São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ DÍVIDA DE CAMPANHA

Secretário-geral do partido diz que não pagará dívida com Marcos Valério; Tarso Genro aconselha publicitário a recorrer à Justiça

PT não vai aceitar extorsão, diz Berzoini

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O comando do PT reafirmou ontem que não pagará os R$ 93 milhões que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza diz ter repassado ao partido para despesas de campanha. Afirmando que não vai polemizar -"Não vou repetir o que já disse"-, o secretário-geral do partido, Ricardo Berzoini, reiterou que o PT só reconhece como dívida "o que está contratado" e "Marcos Valério não aparece como credor".
"Imagine se o PT vai aceitar extorsão", reagiu Berzoini, que, no sábado, desafiou o empresário a dizer o que sabe após a entrevista de Marcos Valério à Folha, na qual acusou o partido de tentar lhe aplicar um calote e avisou que desembarcará em Brasília com "quilos de documentos".
Deixando "para a Justiça e às autoridades a tarefa de qualificar seu comportamento [se é chantagem ou não]", o presidente do PT, Tarso Genro, disse ser "importante que ele [Marcos Valério] entre na Justiça" para reaver o dinheiro. Assim, será possível "saber a natureza, a origem e o montante" de recursos obtidos numa "estrutura paralela de arrecadação".
Segundo Tarso, o volume de recursos deve superar R$ 160 milhões. Mas ainda não é possível quantificar essa "dívida ilegal". Ele chega a dizer que Marcos Valério "estará dando uma contribuição para a renovação do partido e uma ajuda ao país", caso revele como ele e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares operavam para financiar campanhas. "O Valério deve dizer efetivamente tudo o que aconteceu."
O presidente do partido diz não temer a aparição de evidências contra outros petistas. "Não tenho o mínimo interesse em quem vai bater. Se ele tem provas, ele deve incriminar ou apontar irregularidades em qualquer pessoa, seja do PT ou não. Temos que passar a limpo essa questão."
Líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), diz que a entrevista de Marcos Valério "foi paradoxal" porque, "ao mesmo tempo em que ele rejeita a idéia de ser um chantagista, ele fala que tem documentos e pode "detonar" muita gente".
"Está nítida a ameaça", conclui Chinaglia. Para ele, "nessa altura do campeonato, não há explicações, nem discurso, muito menos ameaças. A investigação será conduzida pelos fatos".
"Não creio que haja qualquer possibilidade, caso alguém queira, de ficar escondendo alguma coisa. Então, foi uma reação irada dele", disse Chinaglia: "Se disser o que sabe, cumprirá o papel dele".
Quanto à dívida, Chinaglia recomenda que cobre "de seus interlocutores" no partido. "Só ele sabe que compromissos foram assumidos."
Mais uma vez, Tarso avisou que o partido não pagará o que é reclamado por Valério. "Não se trata de uma vendeta, nem provocação", ressalta. Mas "as dívidas que não foram autorizadas não são dívidas do partido. Se pagarmos, estaremos cometendo uma ilegalidade", argumenta.
"Tem dois tipos de gestão temerária: a que contrai dívida sem autorização estatutária e dos órgãos internos do partido e a de quem paga as dívidas que não são legais." Manifestando-se indiferente às ameaças, Tarso diz que as revelações do empresário poderão ajudar a diagnosticar os métodos usados pelo partido. "O Valério, para nós, é uma figura secundária. O que interessa saber é qual é o trabalho entre aspas que o Delúbio desenvolveu."
A maratona imposta pela crise do "mensalão" leva os petistas à exaustão. Ex-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP) não quis comentar, alegando que reservou o fim de semana para a família. "Não li [a entrevista], não quero saber. Vou ler na terça-feira", afirmou.


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