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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA
Lula se vitimiza, ataca PSDB e cola nos pobres pela reeleição
Presidente faz discurso emotivo e exibe usuários de programas sociais em convenção
Candidato acusa "forças do atraso" de tentar destrui-lo
e de não ter projeto; em São Paulo, Alckmin diz que olhar para trás é um "equívoco"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 60, lançou ontem
oficialmente sua candidatura à
reeleição com um discurso no
qual comparou números de seu
governo com a era FHC, atacou
a oposição, se apresentou no figurino de "pai dos pobres" vítima do preconceitos e calúnias e
isentou-se de responsabilidades pelo escândalo do mensalão. Ainda prometeu colocar a
educação como a prioridade zero de um segundo mandato.
Num discurso de uma hora e
meia, na convenção nacional
do PT em um clube de Brasília,
Lula disse que seu objetivo
nunca foi apenas "superávit na
economia", mas o "superávit
social". Prometeu aprovar a reforma política no primeiro ano
de um eventual segundo mandato. Afirmou que melhorará
"a qualidade do gasto público" e
sinalizou que pensa em nova
reforma da Previdência.
Cerca de 4.500 pessoas participaram da convenção que oficializou a dobradinha de Lula
com o vice-presidente José
Alencar, escolhido candidato a
vice depois de a vaga ter sido
oferecida a PMDB e PSB. Alencar foi chamado de "leal" e
"companheiro" por Lula. Disse
ainda que ele e Alencar enfrentariam na campanha "preconceitos, ódios, invejas" e que irão
"demonstrar paz, humildade e
muito amor ao povo brasileiro". Pediu a petistas: "Preparem não as armas. Preparem as
pétalas de rosas para responder
aos tiros dos adversários".
Durante o discurso na convenção, cuja maior parte foi lida num teleprompter, o presidente atacou o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Além de dizer que fez mais em
três anos e meio de governo do
que o tucano em oito anos de
gestão, alfinetou FHC ao elogiar José Sarney (PMDB-AP).
Lula pediu aos militantes que
evitassem o clima de "já ganhou": "Ninguém pode sair por
aí dizendo que vai ganhar no
primeiro turno, que os adversários não vão dar conta do recado. Humildade, seriedade e caldo de galinha não fazem mal a
ninguém, nem na política nem
em nenhuma atividade".
"Setores elitistas"
Ao abordar a crise do mensalão, Lula disse que a enfrentou
com "tranqüilidade". Numa
resposta indireta a ataques do
PFL, Lula atacou "representantes de setores elitistas do
país ou algum saudosista do
tempo militar".
O discurso foi pontuado por
frases com menções à origem
social de Lula. "Vocês sabem
quanto custou a cada um chegar até aqui. (...) Quanta armadilha foi preciso desmontar."
O petista disse ter frustrado
apenas os que esperavam mudanças rápidas ou os que "torciam" para "dar errado". "Me
sinto ainda mais maduro e preparado, pois aprendi bastante
nos últimos anos, muitas vezes
com sofrimento e injustiças."
Disse ter sido perseguido ao
falar da crise do mensalão: "Os
que me atacaram injustamente
e tentaram me destruir se esqueceram que em toda a minha
história eu convivi, da forma
mais democrática possível,
com a divergência". Ainda assim, disse não pretender "posar
de vítima ou de herói".
"Se com a inexperiência que
tínhamos, e com a tormenta
que enfrentamos, conseguimos
recuperar o Brasil, imaginem o
que não poderemos fazer num
segundo governo, com mais experiência e com pleno conhecimento da máquina?"
"Farol para trás"
Ao mesmo tempo em que
apresentou vários números sobre sua gestão econômica, Lula
enfatizou a comparação com os
anos FHC: saldo comercial favorável, melhora do perfil da
dívida externa, queda do desemprego, maior renda, aumento real no mínimo e programas de microcrédito.
"Pensam que o povo esqueceu o que eles fizeram com o
nosso país." E bateu na oposição. "As vozes do atraso estão
de volta. E como não têm uma
boa obra no passado e nem propostas para o futuro fazem da
agressão e da calúnia suas principais armas."
Em São Paulo, o candidato do
PSDB à Presidência, Geraldo
Alckmin, respondeu. Para o tucano, falar do passado é "colocar o farol voltado para trás".
"É um equívoco ficar comparando com o passado. Nós vamos falar do futuro. O que interessa ao povo brasileiro é discutir quem pode fazer mais nos
próximos quatro anos."
"Pai dos pobres"
Lula assumiu a face de "pai
dos pobres" que vem desenhando há meses. Negou que a
economia seja uma prioridade
em si: "Nosso objetivo nunca
foi alcançar apenas o superávit
mas sim uma meta mais difícil,
o superávit social". Defendeu o
Bolsa-Família, dizendo que o
governo não "dá esmola".
O presidente pareceu segurar o choro duas vezes. Mas
chegou a chorar quando lembrou de uma mulher beneficiada pelo programa Luz para Todos que disse ao marido que
acendia e apagava a luz do
quarto porque nunca havia visto o rosto do filho dormindo.
Falando a militantes, foi breve ao abordar o mensalão.
"Nunca enfrentamos uma crise
como a que se abateu sobre nós.
A oposição aproveitou-se de algumas condutas equivocadas
para generalizar culpas e tentar
destruir o partido mais autenticamente popular do Brasil."
Coube a José Alencar puxar
ontem o coro "Fora FMI" da
militância petista. "Nos nossos
comícios de antigamente, vocês não me conheciam, mas eu
estava no meio do povo, e nós
ajudávamos a gritar "Fora daqui, o FMI'", afirmou Alencar.
Em seguida, os petistas repetiram as palavras de ordem.
"Nunca estivemos tão preparados para crescer como estamos", disse o vice.
(VALDO CRUZ, KENNEDY ALENCAR, EDUARDO SCOLESE, VERA MAGALHÃES, FERNANDA KRAKOVICS e FÁBIO ZANINI)
Colaborou a Reportagem Local
NA INTERNET - Leia a íntegra do
discurso de Lula na convenção
www.folha.com.br/061753
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