São Paulo, segunda-feira, 25 de junho de 2001

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Geógrafo publicou mais de 40 livros e recebeu 20 títulos "honoris causa"

DO BANCO DE DADOS

Um dos intelectuais mais conhecidos do Brasil, o geógrafo Milton Santos, 75, recebeu 20 títulos "honoris causa" pelo mundo. Foi o único pesquisador fora do mundo anglo-saxão a receber, em 1994, o prêmio Vautrin Lud, o "Prêmio Nobel" da geografia.
Publicou mais de 40 livros (veja quadro ao lado) e 300 artigos. Foi consultor da OIT (Organização Internacional do Trabalho), OEA (Organização dos Estados Americanos) e Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura).
Conciliava seu trabalho acadêmico com a participação na Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, da qual fazia parte desde 91, e no Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano. Escrevia regularmente na seção "Brasil 501 d.C." do Mais!.
Milton de Almeida Santos nasceu a 3 de maio de 1926, em Brotas de Macaúba, na Chapada Diamantina (BA). Filho de professores primários, aprendeu a ler e a escrever aos cinco anos. Só foi matriculado num ginásio aos dez anos -o Instituto Baiano de Ensino, em Salvador. Aos 15 anos, dedicava suas horas de folga a ensinar colegas menores do colégio.
Descendente de escravos emancipados antes da Abolição, Santos chegou a pensar em cursar engenharia, mas desistiu quando o alertaram que havia resistência aos negros na Escola Politécnica.
Isso não impediu que enfrentasse várias manifestações de racismo. Durante a fundação da Associação dos Estudantes Secundários da Bahia, da qual Milton Santos participou ativamente, foi convencido a não se candidatar ao cargo de presidente: seus colegas argumentaram que, como ele era negro, não seria capaz de conversar com as autoridades.
Terminado o ginásio, Milton seguiu para a Universidade Federal da Bahia, onde formou-se em direito, em 1948. Dez anos depois, Milton Santos tornou-se doutor em geografia, pela Universidade de Estrasburgo (França).
Milton Santos também atuou como jornalista, tendo acompanhado Jânio Quadros numa viagem a Cuba, em 1960, época em que já era um geógrafo conhecido em seu Estado. Tornou-se amigo e profundo admirador de Jânio, chegando a ser subchefe da Casa Civil e representante do governo federal em seu Estado. Mas se decepcionou com a renúncia, em 61.
Em 1964, presidiu a Comissão Estadual de Planejamento Econômico, órgão do governo baiano. Durante sua permanência na comissão, Milton Santos foi autor de propostas polêmicas, como a de criar um imposto sobre fortunas.
No regime militar, Milton Santos combinava as atividades de redator do jornal "A Tarde", de Salvador, e a de professor universitário, defendendo posições nacionalistas. Acabou sendo demitido da Universidade Federal da Bahia e passou 60 dias preso em Salvador. Só foi libertado porque sofreu um princípio de infarto.
Aconselhado por amigos, aceitou convite para lecionar no exterior. Foi professor das universidades de Toulouse, Bordeaux e Paris (França); Toronto (Canadá); Lima (Peru); Dar Assalaam (Tanzânia; Columbia (EUA); Central de Venezuela e Zulia (Venezuela). Voltou definitivamente ao Brasil em 1977, para lecionar na USP.



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