades na utilização do dinheiro da Sudam. Nos cálculos dele, apenas R$ 422 mil foram liberados.
As liberações para a Saint Germany envolvem o ex-superintendente da Sudam José Arthur Guedes Tourinho, indicado por Jader. Tourinho é acusado em processo administrativo de ter cometido crime de improbidade por suposto favorecimento a Borges.
O caso levou o ministro da Integração Regional, Fernando Bezerra, a substituir a exoneração de Tourinho, no final de 1999, da Sudam por demissão. A portaria fazendo a substituição foi assinada na semana passada. O caso foi remetido à Procuradoria da República. Tourinho nega ter cometido irregularidades. (ARI CIPOLA)


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