São Paulo, sábado, 25 de junho de 2005

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Deputado que viu mala será chamado a depor

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), disse ontem que vai chamar para depor o deputado Francisco Gonçalves Filho (PTB-MG) que afirma ter visto uma maleta, do tipo 007, cheia de notas de R$ 100, divididas em "vários blocos", circular dentro da Câmara.
O fato ocorreu, segundo o deputado, há 15 meses. "Eu nunca tinha visto tanto dinheiro", afirma Gonçalves Filho.
O conselho apura as acusações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava "mensalão" a congressistas do PP e do PL em troca de apoio e movimentava malas de dinheiro, com apoio do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Segundo Gonçalves Filho, a maleta foi aberta na frente de uma "rodinha de cinco deputados" que estavam conversando. Ele afirmou não se recordar dos nomes dos congressistas.
"Entrou um senhor bem vestido, com um terno escuro, aparentando 40 anos com a maleta no plenário. Não era deputado. Eu nunca tinha visto ele lá. Havia uns deputados numa rodinha. Ele abriu a maleta, fechou e depois saiu", afirmou Gonçalves Filho, que havia relatado a história ao "Jornal Agora", de Divinópolis (MG), sua base eleitoral.
A sessão não era de votação, informou o petebista. Segundo ele, congressistas faziam discursos no plenário. Ele também não se recordou qual tema era discutido.
Médico ginecologista e obstetra, o deputado de 56 anos de idade disse que, também por estar no primeiro mandato, não estranhou a movimentação da maleta dentro do plenário e a presença do "senhor bem vestido" que não era congressista.
"Na época eu pensei: isso deve ser algum recurso para campanha eleitoral de algum deputado. Mas, hoje não. Você já começa a ouvir falar. Depois, no princípio deste ano, eu já tinha ouvido falar do "mensalão". Aí a gente fica mais consciente de que aquele recurso poderia ser o "mensalão'", disse.

Grave
Izar disse que as declarações de seu colega são "realmente graves e ele precisa ser chamado" para depor. O requerimento para convocar o deputado vai ser colocado em votação na terça-feira.
Por meio de sua assessora, Gonçalves Filho disse querer depor no conselho. Anteontem, o deputado afirmou estar disposto também a comparecer na CPI dos Correios.
"Se tiver de prestar algum esclarecimento à CPI, eu vou sem o menor constrangimento. Mas, se for lá, vou como testemunha e não como envolvido."
"Dentro do PTB teve uma reunião no gabinete de José Múcio [PTB-PE] em que o Roberto Jefferson falou que não aceitava o "mensalão". O Múcio disse que também não. E o ministro [Walfrido Mares Guia, do Turismo] foi diferente, disse que, se existisse algum "mensalão", ele sairia do PTB", afirmou. A reunião teria ocorrido em fevereiro deste ano.
José Múcio, segundo Izar, deverá depor na quinta-feira no Conselho de Ética.


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