São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2005

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Petistas temem eleições estaduais

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pré-candidatos a governos estaduais que esperavam se eleger no ano que vem na esteira de uma segunda versão da "onda vermelha" de 2002 agora refazem seus planos. Alguns reavaliam a conveniência de disputar a eleição.
No Rio, Vladimir Palmeira diz que continua candidato ao governo, mas se assusta por ser cobrado "o tempo todo" pelos eleitores com que conversa. "O desgaste está dado. Se o PT não mudar a imagem de que quer abafar a investigação, vai piorar", diz.
A preocupação dos petistas é passar uma campanha na defensiva, tendo que dar explicações sobre o comportamento ético do partido em vez de falar de projetos e planos de governo.
Um pré-candidato a governador de um importante Estado, que pede reserva do nome, resume a situação. "Estamos muito pessimistas. Há no partido certa esperança de que a coisa melhore até o ano que vem, porque o Lula permanece popular, mas o sentimento geral é de que os problemas estão só começando."
Outro petista atemorizado, um integrante da Executiva Nacional, afirma que a crise criou uma situação sem saída para o partido. Mesmo que Lula se reeleja, sua base congressual vai se reduzir.
O partido, antes da crise, esperava reeleger o presidente no primeiro turno e pelo menos dobrar o número de governadores, para seis. As bancadas no Congresso ficariam mais ou menos estáveis.
Tal cenário hoje é considerado irreal no partido, segundo a Folha apurou. Avalia-se internamente que a atual bancada de 91 deputados pode cair para cerca de 70.

Mudança de ânimo
A mudança no ânimo de alguns pré-candidatos é visível. Campanhas que já estavam nas ruas agora se retraem. Em abril, o deputado federal petista Rubens Otoni dizia à Folha que estava percorrendo Goiás para construir sua candidatura ao governo. Agora, ele diz que ela não faz necessariamente parte de seu projeto político, embora assegure que a decisão não tenha relação com a crise.
Outro pré-candidato petista que demonstrava entusiasmo há três meses, o deputado estadual Cláudio Vereza, do Espírito Santo, na semana passada não quis atender à reportagem. Estava ocupado reavaliando sua pré-candidatura ao governo, que por enquanto permanece.
Afastado a contragosto do Ministério das Cidades, Olívio Dutra diz que o PT paga o preço de "um certo relaxamento" quanto à ética. "Cometemos erros na relação política, por não termos sido eleitos com maioria congressual. O governo buscou maioria permanente em vez de pontual, em cima de projetos."
Ele é outro que minimiza a possibilidade de disputar um governo, no caso, o gaúcho, embora seja visto como o nome mais forte do partido. "Não é meu projeto."
Apontado como candidato natural do PT ao governo do Distrito Federal, o senador Cristovam Buarque diz não se entusiasmar com a idéia. Ele prevê a perda do dividendo eleitoral que a imagem ética sempre trouxe ao partido.
Em meio ao desalento, o partido tenta se ater a alguns aspectos mais animadores, como a blindagem do presidente apontada por pesquisas recentes. "A crise ocorrer agora é positivo. Temos tempo para trabalhar", diz Olívio.
Já o senador Aloizio Mercadante, pré-candidato ao governo de São Paulo, diz que é cedo para calcular o impacto eleitoral. "Quando veio o caso Waldomiro Diniz [2004], diziam que o PT estava condenado eleitoralmente, e tivemos votação recorde na eleição municipal. É imprevisível."


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