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Planalto prepara punição para aliado que votar contra o governo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto começou
a esboçar ontem uma ofensiva para enquadrar, além do PT, os demais aliados que compõem a sua
base política no Congresso. Reunido com seis ministros não-petistas, o chefe da Casa Civil, José
Dirceu, cobrou fidelidade.
Decidiu-se promover na próxima semana, provavelmente na
terça-feira, uma reunião com pelo
menos três parlamentares de cada
legenda -o líder e outros dois.
Busca-se neutralizar uma insatisfação que se dissemina entre os
partidos.
Estiveram com Dirceu os ministros Walfrido Mares Guia (Turismo), do PTB; Ciro Gomes (Integração Nacional), do PPS; Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia),
do PSB; Agnelo Queiroz (Esporte), do PC do B; Miro Teixeira
(Comunicações), do PDT; e Anderson Adauto (Transportes), do
PL. A reunião começou às 16h30 e
terminou pouco depois das 19h.
Auxiliado pelo colega Ricardo
Berzoini (Previdência), Dirceu
expôs detalhes da reforma previdenciária. Ficou claro no encontro que, a despeito das resistências, o governo não abrirá mão de
pontos que considera essenciais,
entre eles a cobrança de uma contribuição dos inativos do setor
público.
Segundo o diagnóstico feito no
encontro, parte da insatisfação
parlamentar deve-se à sensação
de que o Planalto exclui deliberadamente os parlamentares da
costura das reformas. Deputados
e senadores irritaram-se com a
preferência dada aos governadores de Estado, recebidos duas vezes pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Daí a idéia de promover o encontro com os parlamentares.
Custo
A uma semana do envio das reformas ao Congresso, o governo
passou a receber sinais de que a
desatenção com o Congresso poderia custar caro. A desagregação
de sua própria base ameaça comprometer a boa vontade da oposição com as reformas.
As contradições internas são
abundantes. Há três dias, por
exemplo, em reunião conturbada,
a bancada do PTB na Câmara expôs as contradições. Debateu-se o
fechamento de questão em favor
das reformas.
O deputado Luiz Antonio
Fleury Filho (SP) opôs-se à cobrança de contribuição do funcionalismo inativo. Revelando-se ele
próprio aposentado, disse que
não tinha como votar a favor.
Houve contradição com o deputado Roberto Jefferson (RJ). Líder do PTB na Câmara, Jefferson
disse que precisaria se apresentar
"com o exército unido". Perderia
força, se tivesse que deixar a "tropa" de 46 deputados como bem
entendesse. Os petebistas reclamam cargos prometidos e ainda
não cedidos pelo governo.
No PPS, o líder Roberto Freire
(PE) diz que também há defecções na bancada, em relação à
contribuição dos inativos. Mas
que a tendência é que o partido
vote a favor. Desde que o PT faça
o mesmo. Em relação à tributária
acha "inaceitável" que o governo
se esquive do essencial: a cobrança no destino do IVA (Imposto
sobre Valor Agregado): "Não será
com o Fome Zero que irá se distribuir renda", diz.
O PDT tinha reunião marcada
para ontem à noite, em meio a
boatos de rompimento com o governo e até mesmo da saída do
ministro Miro Teixeira do partido, caso o partido se oponha às
reformas. Leonel Brizola diz que
tem "estranhado" a política econômica do governo, que considera conservadora, mas que não
proporá o rompimento.
O deputado Eduardo Campos
(CE), líder do PSB na Câmara,
disse que as discussões legislativas
podem levar a uma proposta
"mais justa, juridicamente perfeita e que tenha a cara do governo".
O PSB é um dos aliados que resistem à taxação dos inativos e ao teto de R$ 2.400.
(JOSIAS DE SOUSA, RAYMUNDO COSTA e RANIER BRAGON)
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