São Paulo, sexta-feira, 25 de junho de 2004

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MEMÓRIA

25 mil homenageiam governador em São Borja (RS); o presidente do PT, José Genoino, e o ministro Aldo Rebelo vão ao enterro

Brizola é sepultado ao lado de Vargas e Jango

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO BORJA

O governador Leonel Brizola, morto na segunda-feira no Rio, foi enterrado ontem às 16h em São Borja (RS) no mesmo cemitério onde estão Getúlio Vargas e João Goulart, além da mulher do governador, Neusa Brizola.
Getúlio, Jango e Brizola foram os principais líderes do do antigo PTB (1945-1965), partido de linha nacionalista com forte presença nos sindicatos -que, na época, eram subordinados ao Ministério do Trabalho. Getúlio presidiu o país de 1951 a 1954. Jango foi vice-presidente de 1956 a 1961, e presidente até ser deposto, em 1964.
Segundo cálculos da Brigada Militar, 25 mil pessoas participaram das homenagens a Brizola no município, de 64.820 habitantes. Jornais e rádios locais lembravam uma frase dita por Brizola em São Borja, em 1979, quando voltou de seu exílio de 15 anos: "E ali, naquele momento [final do exílio], decidimos voltar por São Borja nem que tivéssemos de dar umas voltas pelo mundo inteiro. São Borja é como entrar pela porta da frente da nossa própria casa".
Mais de 7.000 pessoas acompanharam o percurso do corpo de Brizola pelas oito quadras que separam a igreja matriz do cemitério, ouvindo o Hino Nacional, o hino do Rio Grande do Sul e "Querência Amada", de Teixeirinha. No aeroporto de São Borja, 1.500 pessoas o receberam. O comércio fechou. As ruas ficaram completamente tomadas.
"Ele é o meu padrinho, ele é o meu padrinho", dizia, aos prantos, José Lorenzi, 58, professor aposentado, enquanto caminhava pelas ruas de São Borja trajando bombacha, botas e o característico lenço vermelho. Assis Pinheiro de Quevedo, 86, trajava as vestes gaúchas, carregava uma bandeira do PDT e contava histórias: seu pai era amigo de Vargas, ele trabalhou como peão para Jango e ficou amigo de Brizola.
Entre outros políticos, foram a São Borja o presidente do PT, José Genoino, o presidente da Câmara, João Paulo (PT), e o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PC do B), que receberam vaias isoladas de militantes da Força Sindical. "As vaias são um fato menor perto do que representa o grande debate de idéias proposto por Brizola", disse Genoino. Para Rebelo, "Brizola é insubstituível, suas idéias vão ficar".
Entre os parentes, destacavam-se o irmão Frutuoso Brizola e o filho José Vicente Brizola, que rompeu com o pai em 2000. Segundo ele, eles já tinham feito as pazes.
São Borja organizou-se para receber os visitantes. Foram confeccionados mil laços pretos, para serem colocados nos carros que participaram da homenagem, e 500 bandeiras. Os oito hotéis, com seus 800 quartos, ficaram lotados.
O caixão com Brizola saiu pela manhã de Porto Alegre. Sob chuva, quatro aviões com autoridades e parentes de Brizola deixaram a capital do Estado às 10h32. Antes de deixar o Palácio Piratini, Brizola recebeu honras militares, com direito a salva de tiros e marcha fúnebre. O presidente interino, José Alencar, participou do velório na manhã de ontem.


Colaborou PLÍNIO FRAGA, enviado especial a Porto Alegre


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