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São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2003

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CONFLITO AGRÁRIO

No interior de São Paulo, órgão ligado à CUT promove invasão

MST invade e libera cobrança de praças de pedágio no PR

Lorena Manarim/O Paraná
Carro passa por pedágio liberado pelo MST na rodovia BR-277, que liga Cascavel a Curitiba (PR)


DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
DA FOLHA RIBEIRÃO

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu e liberou de cobranças oito praças de pedágio, ontem, em diversos pontos do Paraná. Segundo a coordenação do movimento no Estado, a invasão é por tempo indeterminado. A ação ocorreu após o início de discussão, na Assembléia Legislativa do Paraná, de um projeto do governador Roberto Requião (PMDB) pelo qual o Estado encamparia os pedágios.
No início da tarde, em uma ação planejada, mais de mil integrantes do MST invadiram as oito praças de pedágio entre 13h e 14h30. Ao mesmo tempo, em Curitiba, caminhoneiros faziam buzinaço na frente da Assembléia em favor do projeto do governador. No início da noite, o projeto acabou sendo aprovado pelos deputados.
Em duas das praças, a ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias) acusa o MST de cobrar pedágio dos motoristas que passavam pelo local. As concessionárias ingressam hoje na Justiça com pedido de reintegração de posse das praças.
Edson Bagnara, da coordenação estadual do MST, negou ontem a cobrança de pedágio por parte dos sem-terra. "Não é orientação do movimento. Essa história de cobrança é uma falácia das concessionárias. O que existe é que motoristas que apóiam os protestos contribuem espontaneamente com os manifestantes."
Segundo Bagnara, foi coincidência o protesto acontecer no dia e no horário do começo da votação do projeto do governador na Assembléia. "É coincidência, o ato estava programado e a gente não sabia que o projeto ia ser votado hoje [ontem]", disse.
Outra coincidência teria sido o fato de Requião, anteontem, ter anunciado que não iria colocar a Polícia Militar para cumprir determinações de reintegração de posse contra os sem-terra. "Se o governador e o MST concordam em alguns pontos, isso é coincidência, não aliança", disse.
Coincidência ou não, Roberto Requião (PMDB) reafirmou ontem em Ivaiporã (norte do PR) seu compromisso com o MST. Requião disse que vai continuar negociando com o MST "até a exaustão". Ele disse que está "agindo com toda a paciência com o MST, para que ninguém morra no campo", e que o limite dele com o movimento "apenas começou e é grande porque devemos governar para todos, especialmente para os mais pobres".

Colina
Um grupo de cerca de 320 famílias sem terra da Feraesp (Federação dos Trabalhadores Rurais Assalariados do Estado de São Paulo), órgão que é ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores), invadiu na manhã de ontem uma fazenda em Colina (406 km a noroeste de São Paulo).
A Feraesp é o principal movimento de trabalhadores rurais sem terra na região de Ribeirão Preto. Das 1.767 famílias assentadas ou acampadas em 13 áreas, a federação conta com 1.374 famílias em oito propriedades.
A área invadida ontem foi doada pelo governador Orestes Quércia, em 1990, a uma entidade de atendimento a deficientes físicos e mentais, mas vem sem explorada irregularmente por um usineiro da região. Os sem-terra dizem que o ex-prefeito de Colina Adilson Sturaro, do PMDB, mesmo partido do ex-governador, é o responsável pela exploração. Ele possui uma propriedade que faz divisa com a área ocupada.
O ex-prefeito não foi encontrado ontem para falar do assunto. Ele também não respondeu aos cinco recados deixados em seu consultório dentário, em sua residência e na prefeitura, onde participava de uma reunião.
Oficialmente, o governo não sabe quem explora a área. A Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento informou que sua consultoria jurídica está analisando a denúncia e pode pedir judicialmente a reintegração da área.


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