São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

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Fundo favoreceu bancos, diz auditoria

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL O RIO

Uma mega auditoria feita no fundo de pensão Nucleos (dos empregados das empresas estatais da área nuclear) apontou 30 indícios de irregularidades na entidade já no governo Lula. A Folha teve acesso ao relatório confidencial da auditoria. Nove auditores cedidos pelas estatais Eletronuclear, Nuclep e INB (Indústrias Nucleares do Brasil) e pela Petrobras participaram da empreitada.
O Ministério das Minas e Energia determinou a abertura de inquérito administrativo. A comissão foi constituída, na semana passada, com representantes da Eletrobrás, Nuclep e INB.
A auditoria cobriu o período de agosto de 2003 a dezembro de 2004. A direção do Nucleos apresentou defesa a todas as irregularidades apontadas, mas o relatório final manteve as acusações.
A Eletronuclear, uma das patrocinadoras do fundo, foi excluída da comissão de sindicância supostamente em razão de o presidente da estatal, Paulo Figueiredo, (licenciado do PC do B) ter presidido o Nucleos até abril.
Para os auditores, há indícios de que a direção do Nucleos nomeada pelo governo Lula, e que foi empossada em agosto de 2003, tenha favorecido aos bancos Pactual e Industrial, contratados como gestores dos investimentos.
Em dezembro de 2003, a diretoria contratou o Pactual para administrar dois fundos de investimentos exclusivos da fundação -o Urânio, de renda fixa, e o Titânio, de renda variável- que somavam R$ 96 milhões.
O dinheiro aplicado nos fundos correspondia a 21% do patrimônio líquido da fundação. Posteriormente, em 2004, o Pactual foi substituído pelo Banco Santos, cuja liquidação causou perda de R$ 7 milhões ao fundo de pensão.
Segundo a auditoria, o Pactual tinha sido destituído pela direção anterior, em setembro de 2003, do papel de gestor em renda fixa por ter apresentado ""a pior rentabilidade" acumulada naquele ano.
O Banco Industrial, por sua vez, foi contratado para administrar o fundo de renda variável Zurcônio, com R$ 97,48 milhões de capital. No final de 2004, esse fundo acumulava perdas de 21,66%, basicamente em razão de aposta errada no mercado de opções.
Apesar do péssimo resultado do Zircônio, em 2004, o Banco Industrial manteve-se como gestor do fundo até julho deste ano, quando foi substituído pelo Bradesco. O relatório da auditoria inclui a demora na substituição entre as irregularidades apontadas.
Dono de um patrimônio de R$ 480 milhões, em valores atualizados, o Nucleos é um fundo de pensão estatal de pequeno porte, mas mergulhou numa crise interna gigantesca desde que, em junho último, o petista Neildo de Souza Jorge, do Conselho Deliberativo, passou a acusar o ex-secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno, de manipular o fundo de pensão.
Em entrevista à Folha, em julho, o conselheiro disse que teria sido montado um esquema de arrecadação de recursos, supostamente para o PT, a partir da terceirização de investimentos. A direção do Nucleos, bem como Marcelo Sereno, contestaram a declaração do conselheiro, na época.
A taxa média de rentabilidade apresentada pelo Nucleos no ano passado ficou em 5,98% (abaixo da caderneta de poupança), e não atingiu sequer metade da meta atuarial, de 12,51% ao ano.
Grande parte do relatório da auditoria é dedicada ao exame da política de terceirização de investimentos e dos resultados das aplicações financeiras, mas os auditores não fazem referência ao suposto esquema apontado em julho pelo conselheiro.
Os auditores criticam a fragilidade dos mecanismos de controle do Nucleos, e recomendam a revisão do modelo adotado, que, segundo eles, deixou o fundo mais exposto a risco.
No final de 2003, para dar impulso à política de terceirização da gestão dos investimentos, o Nucleos vendeu títulos públicos, de baixo risco, que eram geridos por ele, para aplicar em fundos de renda variável administrados por terceiros. Para os auditores, faltou prudência na decisão. O Zircônio, sob gestão do Banco Industrial, perdeu R$ 7,1 milhões em operações no mercado de opções.

Rodovia Rio-Teresópolis
Segundo os auditores, o Nucleos descumpriu norma do Conselho Monetário Nacional ao se tornar o único cotista do fundo CRT, acionista do consórcio de empreiteiras que explora a rodovia Rio-Teresópolis, no Rio, por concessão da União. O fundo de pensão investiu R$ 10,3 milhões em cotas do fundo CRT, no pressuposto de que outros fundos participariam do investimento, o que não ocorreu. Ele tem 100% das cotas, quando o limite admitido legalmente é de 25%.


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