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Câmbio opõe ministro e senador
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em meio a brincadeiras e amabilidades, o líder do governo no
Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), disse ontem ao
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) discordar totalmente
da decisão de não impor limites à
queda das cotações do dólar.
Mercadante -um dos principais porta-vozes econômicos do
PT- e o ministro participavam
do seminário promovido pelo
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre planejamento de longo prazo.
O debate sobre a política econômica, porém, acabou monopolizando as atenções durante a intervenção do senador.
Ele disse acreditar que o governo vai usar os instrumentos à disposição do Banco Central para
deter a valorização do real, que facilita o controle da inflação, mas
prejudica as exportações.
"Se o governo não fizer isso [deter a valorização do real", vou dar
declarações bombásticas que farão o dólar subir. Vai ser uma ajuda heterodoxa", afirmou.
A platéia riu -Mercadante falava em tom jocoso. Mas o debate
é polêmico no governo. O senador se alinhou aos ministérios do
Desenvolvimento e do Planejamento, que vêem com preocupação a queda do dólar impulsionada pela entrada de capital especulativo no país.
"Que o câmbio caia sustentadamente, mas mantenha a competitividade do Brasil, o superávit comercial, porque é isso que vai dar
longevidade a esse benefício que
estamos tendo", disse. "Não podemos permitir a apreciação
cambial além do limite que sustenta o superávit."
Ironias
Ao longo do seminário, Mercadante e Palocci trocaram gentilezas e algumas ironias sutis. Quando o microfone do ministro falhou, o senador disse que a qualidade do discurso era melhor que a
do aparelho.
"Se eu soubesse que o senador
estaria aqui não teria vindo. Em
matéria de economia, assino embaixo de tudo o que ele diz", disse
Palocci, antes do debate sobre a
questão da taxa de câmbio. "Até
parece", respondeu Mercadante,
provocando risadas gerais.
O senador comparou Palocci,
que quebrou a fíbula da perna esquerda jogando futebol, ao atacante Ronaldo, do Real Madrid e da seleção brasileira.
"É o melhor ministro da Fazenda e jogador de futebol que conheço", afirmou Mercadante. Por
causa da fratura, o ministro da Fazenda está caminhando com a
ajuda de muletas.
Ao deixar o local, Palocci, que
não polemizou com Mercadante
durante o seminário, voltou a rejeitar intervenções no câmbio.
"O presidente Lula já disse que o
câmbio é flutuante". Segundo ele,
o dólar encontrará uma cotação
de equilíbrio "naturalmente".
(GUSTAVO PATÚ e GABRIELA ATHIAS)
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