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JUSTIÇA
José Carlos Alves dos Santos, que vai a julgamento por morte de sua mulher, diz ter informações inéditas
Economista acusa 'anões do Orçamento'
AUGUSTO GAZIR
LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília
A defesa de José Carlos Alves dos
Santos, ex-diretor de Orçamento
do Congresso, que começa a ser
julgado amanhã sob a acusação de
mandar matar sua mulher, Ana
Elizabeth, será culpar os "anões
do Orçamento" pelo crime.
Operador de uma das maiores
redes de corrupção do país, José
Carlos, 55, diz que os "anões"
-ex-parlamentares mentores do
esquema- mandaram matar sua
mulher por "queima de arquivo".
"João Alves (ex-deputado) está
enterrado nisso até o pescoço. Não
tenho dúvida nenhuma que foram
os 'anões do Orçamento' ", disse.
Contra José Carlos pesa o fato de
os assassinos confessos -o detetive Lindauro da Silva e o mecânico
Valdei de Souza, já condenados-
o apontarem como o mandante.
"O poder está aí atrás, tentando
tampar esse negócio", disse José
Carlos, preso há quatro anos.
Folha - O sr. matou sua mulher?
José Carlos A. dos Santos -Claro que não.
Folha - Qual é a sua versão?
José Carlos - Depois do jantar,
estávamos voltando para casa.
Passa um cara num carro e aponta
como se tivéssemos com um pneu
furado. Parei e olhei os pneus.
Chegou um sujeito moreno e barbudo, me empurrou para dentro
do carro. Mandou a gente subir
uma estradinha de terra. Lá, ele
mandou parar. Chegou um outro,
mais claro e alto. Mandou descer
do carro e abrir o porta-malas.
Entrei no porta-malas e não vi
mais nada. Andamos para burro,
paramos duas vezes, rapidamente.
Na terceira, alguém bateu no porta-malas e disse para ficar quieto,
porque alguém iria me pegar, e
que eles só queriam dinheiro.
Esperei um tempão, ouvi barulho de carro e comecei tentar sair.
Consegui soltar as mãos amarradas, mexendo os braços. Tentei
forçar o porta-malas, mas a tampa
não abria. Numa hora, abriu. Tem
um lugar no fecho automático
que, quando você encosta, abre.
Folha - Crislene Oliveira, então
amante do sr., disse que seu jantar
com Ana Elizabeth era para acertar
a separação.
José Carlos - Liguei para ela
nesse dia e cai na besteira de falar
que ia jantar com Beth. A gente
sente a mancada que deu, a gente
está enrolando a menina... Eu disse
a ela que era jantar de separação.
Folha - O sr. mentiu para ela?
José Carlos - Mas isso é óbvio.
Folha - E sobre o Lindauro.
José Carlos - Tive uma ligação
anterior, o contratei num anúncio
de classificados.
Folha - Por que o sr. o contratou?
José Carlos - Quando Crislene
chegou para mim e contou que estava grávida. Achei que o filho era
meu. Ela me falava que não, desesperada, e me dizia que se encontrava com um rapaz. Fui saber se
era verdade ou não.
Folha - O sr. espera explicar que
o contratou para um trabalho e ele
matou sua mulher sem sua ordem?
José Carlos - Nós temos provas
de que ele trabalhava para pelo
menos duas pessoas. Sabemos que
o Lindauro tinha relação com os
parlamentares. Os indicativos vão
ser colocados no julgamento.
Folha - Quem matou sua mulher?
José Carlos - Acho que foram
eles mesmo. João Alves está enterrado nisso até o pescoço. Não tenho dúvida nenhuma de que foram os "anões do Orçamento".
Eles tinham medo dela, pois achavam que a gente estava se separando. Sabiam como ela era e o que ela
reclamava para eles.
Folha - Por que o Lindauro iria
dizer que foi o sr. o mandante?
José Carlos - Quanto ele ganhou? Pelo que a gente está sabendo, é mais de US$ 500 mil. Isso é
preço para matar uma pessoa? Para matar uma pessoa você arranja
por muito mais barato que isso.
Ele está levando dinheiro para
assumir o crime e sair numa boa,
com proteção. Senão, está arriscado a morrer. O poder está aí atrás,
tentando tampar esse negócio. Esse pessoal, as empreiteiras, quer
manter o status e acabar comigo.
Folha - O sr. tem informações
não ditas na CPI do Orçamento?
José Carlos - Tenho. Isso é meu
seguro de vida. Está tudo escrito.
Quando eu morrer, sai. De morte
matada ou morte morrida.
Folha - Como é que se entra numa rede de corrupção?
José Carlos - Na primeira vez,
ganhei (de João Alves) um pacote
com cerca de US$ 20 mil. Vou falar
o que? Negar? Mereço mesmo, trabalho, dou um duro danado. Aceitei, como se fosse um presente.
Você vai naquela: não estou fazendo nada, é ele que está fazendo. Era
o que eu falava em casa para Beth.
Eu só dou as informações.
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