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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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REFORMA NA MARRA

Presidente também cobra ação de governadores; objetivo é eliminar resistência à mudança da Previdência

Lula adota linha dura e ameaça rebeldes

Lula Marques/Folha Imagem
Os deputados federais José Carlos Aleluia (PFL-BA) e José Genoino (PT-SP) durante bate-boca protagonizado ontem na Câmara


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Contrariado com a forte resistência de cerca da metade dos 92 deputados federais do PT à proposta de reforma da Previdência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desencadeou nos últimos dois dias nova e dura operação para enquadrar os seus rebeldes.
Ao mesmo tempo, acelerou diretamente a cobrança dos governadores para que pressionem suas bancadas, especialmente as do PSDB, PFL e PMDB, a aprovar no Congresso as propostas fechadas por acordo na semana passada. Lula avalia que aumentaram as resistências à reforma da Previdência e que precisa agir rápido, sob pena de fracassar.
O enquadramento do PT é capitaneado pelo ministros José Dirceu (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Previdência), além do presidente do partido, José Genoino. Os três tiveram nos últimos dias reuniões com rebeldes e com o grupo de moderados que atuará como tropa de choque das reformas. A articulação com os governadores é feita por Lula.

PT na mira
O presidente disse a auxiliares que formara um ministério contemplando todas as tendências do PT para não ter problema na hora de governar. "A eleição acabou. Somos todos governo. Não podemos falhar nas reformas", tem dito o presidente a interlocutores.
Após as orientações de Lula, Dirceu conversou duramente com o líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), e com o futuro relator da reforma da Previdência, José Pimentel (CE). Genoino fez o mesmo com rebeldes.
Descontentes, entre eles Pellegrino e Pimentel, manifestaram-se contra um dos pilares da reforma da Previdência: a cobrança previdenciária de 11% dos funcionários públicos inativos a partir de R$ 1.058. Há resistência localizada também à fixação das idades mínimas de 55 anos (mulher) e de 60 anos (homem) para que os servidores se aposentem.
"Como líder, você não pode titubear, ainda mais sendo do PT. As propostas são do governo do qual você é um dos líderes", disse Dirceu a Pellegrino, anteontem. Mais: Dirceu avisou que, se Pellegrino não liderasse a bancada afinado com o governo, perderia, na prática, o comando das articulações. Resposta: Pellegrino se enquadrou, mas pediu que o convencimento da bancada fosse feito discretamente, para não parecer puxão de orelha.
Ontem, em reunião às 7h30 no Hotel Bonaparte, os ministros Dirceu e Berzoini foram claros com o relator Pimentel. Aconselharam-no a parar de se manifestar contra a tributação dos inativos, porque seria obrigado a recuar e ficaria mal ou, no limite, perderia a relatoria da reforma mais importante do governo.
Na reunião, estavam deputados dispostos a aparar arestas na bancada, entre eles Paulo Bernardo (PR), Virgílio Guimarães (MG), Professor Luizinho (SP), Carlito Mers (SC), Arlindo Chinaglia (SP) e Sigmaringa Seixas (DF). Pellegrino não foi chamado.

Bode e cartilha
O grupo moderado fez duas exigências: 1) ter certeza de que não há bode na reforma (medida dura colocada para ser retirada em negociação) e 2) que Genoino só fizesse a reunião do Diretório Nacional para fechar questão em definitivo sobre as reformas depois de o grupo ter tido tempo para diminuir as resistências na bancada e isolar os mais radicais.
"Só não podemos defender a cobrança dos inativos e depois o [deputado radical do PT-PA] Babá aparecer como o herói que a derrubou. Tem bode ou não tem bode?", perguntou Paulo Bernardo, expoente da ala moderada e futuro relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Dirceu foi claro: "Não há bode na reforma. O Congresso tem autonomia para apreciar a proposta e até mudá-la, mas o PT não pode chegar dividido na votação. Lula enviará a proposta no dia 30".
Berzoini completou, lembrando que lançará campanha agressiva de mídia pró-reforma da Previdência e prometendo enviar na segunda-feira a todos os diretórios do PT e a sindicatos uma cartilha com perguntas e respostas sobre a reforma.
Paulo Bernardo sintetizou a posição do grupo: "Se há pessoas importantes, como o líder da bancada, com dúvidas cruéis em relação à reforma, temos de ter tempo para convencê-los". Vice-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho emendou: "Não sinto na base do PT a resistência à cobrança dos inativos que há na bancada do partido na Câmara".
Ficou acertado que na próxima segunda-feira Berzoini se reunirá com a bancada às 14h. E Dirceu, às 20h. Assim, os moderados avaliam que terão isolado os realmente radicais, com os deputados Babá (PA), Lindberg Farias (RJ) e Luciana Genro (RS).
Presente ao café da manhã no hotel, Genoino adiou a idéia de convocar logo o Diretório Nacional, mas avisou que seria fechada questão e que os rebeldes seriam ameaçados de expulsão.
Na reunião, Dirceu disse ainda que Lula cobraria os governadores a trabalhar pelas reformas. "Sabemos que as bancadas dos Estados não obedecem cegamente aos governadores, mas o maior interesse na cobrança dos inativos é deles", disse o ministro. Ontem, o governador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) levou a Lula um recado dos colegas: os governadores tucanos pressionarão suas bancadas a aprovar a reforma, desde que o PT vote unido.


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