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São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2003

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Planalto prepara punição para aliado que votar contra o governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto começou a esboçar ontem uma ofensiva para enquadrar, além do PT, os demais aliados que compõem a sua base política no Congresso. Reunido com seis ministros não-petistas, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, cobrou fidelidade.
Decidiu-se promover na próxima semana, provavelmente na terça-feira, uma reunião com pelo menos três parlamentares de cada legenda -o líder e outros dois. Busca-se neutralizar uma insatisfação que se dissemina entre os partidos.
Estiveram com Dirceu os ministros Walfrido Mares Guia (Turismo), do PTB; Ciro Gomes (Integração Nacional), do PPS; Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia), do PSB; Agnelo Queiroz (Esporte), do PC do B; Miro Teixeira (Comunicações), do PDT; e Anderson Adauto (Transportes), do PL. A reunião começou às 16h30 e terminou pouco depois das 19h.
Auxiliado pelo colega Ricardo Berzoini (Previdência), Dirceu expôs detalhes da reforma previdenciária. Ficou claro no encontro que, a despeito das resistências, o governo não abrirá mão de pontos que considera essenciais, entre eles a cobrança de uma contribuição dos inativos do setor público.
Segundo o diagnóstico feito no encontro, parte da insatisfação parlamentar deve-se à sensação de que o Planalto exclui deliberadamente os parlamentares da costura das reformas. Deputados e senadores irritaram-se com a preferência dada aos governadores de Estado, recebidos duas vezes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Daí a idéia de promover o encontro com os parlamentares.

Custo
A uma semana do envio das reformas ao Congresso, o governo passou a receber sinais de que a desatenção com o Congresso poderia custar caro. A desagregação de sua própria base ameaça comprometer a boa vontade da oposição com as reformas.
As contradições internas são abundantes. Há três dias, por exemplo, em reunião conturbada, a bancada do PTB na Câmara expôs as contradições. Debateu-se o fechamento de questão em favor das reformas.
O deputado Luiz Antonio Fleury Filho (SP) opôs-se à cobrança de contribuição do funcionalismo inativo. Revelando-se ele próprio aposentado, disse que não tinha como votar a favor.
Houve contradição com o deputado Roberto Jefferson (RJ). Líder do PTB na Câmara, Jefferson disse que precisaria se apresentar "com o exército unido". Perderia força, se tivesse que deixar a "tropa" de 46 deputados como bem entendesse. Os petebistas reclamam cargos prometidos e ainda não cedidos pelo governo.
No PPS, o líder Roberto Freire (PE) diz que também há defecções na bancada, em relação à contribuição dos inativos. Mas que a tendência é que o partido vote a favor. Desde que o PT faça o mesmo. Em relação à tributária acha "inaceitável" que o governo se esquive do essencial: a cobrança no destino do IVA (Imposto sobre Valor Agregado): "Não será com o Fome Zero que irá se distribuir renda", diz.
O PDT tinha reunião marcada para ontem à noite, em meio a boatos de rompimento com o governo e até mesmo da saída do ministro Miro Teixeira do partido, caso o partido se oponha às reformas. Leonel Brizola diz que tem "estranhado" a política econômica do governo, que considera conservadora, mas que não proporá o rompimento.
O deputado Eduardo Campos (CE), líder do PSB na Câmara, disse que as discussões legislativas podem levar a uma proposta "mais justa, juridicamente perfeita e que tenha a cara do governo". O PSB é um dos aliados que resistem à taxação dos inativos e ao teto de R$ 2.400.
(JOSIAS DE SOUSA, RAYMUNDO COSTA e RANIER BRAGON)


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