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OMBUDSMAN
As respostas ao teste de ética
MARIO VITOR SANTOS
Há momentos em que o profissional de imprensa tem à sua
frente aquilo que é a razão de
todo o seu esforço: a informação, a fotografia, a ilustração,
o furo. Mas será que eles devem
ser sempre publicados, em
qualquer situação?
Cerca de um mês atrás, os
leitores foram desafiados nesta
coluna a responder a um teste
de ética jornalística. Algumas
situações foram extraídas de
fatos que efetivamente ocorreram. Outras eram fictícias.
Foram apresentadas cinco situações. Para cada uma havia
duas alternativas de resposta.
Uma das situações colocava em
foco o local da publicação de
uma foto, outra questionava se
conseguir a informação é sempre o objetivo número um do
profissional.
As restantes examinavam a
consistência da informação obtida, o poder de indução de
uma "receita" de bomba, a
conveniência de divulgar o nome de um assassino em um seriado de mistério.
Responderam ao teste 336 leitores; 218 eram estudantes da
PUC de Minas, Universidade
de Mogi das Cruzes, Faculdades Reunidas Sta. Cruz, de Curitiba, e de um colégio, a Escola
Experimental da Lapa, em São
Paulo. O mesmo teste foi respondido por 12 editores da Folha.
É interessante notar que, à
exceção de duas perguntas (as
de número três e quatro), leitores e editores optaram, majoritariamente, por decisões divergentes. Não houve unanimidade a favor de nenhuma alternativa, nem mesmo no restrito
colégio de editores que responderam.
Leitores e editores discordaram sobre se o jornal deveria
usar, na Primeira Página, fotografia da queda do presidente
Fernando Henrique ao subir
num palanque. A maioria dos
leitores respondeu que não. A
maioria dos editores disse sim.
Eu, nessa questão, estaria
com os leitores. A Folha publicou a foto em sua capa.
O professor de Filosofia Política da Universidade de São
Paulo Renato Janine Ribeiro
não tem uma resposta precisa
para essa questão. Diz Janine
Ribeiro: "Estou convencido de
que é inadmissível escolher as
piores fotos para publicar:
aquelas em que o adversário é
demonizado, aparece com esgares etc. Mas, no caso de um
'fait-divers', como o suposto
tropeção, não tenho certeza. Só
me parece significativo o fato
de a própria questão ser posta.
Significa que aquilo que construía um razoável consenso
(em face de Figueiredo, ou de
Collor em sua agonia) agora já
não o constrói. Significa, ainda, que só a recepção ditará as
regras sobre isso. Se ela for bem
acolhida, seu papel de metáfora ou alegoria terá tido validade. Se não o for, é porque os
leitores não entendem que o
governo estará tropeçando.
Mas noto que essa solução não
tem nada de ético. É, simplesmente, de oportunidade. O que
é um tanto decepcionante".
Leitores e editores também
estiveram às turras quanto a
qual seria a atitude correta de
um fotógrafo presente na hora
do tropeção: fazer a foto ou
ajudar o presidente -e perdê-la.
A questão implica algo de
fundo: jornalistas muitas vezes
presenciam fatos que demandam uma de duas atitudes, o
distanciamento de quem registra ou a proximidade de quem
intervém. Ajudar um ser humano é motivo de elogio, até
quando um repórter vem alterar os fatos com sua atitude. O
distanciamento jornalístico
tem limites éticos. Essa demarcação varia, porém, em função
das características da informação, do seu valor, da capacidade de intervenção do repórter.
O estudante Pedro Maciel
Guimarães Júnior, da PUC de
Minas, apresenta ainda uma
alternativa ao editor cujo fotógrafo tenha perdido a foto: informar que "o repórter do meu
jornal foi o único que tentou
ajudar o presidente. Tentaria
arrumar uma foto que mostrasse, pelo menos, o repórter
próximo ao presidente".
Na questão seguinte (3), houve a única coincidência entre
editores e leitores, em sua
maioria. Os dois grupos, e eu
também, acham em maioria
que vale a pena omitir informações quando elas não estão
suficientemente checadas, apesar de serem fornecidas por autoridade policial.
Para o editor do caderno de
Imóveis da Folha, Mauro Teixeira, um dos que responderam
à consulta, não há nem discussão: "Esse tipo de coisa, tão comum em nossos jornais, já resultou em casos como o da Escola Base e do 'sequestroï do
garoto na zona sul". Vale notar que entre leitores e editores
houve quantidade considerável
de respostas favoráveis à publicação.
O caso número quatro traz o
dilema sobre até que ponto a
informação induz comportamentos negativos. É atual,
quando se noticia que os jovens
que incendiaram um índio pataxó em Brasília imitavam um
quadro que teriam assistido na
TV. Os editores da Folha se dividiram em partes iguais.
A leitora Elisa Almeida França não entende como pode haver dúvida sobre questão tão
arriscada. Eu também não publicaria. Como relata Gina Lubrano, representante dos leitores do "The San Diego
Union-Tribune", nosso colega
Phil Record, ombudsman do
"Fort Worth Star-Telegram",
recebeu 35 telefonemas de leitores que leram o desenho como "instruções para produção
de uma bomba".
Finalmente, a questão cinco
aborda caso ocorrido aqui na
Folha , que causou muitas reclamações zangadas ao então
ombudsman Caio Túlio Costa.
Um dos leitores, sentindo-se
desrespeitado, disse que não
leu na Ilustrada a identidade
do assassino de Laura Palmer,
mas que no trabalho só se comentava isso. Os colegas acabaram contando a ele.
Finais de filmes, seriados, novelas são "segredos" preciosos.
Guardando-os de verdade, o
jornal revela respeito pelos leitores. O direito a não saber
também existe.
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