|
Texto Anterior | Índice
RELIGIÃO
Progressistas e conservadores apóiam posição de d. Marcelo Carvalheira, expressa em congresso da CNBB
Bispos defendem saques a supermercados
do enviado especial a Itaici
O apoio a saques de supermercados por pessoas "famintas ou
desesperadas", feita anteontem
pelo arcebispo de João Pessoa
(PB), d. Marcelo Pinto Carvalheira, foi defendida ontem por bispos
de todas as correntes da igreja.
Eles estão reunidos na 36ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil).
A afirmação de d. Marcelo foi
feita em um contexto de crítica ao
governo federal, que, segundo ele,
contribui com a fome no país ao
não realizar a reforma agrária. O
Planalto não comentou o caso.
D. Marcelo Carvalheira, que é ligado ao clero chamado progressista, recebeu o apoio até de expoentes do grupo conservador da
CNBB, como o bispo de Jundiaí
(SP), d. Amaury Castanho.
"Há pouco tempo, eu recomendei a uma doméstica, que me
disse no confessionário que tinha
quatro filhos passando fome, que
pegasse o que precisasse para a sua
família da despensa do patrão",
disse d. Amaury.
A assembléia da CNBB começou
na quarta-feira e vai até o dia 1º de
maio em Itaici, distrito de Indaiatuba (110 km de São Paulo).
Segundo d. Amaury, aceitar que
alguém faminto roube para comer
é uma doutrina muito antiga.
"No século 4, São João Crisóstomo já defendia essa tese."
Outro integrante do clero conservador, o bispo de São Miguel
Paulista (zona leste de São Paulo),
d. Fernando Legal, também
apoiou d. Marcelo.
"Roubar para comer é aceito
pela igreja. Trata-se de um princípio que consta da nossa teologia
moral há muitos séculos", disse.
Para d. Fernando, em caso de
necessidade, os bens adquirem
"dimensão social". Mas ele
completa: "Não se trata de incentivar o saque, isso só deve
ocorrer em situações realmente
extremas".
Na mesma linha, o bispo de Vacaria (RS), d. Orlando Dotti,
ex-presidente da Comissão Pastoral da Terra e expoente progressista, acredita ser justificável o saque.
D. Orlando afirma que essa doutrina está colocada de maneira clara no documento "Gaudium et
Spes" (Alegria e Esperança, em latim), publicado pela igreja a partir
das conclusões do Concílio Vaticano 2º (que terminou em 64).
O arcebispo de Palmas (TO), d.
Alberto Taveira, identificado como moderado, é mais cauteloso
que seus colegas ao tratar da defesa do saque. "Eu nunca vi um
bispo incentivar saques." Mas ressaltou que a posição da igreja é a
de apoiar os saqueadores em caso
de necessidade.
Segundo d. Tomás Balduíno,
bispo de Goiânia e integrante do
clero progressista, roubar para comer é uma doutrina de São Tomás
de Aquino, do século 4º.
Sua posição é compartilhada pelo bispo Mauro Morelli, de Duque
de Caxias (RJ).
UDR
Para Tânia Tenório de Farias,
presidente da UDR (União Democrática Ruralista) no Pontal do Paranapanema, os saques são uma
"transgressão da lei".
José Rainha Jr., líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra, considera a defesa dos
saques é correta. O presidente nacional da Ordem dos Advogados
dos Brasil, Reginaldo de Castro,
disse entender "a indignação"
de d. Marcelo, mas ressaltou que é
preciso achar saídas legais.
Colaborou a Reportagem Local
Texto Anterior | Índice
|