São Paulo, sábado, 25 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Partido toma cuidados para não parecer antiamericano, o que prejudicaria pré-candidatura de Lula

PT faz plebiscito para legitimar "não à Alca"

FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT está organizando um plebiscito sobre a adesão ou não do Brasil à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), em que espera ter uma chance para clarificar de uma vez por todas sua posição quanto ao tema.
Cauteloso, o partido tentará agora evitar os erros cometidos no plebiscito que apoiou em 2000, em que o resultado foi a rejeição do pagamento da dívida externa.
A questão do livre comércio estará no topo da agenda petista durante a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Nos últimos meses, o presidenciável deu declarações polêmicas e desencontradas a respeito do assunto, o que gerou críticas no empresariado e entre seus adversários.
Atacou, por exemplo, as leis antidumping norte-americanas que dificultam a entrada do aço brasileiro naquele país. Nesta semana, contudo, defendeu os métodos protecionistas dos EUA, dizendo que servem de modelo ao Brasil.
O plebiscito deve ocorrer na primeira semana de setembro, terminando no dia da Independência (7 de setembro). Ele é organizado conjuntamente com outros partidos de esquerda e entidades como Central Única dos Trabalhadores, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Anexação
"Vamos deixar claro que não somos contra o livre comércio em si, somos contra a maneira como a Alca está sendo pensada", diz o secretário nacional de Mobilização do PT, Francisco Campos.
O próprio Lula tem reforçado esta posição, dizendo que, a vingar o modelo defendido pelos EUA, será não uma política de "integração", mas de "anexação".
Há dois anos, o PT se engajou em um plebiscito em que 95% dos votantes defenderam o não-pagamento da dívida externa. Reservadamente, petistas reconhecem que foi um equívoco, já que Lula hoje se esforça para dizer que não vai quebrar compromissos internacionais.
Com frequência, contudo, a legenda é cobrada pelo apoio dado ao plebiscito. Um dos que não deixam o fato ser esquecido é o ministro Pedro Malan (Fazenda).
O PT agora terá o cuidado de não se pôr frontalmente contra o livre comércio ou -o que seria pior- não parecer anti-EUA.
A Folha apurou que setores radicais do partido, da CUT e de outras legendas que organizam a consulta, como o PSTU, querem um plebiscito mais crítico aos norte-americanos. As alas moderadas do PT, no entanto, têm força para derrubar a sugestão e emplacar um formato moderado.
O texto exato da pergunta ainda não foi definido. Será escolhido em uma plenária especial em São Paulo nos dias 3 e 4 de junho, que será monitorada de perto pelo PT. A formulação deverá ter a linha: "Você é contra ou a favor da forma como a Alca é implantada?"
O plebiscito não tem força legal, mas servirá para avalizar a posição do PT sobre o tema. Espera-se uma vitória maciça da alternativa defendida pelo partido.

Compensação
O partido defende que a Alca preveja um mecanismo de compensação a regiões mais pobres do continente, no modelo do que foi feito pela União Européia.
O PT espera que mais pessoas participem do atual plebiscito do que do anterior, em que 6 milhões compareceram às urnas. "O clima eleitoral deve ajudar na divulgação e mobilização para o plebiscito", afirma Campos.
A idéia petista é fazer uma grande divulgação do evento, inclusive com material preparado pelo marqueteiro do partido, Duda Mendonça.
A legenda também quer transformar o debate em tema prioritário da campanha, apesar da aridez do tema. Os partidários de Lula querem apontar a "fraqueza" do atual governo na defesa dos interesses do Brasil.
"Se relacionarmos o livre comércio à questão do emprego, o assunto pode "pegar" na campanha", diz Campos.
A Alca englobaria 34 países (a exceção é Cuba, que segue um regime comunista), formando uma zona em que as tarifas de importação e exportação da maioria dos produtos seria zerada.
Pelo cronograma preliminar, a implantação se daria em 2005, mas pode ser atrasada em razão do receio brasileiro de ser "engolido" pela economia dos Estados Unidos, que detêm cerca de 70% do PIB da área.
O Brasil receia que parte importante de suas empresas acabe destruída pela ação de suas concorrências norte-americanas. Ao mesmo tempo, o governo critica a pouca disposição dos EUA em rever seus subsídios e políticas de cotas a produtos brasileiros.



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