São Paulo, domingo, 25 de abril de 2004

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BRASIL PROFUNDO

"A gente só vê o diamante quando pega", é o protesto em RO

Índios pagam comissão por pedra, afirma garimpeiro

DA AGÊNCIA FOLHA

DA AGÊNCIA FOLHA, EM ESPIGÃO D'OESTE (RO)

Garimpeiros de Espigão d'Oeste (540 km de Porto Velho) ouvidos pela Agência Folha dizem que ganham dos índios R$ 500 por uma pedra avaliada em R$ 1 milhão.
"A gente só vê diamante quando pega. Depois fica tudo com os índios", disse um garimpeiro, repetindo a reclamação de outros.
Nos municípios de Cacoal, Pimenta Bueno e Espigão d'Oeste, os garimpeiros somam 5.000, segundo o sindicato da categoria.
Muitos são chamados de "rodados", porque trabalham com equipamento manual, invadem a terra dos cintas-largas pela mata e podem morrer ou ser presos, se forem descobertos pelos índios.
A garimpeira Orilza Cardoso Cruz, 38, afirma que encontrou uma pedra de dois quilates e a escondeu na mata para não ter que entregá-la aos índios. Calcula que poderia vendê-la por R$ 20 mil.
Ela diz que estava na terra indígena quando os cintas-largas atacaram um grupo de garimpeiros, matando ao menos 29, no dia 7. Ela conta ter fugido pela mata.
"Acho muito difícil encontrar a pedra agora", disse, durante o cortejo fúnebre na sexta-feira de nove dos garimpeiros mortos.
Robson Lugon de Souza, 36, o Pardal, afirma que chegou a ganhar R$ 140 mil em dois dias. Isso foi em 2002, antes de os índios dominarem o garimpo, diz.
Em janeiro de 2003, a Funai (Fundação Nacional do Índio) e a Polícia Federal retiraram 5.000 garimpeiros que trabalhavam em terras indígenas. O coordenador da ação, o funcionário da Funai Walter Blós, é apontado pelos garimpeiros como chefe do esquema de contrabando na terra indígena. Sete meses depois, os cintas-largas teriam assumido o controle da extração de diamantes.
"A polícia já me investigou. Se eu tivesse algo com isso, estaria preso", diz Blós, que está em Porto Velho, sob proteção policial.
De janeiro a março deste ano, o Brasil exportou de modo legal 51.952 quilates de diamantes, no valor de US$ 5,98 milhões (R$ 17,32 milhões), de acordo com o Ministério de Minas e Energia.
A PF estima que só o garimpo dos cintas-largas movimente ilegalmente o equivalente a R$ 40 milhões por mês.
Segundo a Funai, em 2002, o garimpo enviou irregularmente para o exterior US$ 50 milhões (R$ 145,55 milhões) por mês.
(SÍLVIA FREIRE E HUDSON CORRÊA)

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