São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Lula se vitimiza, ataca PSDB e cola nos pobres pela reeleição

Presidente faz discurso emotivo e exibe usuários de programas sociais em convenção

Candidato acusa "forças do atraso" de tentar destrui-lo e de não ter projeto; em São Paulo, Alckmin diz que olhar para trás é um "equívoco"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 60, lançou ontem oficialmente sua candidatura à reeleição com um discurso no qual comparou números de seu governo com a era FHC, atacou a oposição, se apresentou no figurino de "pai dos pobres" vítima do preconceitos e calúnias e isentou-se de responsabilidades pelo escândalo do mensalão. Ainda prometeu colocar a educação como a prioridade zero de um segundo mandato.
Num discurso de uma hora e meia, na convenção nacional do PT em um clube de Brasília, Lula disse que seu objetivo nunca foi apenas "superávit na economia", mas o "superávit social". Prometeu aprovar a reforma política no primeiro ano de um eventual segundo mandato. Afirmou que melhorará "a qualidade do gasto público" e sinalizou que pensa em nova reforma da Previdência.
Cerca de 4.500 pessoas participaram da convenção que oficializou a dobradinha de Lula com o vice-presidente José Alencar, escolhido candidato a vice depois de a vaga ter sido oferecida a PMDB e PSB. Alencar foi chamado de "leal" e "companheiro" por Lula. Disse ainda que ele e Alencar enfrentariam na campanha "preconceitos, ódios, invejas" e que irão "demonstrar paz, humildade e muito amor ao povo brasileiro". Pediu a petistas: "Preparem não as armas. Preparem as pétalas de rosas para responder aos tiros dos adversários".
Durante o discurso na convenção, cuja maior parte foi lida num teleprompter, o presidente atacou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Além de dizer que fez mais em três anos e meio de governo do que o tucano em oito anos de gestão, alfinetou FHC ao elogiar José Sarney (PMDB-AP).
Lula pediu aos militantes que evitassem o clima de "já ganhou": "Ninguém pode sair por aí dizendo que vai ganhar no primeiro turno, que os adversários não vão dar conta do recado. Humildade, seriedade e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, nem na política nem em nenhuma atividade".

"Setores elitistas"
Ao abordar a crise do mensalão, Lula disse que a enfrentou com "tranqüilidade". Numa resposta indireta a ataques do PFL, Lula atacou "representantes de setores elitistas do país ou algum saudosista do tempo militar".
O discurso foi pontuado por frases com menções à origem social de Lula. "Vocês sabem quanto custou a cada um chegar até aqui. (...) Quanta armadilha foi preciso desmontar."
O petista disse ter frustrado apenas os que esperavam mudanças rápidas ou os que "torciam" para "dar errado". "Me sinto ainda mais maduro e preparado, pois aprendi bastante nos últimos anos, muitas vezes com sofrimento e injustiças."
Disse ter sido perseguido ao falar da crise do mensalão: "Os que me atacaram injustamente e tentaram me destruir se esqueceram que em toda a minha história eu convivi, da forma mais democrática possível, com a divergência". Ainda assim, disse não pretender "posar de vítima ou de herói".
"Se com a inexperiência que tínhamos, e com a tormenta que enfrentamos, conseguimos recuperar o Brasil, imaginem o que não poderemos fazer num segundo governo, com mais experiência e com pleno conhecimento da máquina?"

"Farol para trás"
Ao mesmo tempo em que apresentou vários números sobre sua gestão econômica, Lula enfatizou a comparação com os anos FHC: saldo comercial favorável, melhora do perfil da dívida externa, queda do desemprego, maior renda, aumento real no mínimo e programas de microcrédito.
"Pensam que o povo esqueceu o que eles fizeram com o nosso país." E bateu na oposição. "As vozes do atraso estão de volta. E como não têm uma boa obra no passado e nem propostas para o futuro fazem da agressão e da calúnia suas principais armas."
Em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, respondeu. Para o tucano, falar do passado é "colocar o farol voltado para trás".
"É um equívoco ficar comparando com o passado. Nós vamos falar do futuro. O que interessa ao povo brasileiro é discutir quem pode fazer mais nos próximos quatro anos."

"Pai dos pobres"
Lula assumiu a face de "pai dos pobres" que vem desenhando há meses. Negou que a economia seja uma prioridade em si: "Nosso objetivo nunca foi alcançar apenas o superávit mas sim uma meta mais difícil, o superávit social". Defendeu o Bolsa-Família, dizendo que o governo não "dá esmola".
O presidente pareceu segurar o choro duas vezes. Mas chegou a chorar quando lembrou de uma mulher beneficiada pelo programa Luz para Todos que disse ao marido que acendia e apagava a luz do quarto porque nunca havia visto o rosto do filho dormindo.
Falando a militantes, foi breve ao abordar o mensalão. "Nunca enfrentamos uma crise como a que se abateu sobre nós. A oposição aproveitou-se de algumas condutas equivocadas para generalizar culpas e tentar destruir o partido mais autenticamente popular do Brasil."
Coube a José Alencar puxar ontem o coro "Fora FMI" da militância petista. "Nos nossos comícios de antigamente, vocês não me conheciam, mas eu estava no meio do povo, e nós ajudávamos a gritar "Fora daqui, o FMI'", afirmou Alencar. Em seguida, os petistas repetiram as palavras de ordem.
"Nunca estivemos tão preparados para crescer como estamos", disse o vice.
(VALDO CRUZ, KENNEDY ALENCAR, EDUARDO SCOLESE, VERA MAGALHÃES, FERNANDA KRAKOVICS e FÁBIO ZANINI)


Colaborou a Reportagem Local
NA INTERNET - Leia a íntegra do discurso de Lula na convenção www.folha.com.br/061753


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