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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Partido toma cuidados para não parecer antiamericano, o que prejudicaria pré-candidatura de Lula
PT faz plebiscito para legitimar "não à Alca"
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
O PT está organizando um plebiscito sobre a adesão ou não do
Brasil à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), em que espera ter uma chance para clarificar de uma vez por todas sua posição quanto ao tema.
Cauteloso, o partido tentará
agora evitar os erros cometidos
no plebiscito que apoiou em 2000,
em que o resultado foi a rejeição
do pagamento da dívida externa.
A questão do livre comércio estará no topo da agenda petista durante a campanha presidencial de
Luiz Inácio Lula da Silva. Nos últimos meses, o presidenciável deu
declarações polêmicas e desencontradas a respeito do assunto, o
que gerou críticas no empresariado e entre seus adversários.
Atacou, por exemplo, as leis antidumping norte-americanas que
dificultam a entrada do aço brasileiro naquele país. Nesta semana,
contudo, defendeu os métodos
protecionistas dos EUA, dizendo
que servem de modelo ao Brasil.
O plebiscito deve ocorrer na primeira semana de setembro, terminando no dia da Independência (7 de setembro). Ele é organizado conjuntamente com outros
partidos de esquerda e entidades
como Central Única dos Trabalhadores, Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) e
Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST).
Anexação
"Vamos deixar claro que não
somos contra o livre comércio em
si, somos contra a maneira como
a Alca está sendo pensada", diz o
secretário nacional de Mobilização do PT, Francisco Campos.
O próprio Lula tem reforçado
esta posição, dizendo que, a vingar o modelo defendido pelos
EUA, será não uma política de
"integração", mas de "anexação".
Há dois anos, o PT se engajou
em um plebiscito em que 95% dos
votantes defenderam o não-pagamento da dívida externa. Reservadamente, petistas reconhecem
que foi um equívoco, já que Lula
hoje se esforça para dizer que não
vai quebrar compromissos internacionais.
Com frequência, contudo, a legenda é cobrada pelo apoio dado
ao plebiscito. Um dos que não
deixam o fato ser esquecido é o
ministro Pedro Malan (Fazenda).
O PT agora terá o cuidado de
não se pôr frontalmente contra o
livre comércio ou -o que seria
pior- não parecer anti-EUA.
A Folha apurou que setores radicais do partido, da CUT e de outras legendas que organizam a consulta, como o PSTU, querem
um plebiscito mais crítico aos norte-americanos. As alas moderadas do PT, no entanto, têm força para derrubar a sugestão e emplacar um formato moderado.
O texto exato da pergunta ainda
não foi definido. Será escolhido
em uma plenária especial em São
Paulo nos dias 3 e 4 de junho, que
será monitorada de perto pelo PT.
A formulação deverá ter a linha:
"Você é contra ou a favor da forma como a Alca é implantada?"
O plebiscito não tem força legal,
mas servirá para avalizar a posição do PT sobre o tema. Espera-se
uma vitória maciça da alternativa
defendida pelo partido.
Compensação
O partido defende que a Alca
preveja um mecanismo de compensação a regiões mais pobres
do continente, no modelo do que
foi feito pela União Européia.
O PT espera que mais pessoas
participem do atual plebiscito do
que do anterior, em que 6 milhões
compareceram às urnas. "O clima
eleitoral deve ajudar na divulgação e mobilização para o plebiscito", afirma Campos.
A idéia petista é fazer uma grande divulgação do evento, inclusive
com material preparado pelo
marqueteiro do partido, Duda
Mendonça.
A legenda também quer transformar o debate em tema prioritário da campanha, apesar da aridez do tema. Os partidários de
Lula querem apontar a "fraqueza" do atual governo na defesa
dos interesses do Brasil.
"Se relacionarmos o livre comércio à questão do emprego, o
assunto pode "pegar" na campanha", diz Campos.
A Alca englobaria 34 países (a exceção é Cuba, que segue um regime comunista), formando uma zona em que as tarifas de importação e exportação da maioria dos
produtos seria zerada.
Pelo cronograma preliminar, a
implantação se daria em 2005,
mas pode ser atrasada em razão
do receio brasileiro de ser "engolido" pela economia dos Estados
Unidos, que detêm cerca de 70%
do PIB da área.
O Brasil receia que parte importante de suas empresas acabe destruída pela ação de suas concorrências norte-americanas. Ao
mesmo tempo, o governo critica a
pouca disposição dos EUA em rever seus subsídios e políticas de
cotas a produtos brasileiros.
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