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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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Câmbio opõe ministro e senador

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em meio a brincadeiras e amabilidades, o líder do governo no Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), disse ontem ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) discordar totalmente da decisão de não impor limites à queda das cotações do dólar.
Mercadante -um dos principais porta-vozes econômicos do PT- e o ministro participavam do seminário promovido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) sobre planejamento de longo prazo.
O debate sobre a política econômica, porém, acabou monopolizando as atenções durante a intervenção do senador.
Ele disse acreditar que o governo vai usar os instrumentos à disposição do Banco Central para deter a valorização do real, que facilita o controle da inflação, mas prejudica as exportações.
"Se o governo não fizer isso [deter a valorização do real", vou dar declarações bombásticas que farão o dólar subir. Vai ser uma ajuda heterodoxa", afirmou.
A platéia riu -Mercadante falava em tom jocoso. Mas o debate é polêmico no governo. O senador se alinhou aos ministérios do Desenvolvimento e do Planejamento, que vêem com preocupação a queda do dólar impulsionada pela entrada de capital especulativo no país.
"Que o câmbio caia sustentadamente, mas mantenha a competitividade do Brasil, o superávit comercial, porque é isso que vai dar longevidade a esse benefício que estamos tendo", disse. "Não podemos permitir a apreciação cambial além do limite que sustenta o superávit."

Ironias
Ao longo do seminário, Mercadante e Palocci trocaram gentilezas e algumas ironias sutis. Quando o microfone do ministro falhou, o senador disse que a qualidade do discurso era melhor que a do aparelho.
"Se eu soubesse que o senador estaria aqui não teria vindo. Em matéria de economia, assino embaixo de tudo o que ele diz", disse Palocci, antes do debate sobre a questão da taxa de câmbio. "Até parece", respondeu Mercadante, provocando risadas gerais.
O senador comparou Palocci, que quebrou a fíbula da perna esquerda jogando futebol, ao atacante Ronaldo, do Real Madrid e da seleção brasileira.
"É o melhor ministro da Fazenda e jogador de futebol que conheço", afirmou Mercadante. Por causa da fratura, o ministro da Fazenda está caminhando com a ajuda de muletas.
Ao deixar o local, Palocci, que não polemizou com Mercadante durante o seminário, voltou a rejeitar intervenções no câmbio.
"O presidente Lula já disse que o câmbio é flutuante". Segundo ele, o dólar encontrará uma cotação de equilíbrio "naturalmente".
(GUSTAVO PATÚ e GABRIELA ATHIAS)


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