São Paulo, quinta, 25 de junho de 1998

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PRIVATIZAÇÃO
Em depoimento na Câmara, Mendonça de Barros aceita debater preço mínimo com parlamentares
Ministro vai discutir Telebrás com oposição

Folha Imagem
O ministro Luiz Carlos de Barros (Comunicações)


FERNANDO GODINHO
CRISTIANA NEPOMUCENO
da Sucursal de Brasília

O ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, concordou ontem em discutir com a oposição os critérios de avaliação do Sistema Telebrás, cuja privatização está marcada para o próximo dia 29 de julho.
O compromisso foi assumido pelo ministro durante debate na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados. Ele descartou a possibilidade de marcar uma nova data para o leilão.
O preço mínimo da participação da União na estatal foi estabelecido em R$ 13,47 bilhões. As oposições vêm criticando esse valor, que dizem ser muito baixo. Ao responder ao deputado João Paulo (PT-SP), que sugeriu a discussão sobre o preço mínimo da Telebrás com a oposição, Mendonça de Barros concordou com a proposta e sugeriu que ele forme uma comissão técnica.
"Irei recebê-los no meu gabinete. Aguardo ansiosamente um estudo sobre as avaliações feitas pelo governo", respondeu o ministro.
O debate na comissão durou quase seis horas. Ao final, o ministro disse ter ficado "decepcionado", pois esperava que as oposições apresentassem estudos contestando as avaliações feitas pelo governo. "Não vi nenhuma linha escrita sobre esse assunto."

Demissão
Mendonça de Barros passou grande parte do debate atacando as oposições e respondendo às acusações de que o preço mínimo da Telebrás está subavaliado.
Ele revelou que chegou a pensar em se demitir do cargo quando essas acusações começaram a ser feitas pelo ex-governador do Rio Leonel Brizola (PDT).
"Fui ao presidente e fiz chegar a ele essa minha revolta. Cheguei a cogitar pedir demissão e ir me defender como cidadão. Mas ele me autorizou a responder às críticas como ministro."
"Meu nome é muito respeitado. Tenho uma mãe de 74 anos que não tem a obrigação de ouvir esse tipo de coisas sobre o filho dela."
Ao final do debate, o ministro disse que esperava um "linchamento" da oposição. Para ele, isso não aconteceu porque ele seguiu um conselho do presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
"O senador me deu um conselho antes desse debate: o importante é as pessoas serem respeitadas, e não amadas".
Durante todo o debate, o ministro das Comunicações se manteve na ofensiva. Em nenhum momento ele aceitou os argumentos da oposição sobre o preço mínimo da Telebrás, afirmando que não havia estudos contrapondo as avaliações feitas pelo governo.
"Brigar com gente ignorante é muito difícil para mim", afirmou durante o debate.
O deputado Walter Pinheiro (PT-BA) exigiu uma retratação e o ministro disse que não estava se referindo ao parlamentar.
"Tenho maior respeito ao seu partido e ao Congresso", disse Mendonça de Barros. "Acho que o senhor tem legitimidade para discutir", completou, afirmando que não reconhecia a legitimidade do PDT para o debate.
Um único parlamentar do PDT -o vice-líder Sérgio Carneiro (PDT)- apareceu ao final do debate para protestar contra as declarações do ministro.
Mendonça de Barros foi auxiliado por uma tropa de choque de deputados governistas. Eles disseram que as críticas à privatização da Telebrás escondem interesses eleitoreiros.



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