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ENTREVISTA
Partido pode se recuperar da crise, diz especialista
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Depois de estudar por anos um
dos maiores partidos da América
Latina, a historiadora Wendy
Hunter, 45, professora do Departamento de Governo da Universidade do Texas (EUA), escolhe o
silêncio para responder se acredita na sobrevivência do PT depois
de tantas suspeitas de corrupção.
Depois de refletir, ela aposta que
o partido ultrapassará as dificuldades, mas diz que talvez seja o
caso de desistir das eleições presidenciais do ano que vem.
Autora de "Reduzindo a Influência Militar no Brasil: Políticos contra Soldados", Hunter foi
surpreendida pelas denúncias do
"mensalão" durante a elaboração
de um livro sobre o PT, e decidiu
escrever um novo capítulo contando o caso.
PhD em ciência política pela
Universidade de Berkeley (Califórnia), ela atribui parte da crise
ao sistema político brasileiro, lamenta a falta de aliança entre PT e
PSDB e classifica de "depressivo e
desapontador" o impacto das suspeitas na democracia do país. Leia
abaixo trechos da entrevista por
telefone e e-mail na sexta-feira:
Folha - Qual foi a sua reação ao
saber das suspeitas contra o PT?
Wendy Hunter - Fiquei realmente surpresa pelo alcance e extensão das denúncias, e também porque o PT criou uma reputação de
ser um dos partidos mais éticos
da política brasileira. Mas, por outro lado, não foi tão chocante. O
PT possui menos de 20% das cadeiras no Congresso e precisa da
maioria para aprovar as leis. O
problema foi ter adotado as práticas de buscar apoio por recompensas materiais. Isso provocou
uma mudança no perfil do PT.
Folha - Que mudança foi essa,
exatamente?
Hunter - O PT está mais parecido
com qualquer outro partido no
Brasil. No governo, não fez nada
diferente para implementar uma
melhor distribuição de renda, por
exemplo. E agora as acusações de
corrupção fizeram o partido perder o que o tornava diferente.
Folha - A corrupção é uma questão do sistema?
Hunter - A menos que seja feito
algum tipo de reforma política, o
problema tende a continuar. O
sistema partidário é fragmentado
e as alianças mais importantes
não são ideológicas, mas com base na necessidade política, e os
presidentes precisam construir
coalizões. O ideal seria implementar uma reforma política, mas não
acredito que haverá tempo de o
governo aprovar isso até o final do
mandato do presidente Lula.
Folha - Há a necessidade de alianças, mas não de "mensalão".
Hunter - Certamente. Uma das
alternativas seria distribuir mais
posições no ministério a outros
partidos. Mas então haveria críticas de conseguir apoio com base
na distribuições de cargos. A outra alternativa seria uma aliança
entre o PSDB e o PT. É uma tragédia que isso não tenha acontecido.
Os dois partidos têm visões muito
semelhantes em muitos aspectos.
Mas isso foi enterrado em 1994.
Folha - Como o partido deve agir
em relação ao governo?
Hunter - Um dos cenários possíveis é o PT fortalecer sua presença
no governo e Lula auxiliar a recuperação do partido. Lula também
precisa do apoio do PT, senão vai
precisar ainda mais do apoio de
partidos de centro-direita.
Folha - O partido sobrevive depois dessas suspeitas?
Hunter - (Silêncio) Essa é uma
pergunta muito difícil. (Silêncio)
O partido enfrentou muitas batalhas antes, e, no final, muitos de
seus filiados mostraram solidariedade com o partido, mesmo
quando tinham diferenças de opinião sobre a direção a ser seguida.
E ainda se pode argumentar que é
um dos partidos políticos mais
fortes em termos de organização.
Se algum partido pode sobreviver, provavelmente é o PT.
O que pode ajudar? Voltar ao
tempo de sua estratégia de longo
prazo, com sacrifício no curto
prazo. O PT levou 20 anos para
construir a imagem de partido de
oposição. Poderia ter moderado o
discurso já em 1994, mas manteve
o curso e se estabeleceu como alternativa. Uma estratégia de longo prazo que não buscou sempre
o poder imediato. Talvez seja
tempo de olhar para as lições do
passado, dar um passo atrás e se
reorientar, ainda que isso signifique abandonar a disputa [presidencial] em 2006. Seria a melhor
opção, mas é muito improvável.
Folha - O PT foi eleito com um discurso de mudança e, pela primeira
vez, a esquerda chegou ao poder
no Brasil. Qual o impacto das denúncias para a democracia no país?
Hunter - É muito depressivo e
desapontador.
Folha - Como a senhora descreve
o PT como partido hoje?
Hunter - Depois de chegar ao governo, tornou-se mais pragmático, menos idealista e um partido
maduro.
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