|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONFLITO AGRÁRIO
Plano não pode ser apresentado fora de hora, diz presidente
Ameaça de novas invasões leva Lula a pedir paciência
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em resposta às recentes invasões promovidas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva pediu ontem
um tempo para que o governo
apresente um plano de reforma
agrária.
Ao lançar o Plano Safra da Agricultura Familiar 2003/2004, Lula
afirmou que tem de atacar um
problema de cada vez e que "tem
gente afobada" que quer que as
coisas aconteçam fora de hora.
Presente à cerimônia, João Paulo Rodrigues, membro da coordenação nacional do MST, disse que
as invasões de terra vão continuar.
Sem citar o MST, Lula disse estar tranquilo pelo fato de ter apenas cinco meses de governo. Afirmou ainda que tem a responsabilidade de não errar e que aprendeu "a contar até dez, apesar de só
ter nove dedos, que é para não cometer erros".
Anteontem, Lula havia divulgado, por meio de sua assessoria,
sua preocupação com a onda de
invasões de terra. Determinou
que os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Dulci (Secretaria
Geral) participassem das negociações e marcou uma audiência
com o MST em julho.
"Não adianta plantar seu feijãozinho e querer que ele nasça em
dez dias. Não vai nascer. Vai ter de
esperar 90 dias. Assim é a política.
As coisas não acontecem no tempo que a gente quer. Elas acontecem no tempo que a gente prepara para elas acontecerem", disse
Lula.
O presidente da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Manuel
dos Santos, ao discursar na cerimônia, cobrou de Lula a definição
da política de reforma agrária. Em
resposta, o presidente afirmou
que o ministro Miguel Rossetto
(Desenvolvimento Agrário) brevemente anunciará um programa
de reforma agrária.
Santos também reclamou que a
liberação de verbas para a agricultura familiar no governo anterior
não atingiu nem a metade do valor que era anunciado. Segundo
ele, no ano passado foram anunciados R$ 4 bilhões, mas só foram
liberados cerca de R$ 2 bilhões.
Lula anunciou R$ 5,4 bilhões e
prometeu que toda essa quantia
vai ser liberada. "Esse dinheiro
existe, não é uma ficção. E não só
o Banco do Brasil, mas o BNB
[Banco do Nordeste do Brasil] e o
Basa [Banco da Amazônia] estarão à disposição. Se esse dinheiro
não circular no tempo certo, alguém vai dançar", disse Lula.
O presidente destacou três pontos do plano de safra da agricultura familiar. Disse que o dinheiro
vai sair antes do plantio, o que não
ocorria antes; que as mulheres
poderão ter financiamento próprio, independentemente dos
seus maridos; e que os filhos dos
agricultores também terão direito
a empréstimos.
Ombudsman do MST
Miguel Rossetto rebateu as afirmações do MST de que o governo
Lula não teria assentado nenhuma família até agora. Segundo ele,
já foram assentadas 3.000 famílias
e criadas condições de assentamento para mais 7.000.
Questionado se as áreas invadidas poderiam tornar-se assentamentos, o ministro limitou-se a
responder que o governo vai
cumprir a lei -que impede a desapropriação de terras invadidas e
exclui os invasores da possibilidade de assentamento em outras
áreas.
Sobre o aumento das invasões,
Rossetto afirmou que está em
permanente contato com os movimentos sociais. "Esse respeito
institucional não significa concordância com opinião ou tática
dos diversos movimentos. O governo tem dever de dialogar permanentemente."
Ao ser questionado se considera
válidas as invasões como instrumentos de pressão, respondeu:
"O governo cumpre a lei. Eu sou
ministro, não sou ombudsman
dos movimentos. Os movimentos
respondem por suas ações perante as instituições brasileiras. Nossa responsabilidade é executar
um plano de reforma agrária."
Texto Anterior: Ruralista quer audiência com Lula Próximo Texto: Para coordenador do MST, reforma está "atrasada" Índice
|