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Fundo favoreceu bancos, diz auditoria
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL O RIO
Uma mega auditoria feita no
fundo de pensão Nucleos (dos
empregados das empresas estatais da área nuclear) apontou 30
indícios de irregularidades na entidade já no governo Lula. A Folha teve acesso ao relatório confidencial da auditoria. Nove auditores cedidos pelas estatais Eletronuclear, Nuclep e INB (Indústrias
Nucleares do Brasil) e pela Petrobras participaram da empreitada.
O Ministério das Minas e Energia determinou a abertura de inquérito administrativo. A comissão foi constituída, na semana
passada, com representantes da
Eletrobrás, Nuclep e INB.
A auditoria cobriu o período de
agosto de 2003 a dezembro de
2004. A direção do Nucleos apresentou defesa a todas as irregularidades apontadas, mas o relatório final manteve as acusações.
A Eletronuclear, uma das patrocinadoras do fundo, foi excluída
da comissão de sindicância supostamente em razão de o presidente da estatal, Paulo Figueiredo, (licenciado do PC do B) ter
presidido o Nucleos até abril.
Para os auditores, há indícios de
que a direção do Nucleos nomeada pelo governo Lula, e que foi
empossada em agosto de 2003, tenha favorecido aos bancos Pactual e Industrial, contratados como gestores dos investimentos.
Em dezembro de 2003, a diretoria contratou o Pactual para administrar dois fundos de investimentos exclusivos da fundação
-o Urânio, de renda fixa, e o Titânio, de renda variável- que somavam R$ 96 milhões.
O dinheiro aplicado nos fundos
correspondia a 21% do patrimônio líquido da fundação. Posteriormente, em 2004, o Pactual foi
substituído pelo Banco Santos,
cuja liquidação causou perda de
R$ 7 milhões ao fundo de pensão.
Segundo a auditoria, o Pactual
tinha sido destituído pela direção
anterior, em setembro de 2003, do
papel de gestor em renda fixa por
ter apresentado ""a pior rentabilidade" acumulada naquele ano.
O Banco Industrial, por sua vez,
foi contratado para administrar o
fundo de renda variável Zurcônio,
com R$ 97,48 milhões de capital.
No final de 2004, esse fundo acumulava perdas de 21,66%, basicamente em razão de aposta errada
no mercado de opções.
Apesar do péssimo resultado do
Zircônio, em 2004, o Banco Industrial manteve-se como gestor
do fundo até julho deste ano,
quando foi substituído pelo Bradesco. O relatório da auditoria inclui a demora na substituição entre as irregularidades apontadas.
Dono de um patrimônio de R$
480 milhões, em valores atualizados, o Nucleos é um fundo de
pensão estatal de pequeno porte,
mas mergulhou numa crise interna gigantesca desde que, em junho último, o petista Neildo de
Souza Jorge, do Conselho Deliberativo, passou a acusar o ex-secretário de Comunicação do PT,
Marcelo Sereno, de manipular o
fundo de pensão.
Em entrevista à Folha, em julho,
o conselheiro disse que teria sido
montado um esquema de arrecadação de recursos, supostamente
para o PT, a partir da terceirização
de investimentos. A direção do
Nucleos, bem como Marcelo Sereno, contestaram a declaração
do conselheiro, na época.
A taxa média de rentabilidade
apresentada pelo Nucleos no ano
passado ficou em 5,98% (abaixo
da caderneta de poupança), e não
atingiu sequer metade da meta
atuarial, de 12,51% ao ano.
Grande parte do relatório da auditoria é dedicada ao exame da
política de terceirização de investimentos e dos resultados das
aplicações financeiras, mas os auditores não fazem referência ao
suposto esquema apontado em
julho pelo conselheiro.
Os auditores criticam a fragilidade dos mecanismos de controle
do Nucleos, e recomendam a revisão do modelo adotado, que, segundo eles, deixou o fundo mais
exposto a risco.
No final de 2003, para dar impulso à política de terceirização da
gestão dos investimentos, o Nucleos vendeu títulos públicos, de
baixo risco, que eram geridos por
ele, para aplicar em fundos de
renda variável administrados por
terceiros. Para os auditores, faltou
prudência na decisão. O Zircônio,
sob gestão do Banco Industrial,
perdeu R$ 7,1 milhões em operações no mercado de opções.
Rodovia Rio-Teresópolis
Segundo os auditores, o Nucleos descumpriu norma do Conselho Monetário Nacional ao se
tornar o único cotista do fundo
CRT, acionista do consórcio de
empreiteiras que explora a rodovia Rio-Teresópolis, no Rio, por
concessão da União. O fundo de
pensão investiu R$ 10,3 milhões
em cotas do fundo CRT, no pressuposto de que outros fundos
participariam do investimento, o
que não ocorreu. Ele tem 100%
das cotas, quando o limite admitido legalmente é de 25%.
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