São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Pedras financiam armas, jóias e camionetes

DA AGÊNCIA FOLHA, EM ESPIGÃO D'OESTE (RO)

A lista é ampla: camionetes Toyotas Hilux ou Mitsubishi L 200, jóias, armas de fogos como espingardas calibre 12, imóveis em Cacoal (480 km de Porto Velho) e pá-carregadeiras.
Todos esses bens foram comprados pelos índios cintas-largas com o dinheiro obtido pela venda de diamantes a contrabandistas. Mas não termina por aí: o líder João Cinta Larga construiu uma pequena hidrelétrica na reserva com o lucro do garimpo e um depósito para óleo diesel.
Segundo ele, a usina gera energia para a aldeia.
Nas cidades vizinhas, os índios estão entre os grandes consumidores. Costumam também freqüentar casas de prostituição, de acordo com o relato de moradores e comerciantes.
Em entrevista à Agência Folha em dezembro do ano passado, o índio Pandere Cinta Larga, gerente do garimpo na terra Roosevelt, disse que os índios resolveram assumir em agosto de 2003 o controle da exploração de diamante devido à falta de recursos da Funai (Fundação Nacional do Índio) para as aldeias.
Em 2002, a Funai apontou em relatório a falta de verbas para atender os índios.
Pandere afirmou na época que a intenção da etnia é legalizar o garimpo. Eles querem vender as pedras para a Caixa Econômica Federal, mas isso depende de o governo aprovar legislação para regularizar a atividade de extração em terra indígena.
Na versão de Pandere, a extração de diamantes beneficia todas as aldeias dos cintas-largas. Como a atividade não é legalizada, segundo a argumentação dos índios, eles não teriam tido outra alternativa e passaram a negociar com os contrabandistas.
Uma parte dos recursos obtidos com a venda das pedras -Pandere não revela quanto- vai para a expansão da mineração.
Em dezembro, o gerente planejava construir um alojamento na área do garimpo. Segundo a Polícia Federal, que sobrevoou a área na semana passada, as casas já foram construídas.



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